quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
O Criador de Historinhas
Nosso pensamento é um emérito criador de historinhas. Explico. Se sairmos agora andando pela rua e cruzarmos com alguém, nossa mente ordinária imediatamente inventará uma história sobre aquela pessoa, mesmo quando jamais a tenhamos visto. Logo logo a pessoa que passa por nós é rotulada como gorda, magra, feia, bonita, rica, pobre, simpática ou antipática. Mas a coisa não pára por aí. Nosso pensamento elabora muito mais. Imediatamente, pomo-nos a imaginar que, por exemplo, aquela mulher tem filhos, é faladeira, não paga suas contas, etc. Ou aquele homem: deve ser um chato, pois tem cara de chato; ou bobo; ou uma pessoa sábia; ou alguém bondoso.
Muitas vezes , a mente ordinária cria detalhes tão incríveis que , quando realmente entramos em contato direto com a pessoa , já estamos cheios de preconceitos , quer dizer , de idéias prévias a respeito dela. Às vezes , acontece assim : na fila do banco , vemos o caixa de longe e o pensamento criador de historinhas começa a trabalhar . Enquanto a fila anda , geralmente muito devagar , nossa mente ordinária vai criando, refinando, elaborando, detalhando sua historinha inventada. Deste modo , quando chega a nossa vez , já temos uma imagem daquele caixa – imagem prévia que vai determinar nossa relação com aquela pessoa , e muitas vezes envenenar , sem nenhum motivo , essa relação . Então , já ficamos mais impacientes , mais nervosos , menos tolerantes .
Assim acontece com o feirante, a manicure, o professor, o namorado de nossa filha, a vizinha do lado, o motorista do outro carro, o patrão, o empregado... Chegamos ao cúmulo de criar elaboradas historinhas em relação ao cachorro da casa em frente ou ao gato do vizinho de cima! Falei aí acima em “mente ordinária”, ou seja, aquela mente que contém pensamentos em ebulição, pensamentos que pulam de um objeto para outro, deste tema para o seguinte, sem parar, a ponto de dizermos que nosso pensamento parece um “macaquinho pulando”.
A essa mente comum contrapõe-se a mente pura , a mente primordial , essencial , que é a fonte de tudo . Nos estados de meditação ou de profunda calma , encontramos em nós mesmos essa fonte pura , que pode ser identificada como nossa natureza mais profunda . O pensamento confuso, oriundo da mente ordinária , acaba com nossa paz interior . Faz com que , por exemplo , cultivemos raiva desnecessariamente, contra alguém que , em verdade , não é nada assim como pensamos, e que , muitas vezes , pode passar por nós tendo de nossa pessoa - construindo, portanto , sobre nós uma historinha – uma visão segundo a qual somos bons , simpáticos , etc.
Cultivar a paz interior é, pois , também , tentar prestar atenção às historinhas que nossa mente criativa elabora. É descartar essas historinhas. É ter consciência do fato de que nossa mente cria historinhas, o que já significa o primeiro passo para nos livrarmos delas e caminhar , não somente na direção de nossa paz interior , mas igualmente no sentido da construção da paz no mundo em que vivemos.
Um texto de J. Carino
do blog: http://folhasnocami nho.blogspot. com/
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