terça-feira, 3 de novembro de 2009

Estado Superior e Bondade Suprema (3)

Depois de analisar a fundo
Todos os feitos do corpo, fala e mente,
Aquele que realiza o que é benéfico para si
E para outros, e sempre pratica, é sábio.

Não matar, não mais roubar,
Respeitar a mulher do próximo,
Abster-se completamente da fala mentirosa,
Ríspida, indiscreta e que causa desavença.

Abandonar a cobiça, as intenções
Nocivas e as opiniões de niilistas
Tais são as dez brancas sendas de ação,
Sendo negros os seus opostos.

Não beber substâncias inebriantes,
Ter meios de vida honestos, não prejudicar,
Levar em conta o dar, honrar o honorável
E amar — é isto em suma, a prática.

Prática não significa
Mortificar o corpo,
Pois isso não deixa de causar dano
A outros e tampouco os ajuda.

Aquele que não estima a senda do Dharma excelente —
Radiante de ética, generosidade e paciência —
Injuria seu corpo e envereda
Por falsos caminhos como atalhos da floresta;

Emaranhando seu corpo em viciosas
Aflições, ele adentra por um longo tempo
Na pavorosa floresta da existência cíclica,
Em meio a árvores de seres sem fim.

Uma vida curta decorre do matar;
Muita aflição, do dano cometido;
Poucos recursos, do roubar;
Inimigos, do adultério.

Da mentira deriva a calúnia;
Da difamação, a desunião de amigos;
Da rispidez, o ouvir desagradável;
Da tagarelice, a perda de respeito pelo que se diz.

A cobiça destrói as aspirações do homem;
Intenção nociva gera temor;
Idéias errôneas conduzem a más opiniões
E beber, à confusão da mente.

Do não dar resulta a pobreza;
Do errado meio de vida, a fraude;
Da arrogância, uma linhagem ruim;
Do ciúme, parca beleza.

Uma cor desagradável advém da ira;
A estupidez, de não perguntar ao sábio.
O principal fruto disso tudo
É uma migração nefasta para os humanos.

Oposto aos conhecidos frutos
Dessas não-virtudes,
É o surgimento de efeitos
Causados por todas as virtudes.

Desejo, ódio, ignorância e
As ações por eles geradas são não-virtudes.
Não-desejo, não-ódio, não-ignorância
E as ações que geram são virtudes.

Das não-virtudes advêm todos os sofrimentos
E, do mesmo modo, todas as más migrações;
Das virtudes, todas as felizes migrações
E os prazeres de todos os nascimentos.

Desistir das não-virtudes
E empenhar-se sempre nas virtudes,
Com corpo, fala e mente —
Estas são conhecidas como as três formas de prática.

(continua)

Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.

Nenhum comentário:

Postar um comentário