(continuação)
Quando o superior Ananda
Alcançou o que isso significa,
Conquistou o olho do Dharma e ensinou-o
Continuamente aos monges.
Há uma falsa concepção de "eu"
Enquanto os agregados são mal compreendidos;
Quando tal concepção de "eu" inexiste,
Há ação que resulta em nascimento.
Com essas três sendas causando-se mutuamente
Umas às outras, sem começo, meio ou fim,
A roda da existência cíclica
Gira como a "roda" de um tição.
Porque tal roda não advém de um si-próprio, de um outro,
Nem de ambos, no passado, no presente ou no futuro,
A concepção de um "eu" cessa
E, por conseguinte, ação e renascimento.
Então, aquele que vê como causa e efeito
São produzidos e destruídos,
Não considera o mundo
Como realmente existente ou não-existente.
Por isso, aquele que ouviu, mas não examina
O Dharma que destrói todo o sofrimento,
E teme o destemido estado,
Estremece devido à ignorância.
O fato de que tudo isto não existe no nirvana
Não vos apavora [a vós, um praticante].
Por que sua existência
Aqui explanada vos causaria temor?
"Na liberação não há 'eu' e não há agregados."
Se a liberação é assim afirmada,
Por que a remoção, aqui, de um "eu"
E dos agregados não é apreciada por vós?
Se o nirvana não é uma não-coisa,
Como poderia ter a "qualidade de uma coisa"?
À extinção da falsa noção
De coisas e não-coisas chama-se nirvana.
Em suma, a afirmação dos partidários do niilismo,
"As ações não produzem frutos",
Considera-se uma visão errônea,
Sem mérito e conducente a migração infeliz.
Em suma, a afirmação dos partidários da existência [relativa],
"Há frutos das ações",
Considera-se uma visão correta,
Meritória e conducente a felizes migrações.
Porque "é" e "não-é" são desfeitos pela sabedoria,
Há uma passagem para além de mérito e demérito;
Isso — dizem os excelentes — é liberação,
Tanto das migrações felizes quanto das infelizes.
Compreendendo a produção [do sofrimento] como causada,
Passa-se para além da não-existência;
Compreendendo a cessação [do sofrimento] como causada,
Não mais se assevera a existência.
As causas prévia e simultaneamente [com seus efeitos] produzidas
São não-causas; de fato, pois não há causas,
Visto que a produção existente de modo inerente não é
Conhecida nem em termos convencionais, nem em termos absolutos.
Quando há isto, aquilo surge,
Como o baixo quando há o alto.
Quando isso é produzido, também aquilo,
Como a luz de uma chama.
Quando há "alto", deve haver "baixo",
Eles não existem por sua própria natureza,
Do mesmo modo que sem uma chama
Tampouco surge a luz.
Havendo então percebido que os efeitos resultam
De causas, assevera-se o que aparece
Nas convencionalidades do mundo
E não se aceita o niilismo.
Aquele que refuta [causa e efeito como existentes d e modo inerente]
Não desenvolve [o ponto de vista da] existência,
[Asseverando] como verdadeiro o que não surge de convencionalidades;
Assim sendo, quem não se apóia na dualidade está liberto.
(continua)
Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.
Fonte: Extraído do site www.nosacasa.net/shunya
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