domingo, 27 de dezembro de 2009

Cerimônia de Jukai-e



Fotos: Emerson Zamprogno

O Dharma se enriquece com nossos três novos irmãos, que tomarom preceito no dia 20/12/2009 no templo Busshinji, em SP:
Jushin de Porto Alegre, João Juken e Altair Gôdô de Florianópolis.

Parabéns aos três e a seus professores de treinamento.
Sejam bem vindos!

domingo, 22 de novembro de 2009

Estado Superior e Bondade Suprema (6)

(continuação)
Uma forma vista à distância
É percebida claramente pelos que lhe estão perto.
Se uma miragem fosse água, por que
A água não seria vista por quem lhe está perto?

O modo pelo qual este mundo é visto
Como real pelos que estão distantes,
Não é o mesmo visto pelos que estão perto,
[Para quem ele é] sem evidência, como uma miragem.

Do mesmo modo que uma miragem parece água, mas não é
Água e de fato não existe [como água],
Assim os agregados são como uma realidade,
Mas não são nem existem [como realidades].

Por ter acreditado que uma miragem
Era água e ido então até lá [para constatar],
Um homem seria estúpido se concluísse
Que "a água não existe".

Aquele que concebe o quimérico mundo
Como existente ou não-existente
É, por conseqüência, ignorante.
Quando há ignorância, não se está liberado.

O partidário da não-existência sofre más migrações,
Mas felizes advêm aos partidários da existência [relativa];
Aquele que sabe o que é correto e verdadeiro
Não se apóia no dualismo e torna-se, pois, liberto.

Se, por conhecer o que é correto e verdadeiro,
Ele não assevera existência e não-existência,
E por isso [vós pensais] que ele crê na não-existência,
Por que não seria ele um partidário da existência [relativa]?

Se, por refutar a existência [inerente]
Não-existência então lhe advém,
Por que, por refutar a não-existência,
Existência não lhe adviria?

Os que confiam na iluminação
Não sustentam teses niilistas,
Nem agem ou pensam desse modo.
Como podem então ser considerados niilistas?

Perguntai aos que asseveram o mundo, aos samkhyas,
Aos seguidores-da-coruja e aos nirgranthas —
Partidários do "eu" e dos agregados —
Se eles propõem que o que está além "é" e "não é".

Portanto, ficai sabendo que a ambrósia
Dos ensinamentos dos buddhas é chamada profunda —
Um Dharma singular que vai
Muito além de existência e não-existência.

Definitivamente, como poderia o mundo existir
Com uma natureza que transcendeu passado, presente
E futuro, que não desaparece quando destruída,
Não vem e não permanece por um instante sequer?

Porque na realidade
Não há vinda, ida ou permanência,
Que diferença existe, em última análise,
Entre o mundo [samsara] e o nirvana?

Se não há permanência, não pode haver
Nem produção nem cessação.
Então, como poderiam produção, permanência
E cessação de fato existir?

Como as coisas são não-transitórias
Se estão sempre mudando?
Se não mudam,
Como podem então ser modificadas?

Elas se tornam momentâneas em virtude de sua
Parcial ou completa desintegração?
Porque a desigualdade não é compreendida,
Tal transitoriedade não pode ser admitida.

Quando algo deixa de existir devido à transitoriedade
Como pode qualquer coisa ser velha?
Quando uma coisa é não-momentânea devido à permanência,
Como pode algo ser velho?

Uma vez que um momento acaba,
Ele deve ter um começo e um meio;
Esta tríplice natureza de um momento significa
Que o mundo nunca perdura por um instante.

Além do mais, o começo, o meio e o fim
Devem analisar-se como um momento;
Portanto, começo, meio e fim
Não são [produzidos] por si mesmos nem por outros.

Por ter muitas partes, "um" não existe;
Não há nada que seja sem partes;
Além disso, sem "um" não existem "muitos",
E sem existência não há não-existência.

Se, em virtude de destruição ou de um antídoto,
Algo existente deixa de existir,
Como poderia haver destruição
Ou um antídoto sem algo existente?

Definitivamente, o mundo
Não pode desaparecer através do nirvana.
Perguntado sobre se o mundo teria um fim
O Vitorioso era silente.

