O eu é a raiz dos venenos mentais. Nosso espírito fabrica, projeta e liga conceitos sobre as pessoas e os objetos. A fixação egocêntrica reforça as qualidades ou os defeitos que atribuímos ao outro. O resultado é uma solidificação do corte entre eu e não eu, meu e não meu. As coisas, que nós percebemos como separadas, são na realidade ligadas. Mas nosso eu as aparta. Enquanto estivermos na ignorância e não tivermos experimentado a ausênbcia de realidade do eu, nosso espírito acreditará em sua solidez. Dar-se conta da ausência de existência inerente ao eu é um antídoto eficaz contra a fixação egocêntrica, e é o objeto do ensinamento na vida do Buda.
Sob o efeito da atração e do desejo, o espírito se funde e se liga ao objeto de sua preensão. O desejo de posse é muito poderoso, ele cristaliza o apego ao eu e ao meu. Sentimos repulsa pelo que nos prejudica e essa repulsa vai se tranformar em ódio, depois em desordem do espírito; em palavras ofensivas, em violência. Essas emoções negativas são a causa de má saúde. Estudos médicos mostram que as pessoas que mais utilizam na liguagem da vida corrente a palavra eu, mim ou meu são mais sujeitas do que outras a doenças cardíacas. Na raíz das emoções negativas encontram-se, portanto, o eu e a crença na solidez das coisas. Precisamos nos esforçar para dissipar essa crença em níveis cada vez mais sutis.
Educar nossa vida emocional representa um trabalho de muitas dezenas de anos para remediar sentimentos negativos que se tornaram o estado normal de nosso espírito. Pois nunca procuramos saber quem nós somos de verdade. A reificação do eu e dos fenômenos cria o corte entre sujeito e objeto. Quando se dissipa a crença na realidade do eu e do mundo, descobre-se que mesmo a sabedoria é desprovida de existência própria. Evidentemente, isso corresponde a uma etapa avançada na via.
Dalai - Lama
Minha autobiografia espiritual.
Ed. Bertrand Brasil
Disponível na Biblioteca da Sangha ZenPlanalto
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