18) A comprida noite do inverno! A comprida noite do inverno parece ser sem fim;
Quando raiará o dia?
Não há chama na lâmpada nem carvão na lareira;
Deitado na cama, ouvindo o som da chuva gelada.
Para um velho, os sonhos vem facilmente;
Eu deixo que meus pensamentos fluam.
O quarto está vazio e tanto a cachaça quanto o óleo acabaram -
Na longa noite de inverno.
Quando eu era criança estudando numa sala vazia,
Mais de uma vez enchi a lâmpada com óleo.
Até mesmo hoje em dia, esta tarefa é deveras desagradável - na longa noite de inverno.
19) Montanhas verdes na frente e atrás,
Brancas nuvens ao leste e oeste.
Mesmo que me encontrasse com um viajante companheiro,
Não lhe poderia fornecer quaisquer informações.
20) Fundo nas montanhas à noite, sozinho em minha pequena cabana,
Ouço o melancólico som da chuva e da neve.
Um macaco grita em cima de uma montanha;
O som do rio no vale sumiu.
Uma luzinha rebrilha em frente à janela;
Na escrivania, a água na pedra de tinta secou.
Incapaz de dormir durante toda a noite,
Preparo tinta e papel, e escrevo este poema.
21) Inverno - no décimo primeiro mês
A neve cai grossa e rápida.
Mil montanhas, uma só cor.
Pessoas do mundo que por aqui passam são poucas.
O capim espesso esconde a porta.
Toda a noite em silêncio, umas poucas lascas de madeira queimam vagorosamente
Enquanto leio poemas dos velhos mestres.
22) Solidão: a primavera já se passou.
Silêncio: Tranco o portão.
Dos céus, a escuridão; a trepadeira já não floresce mais.
As escadas estão cheias de ervas daninhas
E o saco de arroz está dependurado na cerca.
Tranqüilidade profunda, há muito tempo isolado do mundo.
Durante toda noite canta o cuco.
Mestre Ryokan
fonte: Flor do Vazio - Inverno, 2000- Ano 5-Vol1
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