Por não ter ensinado este Dharma profundo
A seres mundanos — que não eram receptáculos dignos —
Aquele que tudo sabe é conhecido
Como onisciente pelos sábios.

Então, o Dharma da bondade suprema
Foi ensinada pelos buddhas perfeitos —
Os videntes da realidade — como sendo profunda,
Inapreensível e sem fundamento [que não provém de uma base da qual as coisas existam inerentemente].

Atemorizados por esse Dharma sem fundamento,
Deleitando-se em um fundamento,
Sem ir além de existência e não-existência,
Seres não-inteligentes arruínam a si próprios.

Tementes da destemida morada,
Arruinados, eles arruínam os outros.
Ó Rei, agi de modo tal
Que os arruinados não vos arruínem.

Ó Rei, para que vós não sejais arruinado
Explicarei através das escrituras
O modo do supramundano —
A realidade que não se assenta no dualismo.

Esta profundidade que libera
E está além do vício e da virtude
Não foi experimentada pelos que temem o sem fundamento,
Pelos outros, os Vadeadores e nem mesmo por nós.

Uma pessoa não é terra, nem água,
Nem fogo, nem ar, nem espaço,
Não é consciência e nem tudo isso;
Em que a pessoa é diferente dessas coisas?

Assim como a pessoa não é um absoluto,
Mas um composto de seis constituintes,
Assim também cada um deles, por sua vez,
É um composto e não um absoluto.

Os agregados não são o "eu", não estão no "eu",
O "eu" não está nos agregados; sem os agregados, o "eu" não é,
Não está misturado com os agregados como o fogo e o combustível;
Portanto, como pode o "eu" existir?

Os três elementos não são a terra, não estão nela,
Ela não está neles, sem eles ela não é;
Uma vez que isto se aplica a cada um,
Eles, tais como o "eu", são falsos.

Por si mesmos, terra, água, fogo e ar
Não existem inerentemente;
Quando três estão ausentes, não pode haver um,
Quando um está ausente, também o estão os três.

Se, quando três estão ausentes, um não existe,
E quando um está ausente, os três não existem,
Então cada um por si mesmo não existe;
Portanto, como podem eles produzir um composto?

Por outro lado, se cada um existe por si mesmo,
Por que sem combustível não há fogo?
E ainda, por que não há água, ar ou terra
Sem motilidade, firmeza ou coesão?

Se [a resposta for] "sabe-se que o fogo não existe sem combustível, mas os outros três elementos existem independentemente]",
Como poderiam os três existir
Em si mesmos sem os outros? É impossível aos três
Não estarem em conformidade com a originação interdependente.

Como podem os que existem por si mesmos
Ser mutuamente dependentes?
Como podem aqueles que não existem por si mesmos
Ser mutuamente dependentes?

Se não existem como elementos individuais,
Pois onde há um, lá estão os outros três,
Então quando não misturados, não estão num mesmo lugar,
E se misturados, deixam de existir individualmente.

Os elementos não existem individualmente.
Como poderiam, então, existir suas características individuais?
Os que não existem individualmente não podem predominar;
Suas características são consideradas convencionalidades.

Este modo de refutação aplica-se também
A cores, odores, sabores e objetos do tato,
A olho, consciência e forma,
Ignorância, ação e nascimento.

Agente, objeto, ação e número,
Posse, causa, efeito e tempo,
Curto e comprido e assim por diante,
Nome e portador-de-nome também.

Terra, água, fogo e ar,
Alto e baixo, virtude sutil e grosseira,
E por aí afora, diz o Vitorioso
Que cessam na consciência [da realidade].

As esferas da terra, água, fogo
E ar não aparecem
Antes essa indemonstrável consciência —
Senhora absoluta do ilimitado.

Aqui, alto e baixo, sutil e grosseiro,
Virtude e não-virtude
E nomes e formas,
Tudo deixa de ser.

O que não se conhecia é conhecido
Pela consciência como [a realidade] de tudo
O que apareceu antes. Assim sendo, esses fenômenos,
Mais tarde, deixam de estar na consciência.

