domingo, 2 de agosto de 2009
Ouvir a Voz do Vale (3)
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"Quando o shijo anuncia o inicio do zazen e tudo está silêncio, a voz do rio é alta e clara. Durante a caminhada kinhin, seu som se atenua. E ao final da meditação, ao som do chukai, a voz do vale desaparece completamente. É muito interessante. Por que será? o som do rio do vale aumenta,diminui, desaparece, mas não é o rio que muda. Quando as ondas de nosssa mente se acalmam, podemos ouvir o sermão sem palavras da água, das gotas, da erva, das árvores, dos seixos e das montanhas nos ensinando a transitoriedade do todas as coisas. Quando surgem pensamentos, todos se calam. Na verdade, eles não deixam de falar; nós é que perdemos a capacidade de ouvi-los.
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Se escutarmos o rio sem atenção, a água que corre parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d' água passa duas vezes sobre a mesma pedra. Não é nunca a mesma gota que forma o leito do rio ou o murmúrio da correnteza. A imutabilidade é apenas uma ilusão dos olhos e dos ouvidos humanos. Uma vez que tenha passado, a água não corre nunca mais no mesmo ponto do rio.
A vida humana não é diferente. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade. São nossas mentes e nossos olhos deludidos que vêem o passado igual ao presente. Os olhos iluminados vêem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que um instante é diferente de qualquer ouro."
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"Para uma pessoa bonita" - Shundo Aoyama Rôshi - Ed. Palas Athena
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