quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Copo de Água


Nossas vidas estão sempre variando entre felicidade e infelicidade, ou algumas vezes entre felicidade relativa e infelicidade relativa. Ela está se transformando, mudando, e nós ansiamos por um alicerce, uma base de paz e estabilidade. Isso é natural, mas a maior parte de nós passa a vida procurando, procurando , procurando, pela base que nunca encontramos. Podemos achá-la?Sim - se nós compreendermos e lidarmos com o problema envolvido. Até que façamos isso, nós procuramos por uma alicerce fora de nós mesmos, nós buscamos com esperança por uma pessoa ou situação ou sistema de crença que irá nos suprir com o que nós acreditamos que nos falte. As ilusões de amor romântico, do trabalho ou parceiro perfeito, tudo acenando para nós como se fosse a Sereia de Odisseu. Se nós não entendermos, de tempos em tempos, nosso pequeno barco irá espatifar-se nas rochas ocultas. Mas o outro lado de tais desgraças é o amanhecer, o início do reconhecimento de que cada episódio dura na vida pode ser nosso verdadeiro professor, cada dificuldade é, tal como um sutra diz, "o Buda que vem para nos saudar". Nós acordamos lentamente para o conhecimento de que a base espiritual que procuramos não é uma vida para além da desgraça e da dor, mas o abraço entre a desgraça e a dor à medida que eles ocorrem. Se nós quisermos beber de uma água refrescante (da vida), nós não podemos separar as moléculas que nós achamos que serão agradáveis e saborosas para nós. Se fizéssemos (ou pudéssemos)nós não estaríamos bebendo água mas uma monstruosidade de nossa própria criação. De forma similar, se nós recusarmos a experiência direta, e algumas vezes dolorosa, deste momento, nós somos deixados cozinhando em fogo lento em nossa confusão de pensamentos de censura, crítica, julgamento ou fuga. Para conhecer a totalidade da vida, temos de beber todo o copo de água, temos que vivenciar a experiência do momento como ele é, não a versão distorcida dele que minha mente pode engendrar. Uma vez que o copo inteiro não é nada mais do que a totalidade de cada momento - inevitável, sempre presente - quando nós estamos dispostos a vivenciar a experiência de nosso medo e dor diretamente, a totalidade (a base, o alicerce) de nossa vida é revelada como o milagre que é. Simples, sim. Fácil, não. Para a maioria de nós, esta é uma prática para toda uma vida. Entretanto, a base (sempre lá) é mais e mais conhecida para nós como estando lá. A boa vida.

Charlotte Joko Beck -
tradução para português de Mara Heleosina Ribeiro Pessôa.

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