Todos esses fenômenos relacionados a seres
Consideram-se como combustível para o fogo da consciência;
Eles são consumidos ao serem queimados
Pela luz do verdadeiro discernimento.

Mais tarde a realidade é apurada
Daquilo que antes era imputado pela ignorância;
Quando não se encontra uma coisa,
Como pode haver uma não-coisa?

Porque os fenômenos das formas
São apenas nomes, também o espaço é só um nome.
Sem os elementos como poderiam as formas existir?
Portanto, nem sequer "só-nome" existe.

Sentimentos, discriminações, fatores de composição
E consciências devem ser considerados
Do mesmo que os elementos são a pessoa;
Portanto os seis constituintes [do ser] carecem de natureza intrínseca

Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini
Extraído do site www.nosacasa.net/shunya

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Estado Superior e Bondade Suprema (5)

(continuação)
Quando o superior Ananda
Alcançou o que isso significa,
Conquistou o olho do Dharma e ensinou-o
Continuamente aos monges.

Há uma falsa concepção de "eu"
Enquanto os agregados são mal compreendidos;
Quando tal concepção de "eu" inexiste,
Há ação que resulta em nascimento.

Com essas três sendas causando-se mutuamente
Umas às outras, sem começo, meio ou fim,
A roda da existência cíclica
Gira como a "roda" de um tição.

Porque tal roda não advém de um si-próprio, de um outro,
Nem de ambos, no passado, no presente ou no futuro,
A concepção de um "eu" cessa
E, por conseguinte, ação e renascimento.

Então, aquele que vê como causa e efeito
São produzidos e destruídos,
Não considera o mundo
Como realmente existente ou não-existente.

Por isso, aquele que ouviu, mas não examina
O Dharma que destrói todo o sofrimento,
E teme o destemido estado,
Estremece devido à ignorância.

O fato de que tudo isto não existe no nirvana
Não vos apavora [a vós, um praticante].
Por que sua existência
Aqui explanada vos causaria temor?

"Na liberação não há 'eu' e não há agregados."
Se a liberação é assim afirmada,
Por que a remoção, aqui, de um "eu"
E dos agregados não é apreciada por vós?

Se o nirvana não é uma não-coisa,
Como poderia ter a "qualidade de uma coisa"?
À extinção da falsa noção
De coisas e não-coisas chama-se nirvana.

Em suma, a afirmação dos partidários do niilismo,
"As ações não produzem frutos",
Considera-se uma visão errônea,
Sem mérito e conducente a migração infeliz.

Em suma, a afirmação dos partidários da existência [relativa],
"Há frutos das ações",
Considera-se uma visão correta,
Meritória e conducente a felizes migrações.

Porque "é" e "não-é" são desfeitos pela sabedoria,
Há uma passagem para além de mérito e demérito;
Isso — dizem os excelentes — é liberação,
Tanto das migrações felizes quanto das infelizes.

Compreendendo a produção [do sofrimento] como causada,
Passa-se para além da não-existência;
Compreendendo a cessação [do sofrimento] como causada,
Não mais se assevera a existência.

As causas prévia e simultaneamente [com seus efeitos] produzidas
São não-causas; de fato, pois não há causas,
Visto que a produção existente de modo inerente não é
Conhecida nem em termos convencionais, nem em termos absolutos.

Quando há isto, aquilo surge,
Como o baixo quando há o alto.
Quando isso é produzido, também aquilo,
Como a luz de uma chama.

Quando há "alto", deve haver "baixo",
Eles não existem por sua própria natureza,
Do mesmo modo que sem uma chama
Tampouco surge a luz.

Havendo então percebido que os efeitos resultam
De causas, assevera-se o que aparece
Nas convencionalidades do mundo
E não se aceita o niilismo.

Aquele que refuta [causa e efeito como existentes d e modo inerente]
Não desenvolve [o ponto de vista da] existência,
[Asseverando] como verdadeiro o que não surge de convencionalidades;
Assim sendo, quem não se apóia na dualidade está liberto.

(continua)

Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.
Fonte: Extraído do site www.nosacasa.net/shunya

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Aniversário dos 50 aniversários do Templo Busshinji em SP.



Cerca de 200 pessoas entre Mestres, Sensei, Abades, Monges, Monjas, leigos, praticantes e convidados.



