domingo, 17 de maio de 2009

Propósito sem propósito

Nosso modo de vida na cultura americana é orientado para objetivos e propósitos. Se não há um propósito em algo, julgamo-lo inútil.Na vida moderna de hoje, uma ação sem propósito é considerada sem sentido.
...
Além do ter propósito há um outro lado da vida: o não ter propósito.Ambos os aspectos são verdadeiros. Ter propósito adapta-se bem à nossa sociedade materialista; de modo a realizar coisas, devemos ter um propósito. Ainda assim, a via do não propósito é também uma bela via: as flores desabrocham, o pássaro canta, uma criança brinca. Um biólogo pode contestar dizendo que uma flor desabrocha a fim de atrair os insetos que espalharão o pólen. Mas a flor em si nada pode fazer senão simplesmente desabrochar - não há intenção. A vida em si não tem propósito. A água flui sem esforço. Nada pode fazer senão fluir - esse é o modo como ela é. O esforço sem esforço, o propósito sem propósito, esse é o real caminho de vida. Embora nada possa ser conseguido sem esforço, o modo buddhista é um esforço sem esforço.
Quando você ama, ama. Não há propósito. Por que buscamos um significado? É claro que em nossa vida social damos "significados" às coisas e eventos; mas, com relação à essência da vida, ela simplesmente é. Se desde o começo fazemos algo com propósito e significado, então isto se torna muito rígido. Significados e razões podem ser atribuídos mais tarde, mas fazer é o propósito em si. Se continuamente vivemos em meio a uma atividade proposital e dirigida, logo nos sentiremos pressionados e o "devemos" entra em nossa vida. Não há naturalidade. Esse é o real motivo do Buddha ter ensinado que a essência da vida simplesmente é, como é.
Deveríamos aprender o modo de vida sem propósito - o fazer sem propósito. Uma pessoa utilitarista diria: "Isto não tem sentido!" Entretanto, o não-sentido é importante na vida. Inteligência demais ou eficiência demais podem causar problemas. Assim, devemos aprender a não-inteligência, que é a superinteligência.
A verdadeira vida não tem propósito. Compreender essa verdade da vida é Buddhismo. Num certo sentido isto é um propósito; de outro lado, é sem propósito. A vida é sempre assim; é inclusiva. Se a analisamos, ela se torna duas, mas a realidade é sempre uma. Aqui e agora - tempo e espaço - esse exato ponto é totalmente inclusivo. Somente quando analisamos, temos direções diferentes. A verdadeira realidade é natural e sem propósito.
Por que não desfrutar da naturalidade da vida? O fazer em si é o fruto final. Nesse estado tudo é calmo. Esse é o estado do significado sem significado. Não tem sentido e, ainda assim, de uma outra perspectiva, possui um tremendo sentido. É a própria vida. Quando alguém simplesmente é, esquece todas as outras coisas, esquece o ego. É dito: "Aprender o Buddhismo é conhecer a si mesmo. Conhecer a si mesmo é esquecer-se de si mesmo". Apenas se é. Esse estado é naturalidade perfeita. Um estado de significado sem significado e propósito sem propósito. Isto é o que o Buddha ensinou.


Sensei Gyomay Kubose
Fonte: O Centro Dentro de Nós - Ed. Nalanda

Nenhum comentário:

Postar um comentário