23) Mais um ano termina;
Os céus mandam uma geada dura de agüentar.
Folhas caídas cobrem as montanhas
E não mais existem viajantes que projetam sombras no caminho.
Noite sem fim: folhas secas queimam lentamente na lareira.
Por vezes, o som da chuva gelada.
Tonto, tento me lembrar do passado -
aqui nada posso encontrar senão sonhos.
24) Sonho leve, aquilo que acontece com todos os idosos:
Cochilando, sonhos da tarde, acordando novamente
O fogo da lareira brilha; durante toda a noite uma chuva constante
Bate na bananeira.
Agora é quando quero compartilhar meus sentimentos -
Mas ninguém há por perto para tal.
25) Jogamos uma bolinha de lá para cá e para lá.
Não quero ficar me gabando de minha habilidade, mas...
Se alguém vier me perguntar do segredo de minha arte, eu lhe digo,
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete!
26) Sozinho, passando pelas montanhas,
Eu esbarrei num eremitério abandonado.
As paredes despencaram, e ali se tornou apenas uma trilha para coelhos e raposas.
O poço, perto de uma touceira de velhos bambus, se encontra seco.
Teais de aranha cobrem um esquecido livro de poemas que se queda debaixo de uma janela.
A poeira está empilhada no chão,
As escadas completamente ocultas pelos matos selvagens.
Grilos perturbados por minha visita inesperada, gritam assustados.
Olhando para cima, vejo o sol que se põe - solidão insuportável.
27) As vicissitudes deste mundo são como os movimentos das nuvens.
Cinqüenta anos de vida nada mais são que um sonho comprido.
Chuva esparsa: Em minha cabaninha desolada à noite,
Resignadamente me aperto contra meu manto e me encosto contra a janela vazia.
28) Dia após dia,
As crianças brincam pacificamente com este velho monge.
Sempre com duas bolas de reserva em minhas mangas
Acho que bebi demais - tranqüilidade de primavera!
29) Mestre Zen Ryokan!
Como um tolo, como um idiota,
Corpo e mente completamente abandonados!
Mestre Ryokan
Fonte: Flor do Vazio - Inverno, 2000 - Ano5, Vol 1
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