Todos juntos, com os ancestrais, sem distinção, percorrendo o caminho do Buda.




Três dias de convivência, intercambio, respeito... Perfeita harmonia.



Guiados pela luz do Dharma.
Nossas mentes-corações se abrem.
É o Dharma palpitando em cada um, o Dharma vivido.
Volto com o coração repleto.



Encontros maravilhosos. Encontro da Grande Família chamada Zen.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Cerimônia do cinquentenário do Templo Busshinji e inauguração do Pavilhão Dai Kankaku

Programação:

Dia 13 de novembro
10:00 - Cerimônia para Recepcionar o Shumu Socho
- Corte da Faixa de Inauguração e Descerramento da Placa
- Apresentação do novo prédio
11:00 - Cerimônia de Abertura da Imagem do Fundador
11:30 - Cerimônia dos 600 volumes do Sutra Prajna Paramita
12:30 - Banquete no Salão do Pavilhão Dai Kankaku


Dia 14 de Novembro
13:00 - Cerimônia de Abertura do Monumento
13:30 - Palestra
14:30 - Cerimônia Memorial dos Fundadores
15:30 - Cerimônia de Abertura dos Olhos das Imagens Daiguen Shuri Bosatsu e Daruma Soshi
16:30 - Cerimônia Memorial dos Antepassados(Grupo do Japão)
17:30 - Cerimônia do Manto Kuyo (Milhões de Luzes)


Dia 15 de Novembro
08:30 - Cerimônia para Recepcionar o Shumu Socho
09:00 - Cerimônia Memorial dos Monges e Professores falecidos da América do Sul
10:00 - Cerimônia Comemorativa do Cinquentenário do Templo Busshinji
- Entrega do Certificado de Honra ao Mérito de Shumucho para Convidados
11:00 - Cerimônia Memorial para todos os membros
- Entrega do Certificado de Honra ao Mérito do Busshinji para Convidados

Fonte: Blog Sangha Margha

Rohatsu Sesshin em Porto Alegre

Rohatsu Sesshin, ou retiro da Iluminação de Buda é realizado em todas as comunidades da Soto Zen.
As Sanghas Águas da Compaixão e Aikikai, coordenadas pela Monja Isshin, em Porto Alegre, convidam a todos aqueles que desejarem participar.
Este encontro acontecerá de 1 à 8 de Dezembro.
A doação para a participação para cotistas/associados das Sangas será de R$ 30 por dia (ou R$ 10 por período manhã, tarde ou noite) e R$ 45 por dia/R$ 15 por período para não-cotistas/associados.

Por mais informações:
http://monjaisshin.wordpress.com/
http://aguasdacompaixao.wordpress.com/
http://zendovirtual.wordpress.com/
http://interconexao.wordpress.com/

domingo, 8 de novembro de 2009

Un artículo de Eduardo Galeano

(para mayores de 40)

Lo que me pasa es que no consigo andar por el mundo tirando cosas y cambiándolas por el modelo siguiente sólo porque a alguien se le ocurre agregarle una función o achicarlo un poco.

No hace tanto, con mi mujer, lavábamos los pañales de los críos, los colgábamos en la cuerda junto a otra ropita, los planchábamos, los doblábamos y los preparábamos para que los volvieran a ensuciar.

Y ellos, nuestros nenes, apenas crecieron y tuvieron sus propios hijos se encargaron de tirar todo por la borda, incluyendo los pañales.

¡Se entregaron inescrupulosamente a los desechables! Si, ya lo sé. A nuestra generación siempre le costó tirar. ¡Ni los desechos nos resultaron muy desechables! Y así anduvimos por las calles guardando los mocos en el bolsillo y las grasas en los repasadores.

¡¡¡Nooo!!! Yo no digo que eso era mejor. Lo que digo es que en algún momento me distraje, me caí del mundo y ahora no sé por dónde se entra. Lo más probable es que lo de ahora esté bien, eso no lo discuto. Lo que pasa es que no consigo cambiar el equipo de música una vez por año, el celular cada tres meses o el monitor de la computadora todas las navidades.

¡Guardo los vasos desechables!

