quarta-feira, 4 de março de 2009

Ouvir o vento entre os pinheiros (2)


     O vento está em toda parte, mas não tem forma, nem voz. Para que possamos reconhecer, é necessário senti-lo soprando sobre nossa pele, movimentando plantas, árvores, nuvens ou uivando. Não podemos sequer ver o outono, escutá-lo ou pegá-lo com as mãos. Mas podemos perceber sua presença pelas folhas que mudam de cor, pelas espigas de milho que se tornam douradas. Podemos senti-lo nas vozes dos insetos que cantam à noite, ou nas chuvas que caem em silêncio. Podemos prová-lo nas maçãs ou caquis maduros.
     O céu e a terra são o corpo e a voz de Buda, manifestando-se por meio da forma e da voz de todas as coisas. ... Buda, na realidade, não tem nome nem forma. Justamente para isto vivem todas as coisas, das árvores a um fio de grama, de uma telha a uma pedrinha. Cada coisa nesta Terra e no Universo é a manifestação do corpo e da voz de Buda.
     ...
     Por mais que seja claro, em teoria, que somos uma manifestação da Natureza-Buda, se não praticamos os ensinamentos, não nos tornaremos verdadeiramente o caminho. E, no entanto, a Natureza-Buda se manifesta em nós independentemente de nosso conhecimento, consciência ou prática dos Preceitos. Exprime-se em nossa vida cotidiana. Por exemplo, quando tratamos com cuidado cada gota d'água ou cada planta, ainda que contra nossa vontade ou obrigados por outra pessoa; da mesma maneira, se vivemos uma vida ascética, se nos ocupamos de alguma coisa com devoção, mesmo nos trabalhos domésticos. 
     Uma gota de orvalho, onde quer que pouse - seja sobre uma bela flor ou sobre o esterco - brilha da mesma maneira, refletindo os raios de sol da manhã. É realmente uma grande alegria empenhar-se em práticas que brilham como o orvalho, em qualquer situação, para perceber a Natureza-Buda eternamente presente em todos nós.
     
Shundo Aoyama Rôshi - "Para uma pessoa bonita".

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