terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Ouvir a voz do vale


     A água do rio flui sempre, sem cessar. Flui rápida, não pára um só instante e se vai. Seu murmúrio evoca em mim o eco do tempo.
      A água do tempo brilha no leito do Universo, sempre correndo, fluindo. Pedras, árvores, casas e cidades também fluem vagorosamente nesta correnteza, assim como os pensamentos, as civilizações, nossas vidas e a vida de todos os seres. Tudo isso pode parecer imutável, mas na verdade essa idéia não passa de uma ilusão.
     Apenas nós seres humanos, acreditamos erroneamente que tudo é imutável. Esforçamo-nos para não sermos levados pela correnteza, e lamentamos por tudo que se vai. No entanto, mesmo sofrendo e desdobrándo-nos para evitar, caindo sete vezes e nos levantando oito, não há como parar o fluir, que envolve também nossa dor e nossa luta.
     Ao invés disso, é melhor ver as coisas como são e nos juntarmos a essa correnteza, com suavidade. Apenas assim poderemos encontrar prazer na fugacidade das coisas, uma vez que é justamente essa fugacidade que tece as mais diversas figuras na tapeçaria da vida.
...
     Se escutarmos o rio sem atenção, a água que core parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d'água passa duaz vezes sobre a mesma pedra. Não é nunca a mesma gota que forma o leito do rio ou o murmúrio da corenteza. A imutabilidade é apenas uma ilusão dos olhos e dos ouvidos humanos. Uma ve que tenha passado, a água não corre nunca mais no mesmo ponto do rio.
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Shundo Aoyama Rôshi - "Para uma pessoa bonita"

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