¡Lavo los guantes de látex que eran para usar una sola vez!

¡Apilo como un viejo ridículo las bandejitas de espuma plástica de los pollos!

¡Los cubiertos de plástico conviven con los de acero inoxidable en el cajón de los cubiertos!

¡Es que vengo de un tiempo en el que las cosas se compraban para toda la vida!

¡Es más!

¡Se compraban para la vida de los que venían después!

La gente heredaba relojes de pared, juegos de copas, fiambreras de tejido y hasta palanganas de loza.

Y resulta que en nuestro no tan largo matrimonio, hemos tenido más cocinas que las que había en todo el barrio en mi infancia y hemos cambiado de heladera tres veces.

¡¡Nos están fastidiando! ! ¡¡Yo los descubrí!! ¡¡Lo hacen adrede!! Todo se rompe, se gasta, se oxida, se quiebra o se consume al poco tiempo para que tengamos que cambiarlo. Nada se repara. Lo obsoleto es de fábrica.

¿Dónde están los zapateros arreglando las media-suelas de las Nike?

¿Alguien ha visto a algún colchonero escardando sommiers casa por casa?

¿Quién arregla los cuchillos eléctricos? ¿El afilador o el electricista?

¿Habrá teflón para los hojalateros o asientos de aviones para los talabarteros?

Todo se tira, todo se desecha y, mientras tanto, producimos más y más basura.

El otro día leí que se produjo más basura en los últimos 40 años que en toda la historia de la humanidad.

El que tenga menos de 40 años no va a creer esto: ¡¡Cuando yo era niño por mi casa no pasaba el basurero!!

¡¡Lo juro!! ¡Y tengo menos de... años!

Todos los desechos eran orgánicos e iban a parar al gallinero, a los patos o a los conejos (y no estoy hablando del siglo XVII)

No existía el plástico ni el nylon. La goma sólo la veíamos en las ruedas de los autos y las que no estaban rodando las quemábamos en la Fiesta de San Juan.

Los pocos desechos que no se comían los animales, servían de abono o se quemaban. De 'por ahí' vengo yo. Y no es que haya sido mejor. Es que no es fácil para un pobre tipo al que lo educaron con el 'guarde y guarde que alguna vez puede servir para algo', pasarse al 'compre y tire que ya se viene el modelo nuevo'.

Mi cabeza no resiste tanto.

Ahora mis parientes y los hijos de mis amigos no sólo cambian de celular una vez por semana, sino que, además, cambian el número, la dirección electrónica y hasta la dirección real.

Y a mí me prepararon para vivir con el mismo número, la misma mujer, la misma casa y el mismo nombre (y vaya si era un nombre como para cambiarlo) Me educaron para guardar todo. ¡¡¡Toooodo!!! Lo que servía y lo que no. Porque algún día las cosas podían volver a servir. Le dábamos crédito a todo.

Si, ya lo sé, tuvimos un gran problema: nunca nos explicaron qué cosas nos podían servir y qué cosas no. Y en el afán de guardar (porque éramos de hacer caso) guardamos hasta el ombligo de nuestro primer hijo, el diente del segundo, las carpetas del jardín de infantes y no sé cómo no guardamos la primera caquita. ¿Cómo quieren que entienda a esa gente que se desprende de su celular a los pocos meses de comprarlo?

¿Será que cuando las cosas se consiguen fácilmente, no se valoran y se vuelven desechables con la misma facilidad con la que se consiguieron?

En casa teníamos un mueble con cuatro cajones. El primer cajón era para los manteles y los repasadores, el segundo para los cubiertos y el tercero y el cuarto para todo lo que no fuera mantel ni cubierto. Y guardábamos.. . ¡¡Cómo guardábamos!! ¡¡Tooooodo lo guardábamos!! ¡¡Guardábamos las chapitas de los refrescos!! ¡¿Cómo para qué?! Hacíamos limpia-calzados para poner delante de la puerta para quitarnos el barro. Dobladas y enganchadas a una piola se convertían en cortinas para los bares. Al terminar las clases le sacábamos el corcho, las martillábamos y las clavábamos en una tablita para hacer los instrumentos para la fiesta de fin de año de la escuela. ¡Tooodo guardábamos!

