Um homem tropeçou numa pedra e isso o deixou extremamente irritado. A causa do tropeço foi a pedra. Portanto, a causa da raiva e da infelicidade que surgiram como resultado do tropeço era totalmente exterior àquele homem. Se não houvesse uma pedra no caminho, ele não teria tropeçado; logo, não teria havido raiva ou infelicidade.
Esta lógica parece bastante correta. No entanto, muitas outras pessoas passam pelo mesmo caminho. Algumas tropeçam na pedra; outras não. Aquelas que vêem o obstáculo são capazes de evitá-lo.
Portanto, a causa da raiva e da infelicidade está realmente no homem que não viu a pedra. Ele próprio é a causa do problema, porque não viu ou foi capaz de ver a pedra. Um homem que observa e tem cuidado não tropeça. Portanto, a causa do problema é a desatenção, a cegueira e a ignorância.
Esta análise mostra a diferença entre uma pessoa religiosa e uma não-religiosa. A pessoa religiosa, do ponto de vista budista, sempre vê a causa de infelicidade ou a causa da felicidade, assim como o cientista investiga a causa das coisas. A religião começa com a introspecção. Sem introspecção não há religião. O budismo ensina a verdade da vida e do mundo, e as causas das misérias e problemas da vida. Ele nos ensina o modo de compreender, enfrentar e transcender as misérias e problemas humanos.
Existem, na nossa vida, muitos problemas nos quais tropeçamos. O homem tropeça numa pedra, fica furioso por ter encontrado uma pedra no meio da estrada e culpa alguém por tê-la posto ali. Outro se deixa enganar e culpa aquele que o enganou; mas alguns nunca são enganados, por mais que os outros tentem enganá-lo. Uma pessoa sábia e alerta não se deixa enganar. Os indivíduos crédulos e os ávidos são enganados facilmente. Vemos, assim, que a causa da decepção está na pessoa que é enganada e não naquela que tenta enganá-la. O marido acredita que a esposa é a causa de sua infelicidade, e a mulher, por sua vez, acha que o marido é a causa dos seus problemas. Este é um típico modo de pensar moderno; sempre olhar para fora e culpar as coisas ao redor. Talvez haja aí a influência da moderna visão materialista da vida. A matéria é tudo para o materialista que não tem tempo para pensar naquilo que ele próprio é. Ele sempre olha à sua volta, mas nunca olha para dentro de si mesmo.
Imaginemos, por exemplo, que eu tropecei numa pedra. O eu é o fator mais importante dessa frase. Está dito no Dhammapada:
Tudo o que somos é o resultado
daquilo que pensamos,
está baseado em nossos pensamentos,
é feito dos nossos pensamentos,
Se um homem fala ou age com
pensamento puro, a felicidade o segue
como uma sombra que nunca o abandona.
Ele me enganou, ele me bateu,
Ele me derrotou, ele me roubou.
Naquele que não abriga tais pensamentos
o ódio deixará de existir.
Fonte: Budismo Essencial, A Arte de Viver o Dia-a-Dia - Gyomay Kubose
Obrigada por essas palavras Sodô.
ResponderExcluirGasshô.
Rosana.