¡¡¡Las cosas que usábamos!!!: mantillas de faroles, ruleros, ondulines y agujas de primus. Y las cosas que nunca usaríamos. Botones que perdían a sus camisas y carreteles que se quedaban sin hilo se iban amontonando en el tercer y en el cuarto cajón. Partes de lapiceras que algún día podíamos volver a precisar. Tubitos de plástico sin la tinta, tubitos de tinta sin el plástico, capuchones sin la lapicera, lapiceras sin el capuchón. Encendedores sin gas o encendedores que perdían el resorte. Resortes que perdían a su encendedor.

Cuando el mundo se exprimía el cerebro para inventar encendedores que se tiraban al terminar su ciclo, inventábamos la recarga de los encendedores descartables. Y las Gillette -hasta partidas a la mitad- se convertían en sacapuntas por todo el ciclo escolar. Y nuestros cajones guardaban las llavecitas de las latas de sardinas o del corned-beef, por las dudas que alguna lata viniera sin su llave. ¡Y las pilas! Las pilas de las primeras Spica pasaban del congelador al techo de la casa. Porque no sabíamos bien si había que darles calor o frío para que vivieran un poco más. No nos resignábamos a que se terminara su vida útil, no podíamos creer que algo viviera menos que un jazmín.

Las cosas no eran desechables. Eran guardables. ¡¡¡Los diarios!!! Servían para todo: para hacer plantillas para las botas de goma, para poner en el piso los días de lluvia y por sobre todas las cosas para envolver. ¡¡¡Las veces que nos enterábamos de algún resultado leyendo el diario pegado al trozo de carne!!!

Y guardábamos el papel plateado de los chocolates y de los cigarros para hacer guías de pinitos de navidad y las páginas del almanaque para hacer cuadros y los cuentagotas de los remedios por si algún medicamento no traía el cuentagotas y los fósforos usados porque podíamos prender una hornalla de la Volcán desde la otra que estaba prendida y las cajas de zapatos que se convirtieron en los primeros álbumes de fotos. Y las cajas de cigarros Richmond se volvían cinturones y posa-mates y los frasquitos de las inyecciones con tapitas de goma se amontonaban vaya a saber con qué intención, y los mazos de naipes se reutilizaban aunque faltara alguna, con la inscripción a mano en una sota de espada que decía 'éste es un 4 de bastos'.

Los cajones guardaban pedazos izquierdos de palillos de ropa y el ganchito de metal. Al tiempo albergaban sólo pedazos derechos que esperaban a su otra mitad para convertirse otra vez en un palillo.

Yo sé lo que nos pasaba: nos costaba mucho declarar la muerte de nuestros objetos. Así como hoy las nuevas generaciones deciden 'matarlos' apenas aparentan dejar de servir, aquellos tiempos eran de no declarar muerto a nada: ¡¡¡ni a Walt Disney!!!

Y cuando nos vendieron helados en copitas cuya tapa se convertía en base y nos dijeron: 'Cómase el helado y después tire la copita', nosotros dijimos que sí, pero, ¡¡¡minga que la íbamos a tirar!!! Las pusimos a vivir en el estante de los vasos y de las copas. Las latas de arvejas y de duraznos se volvieron macetas y hasta teléfonos. Las primeras botellas de plástico se transformaron en adornos de dudosa belleza. Las hueveras se convirtieron en depósitos de acuarelas, las tapas de botellones en ceniceros, las primeras latas de cerveza en portalápices y los corchos esperaron encontrarse con una botella.

Y me muerdo para no hacer un paralelo entre los valores que se desechan y los que preservábamos. ¡¡¡Ah!!! ¡¡¡No lo voy a hacer!!! Me muero por decir que hoy no sólo los electrodomésticos son desechables; que también el matrimonio y hasta la amistad son descartables.

Pero no cometeré la imprudencia de comparar objetos con personas. Me muerdo para no hablar de la identidad que se va perdiendo, de la memoria colectiva que se va tirando, del pasado efímero. No lo voy a hacer. No voy a mezclar los temas, no voy a decir que a lo perenne lo han vuelto caduco y a lo caduco lo hicieron perenne. No voy a decir que a los ancianos se les declara la muerte apenas empiezan a fallar en sus funciones, que los cónyuges se cambian por modelos más nuevos, que a las personas que les falta alguna función se les discrimina o que valoran más a los lindos, con brillo y glamour.

Esto sólo es una crónica que habla de pañales y de celulares. De lo contrario, si mezcláramos las cosas, tendría que plantearme seriamente entregar a la 'bruja' como parte de pago de una señora con menos kilómetros y alguna función nueva. Pero yo soy lento para transitar este mundo de la reposición y corro el riesgo de que la 'bruja' me gane de mano y sea yo el entregado.

Eduardo Galeano

Estado Superior e Bondade Suprema (4)

(continuação)
Com tais práticas, fica-se livre de tornar-se
Habitante dos infernos, fantasma faminto ou animal;
Renascendo como humano ou deus, alcança-se
Grande felicidade, fortuna e domínio.

Através das concentrações, incomensuráveis e sem forma,
O homem experimenta a bem-aventurança de Brahma e semelhantes.
Tais são, em suma, as práticas
Para o estado superior e seus frutos.

Como afirmam os vitoriosos [buddhas], os Dharmas
Da bondade suprema são profundos,
Sutis e atemorizantes
Para crianças despreparadas.

"Eu não sou, eu não serei.
Eu não tenho, eu não terei",
Isto assusta toda criança
E mata o medo no sábio.

Disse [o Buddha,] aquele que fala só para auxiliar os seres,
Que todas essas [opiniões]
Surgiram da concepção de "eu"
E estão envolvidas com a concepção de "meu".

"O 'eu' existe, o 'meu' existe."
Em definitivo, tais concepções são errôneas,
Pois nem uma nem outra estão [fundamentadas]
Por uma consciência verdadeira e correta.

Os agregados mentais e físicos surgem
Da concepção de "eu" que, de fato, é falsa.
Como poderia o que cresceu
De uma falsa semente ser verdadeiro?

Assim, vistos os agregados como não verdadeiros,
A concepção de "eu" é abandonada,
E devido a tal abandono
Os agregados não voltam a surgir.

Da mesma forma que
A imagem de um rosto
Depende de um espelho para ser vista,
Mas na realidade não existe [como um rosto],

Assim a concepção de "eu" existe
Dependente dos agregados;
Porém, como a imagem de um rosto,
Na realidade o "eu" não existe.

Assim como sem depender de um espelho
a imagem de um rosto não é vista,
assim também o "eu" não existe
sem depender dos agregados.
...

Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Estado Superior e Bondade Suprema (3)

Depois de analisar a fundo
Todos os feitos do corpo, fala e mente,
Aquele que realiza o que é benéfico para si
E para outros, e sempre pratica, é sábio.

Não matar, não mais roubar,
Respeitar a mulher do próximo,
Abster-se completamente da fala mentirosa,
Ríspida, indiscreta e que causa desavença.

Abandonar a cobiça, as intenções
Nocivas e as opiniões de niilistas
Tais são as dez brancas sendas de ação,
Sendo negros os seus opostos.

Não beber substâncias inebriantes,
Ter meios de vida honestos, não prejudicar,
Levar em conta o dar, honrar o honorável
E amar — é isto em suma, a prática.

Prática não significa
Mortificar o corpo,
Pois isso não deixa de causar dano
A outros e tampouco os ajuda.

Aquele que não estima a senda do Dharma excelente —
Radiante de ética, generosidade e paciência —
Injuria seu corpo e envereda
Por falsos caminhos como atalhos da floresta;

Emaranhando seu corpo em viciosas
Aflições, ele adentra por um longo tempo
Na pavorosa floresta da existência cíclica,
Em meio a árvores de seres sem fim.

Uma vida curta decorre do matar;
Muita aflição, do dano cometido;
Poucos recursos, do roubar;
Inimigos, do adultério.

Da mentira deriva a calúnia;
Da difamação, a desunião de amigos;
Da rispidez, o ouvir desagradável;
Da tagarelice, a perda de respeito pelo que se diz.

A cobiça destrói as aspirações do homem;
Intenção nociva gera temor;
Idéias errôneas conduzem a más opiniões
E beber, à confusão da mente.

Do não dar resulta a pobreza;
Do errado meio de vida, a fraude;
Da arrogância, uma linhagem ruim;
Do ciúme, parca beleza.

Uma cor desagradável advém da ira;
A estupidez, de não perguntar ao sábio.
O principal fruto disso tudo
É uma migração nefasta para os humanos.

Oposto aos conhecidos frutos
Dessas não-virtudes,
É o surgimento de efeitos
Causados por todas as virtudes.

Desejo, ódio, ignorância e
As ações por eles geradas são não-virtudes.
Não-desejo, não-ódio, não-ignorância
E as ações que geram são virtudes.

Das não-virtudes advêm todos os sofrimentos
E, do mesmo modo, todas as más migrações;
Das virtudes, todas as felizes migrações
E os prazeres de todos os nascimentos.

Desistir das não-virtudes
E empenhar-se sempre nas virtudes,
Com corpo, fala e mente —
Estas são conhecidas como as três formas de prática.

(continua)

Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.

domingo, 1 de novembro de 2009

Estado Superior e Bondade Suprema (2)

(continuação)
Depois de analisar a fundo
Todos os feitos do corpo, fala e mente,
Aquele que realiza o que é benéfico para si
E para outros, e sempre pratica, é sábio.

Não matar, não mais roubar,
Respeitar a mulher do próximo,
Abster-se completamente da fala mentirosa,
Ríspida, indiscreta e que causa desavença.

Abandonar a cobiça, as intenções
Nocivas e as opiniões de niilistas
Tais são as dez brancas sendas de ação,
Sendo negros os seus opostos.

Não beber substâncias inebriantes,
Ter meios de vida honestos, não prejudicar,
Levar em conta o dar, honrar o honorável
E amar — é isto em suma, a prática.

Prática não significa
Mortificar o corpo,
Pois isso não deixa de causar dano
A outros e tampouco os ajuda.

Aquele que não estima a senda do Dharma excelente —
Radiante de ética, generosidade e paciência —
Injuria seu corpo e envereda
Por falsos caminhos como atalhos da floresta;

Emaranhando seu corpo em viciosas
Aflições, ele adentra por um longo tempo
Na pavorosa floresta da existência cíclica,
Em meio a árvores de seres sem fim.

Uma vida curta decorre do matar;
Muita aflição, do dano cometido;
Poucos recursos, do roubar;
Inimigos, do adultério.

Da mentira deriva a calúnia;
Da difamação, a desunião de amigos;
Da rispidez, o ouvir desagradável;
Da tagarelice, a perda de respeito pelo que se diz.

A cobiça destrói as aspirações do homem;
Intenção nociva gera temor;
Idéias errôneas conduzem a más opiniões
E beber, à confusão da mente.

Do não dar resulta a pobreza;
Do errado meio de vida, a fraude;
Da arrogância, uma linhagem ruim;
Do ciúme, parca beleza.

Uma cor desagradável advém da ira;
A estupidez, de não perguntar ao sábio.
O principal fruto disso tudo
É uma migração nefasta para os humanos.

Oposto aos conhecidos frutos
Dessas não-virtudes,
É o surgimento de efeitos
Causados por todas as virtudes.

...

Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Estado Superior e Bondade Suprema (1)

Inclino-me diante do onisciente,
Livre de todos os defeitos,
Ornado de todas as virtudes,
O único amigo de todos os seres.

Ó Rei, hei de expor práticas unicamente
Virtuosas para gerar em vós o Dharma,
Porque as práticas se firmarão
Num receptáculo do Dharma excelente.

Em quem pratica primeiro o estado superior,
Surge mais tarde a bondade suprema;
Pois, alcançado o estado superior,
Gradualmente se chega à bondade suprema.

Considera-se o estado superior como felicidade;
A bondade suprema, como liberação;
Fé e sabedoria constituem, em suma,
A quintessência de seus processos.

Por meio da fé, o homem confia-se às práticas;
Por meio da sabedoria, conhece verdadeiramente;
Da ambas, sabedoria é a principal,
Sendo a fé o seu pré-requisito.

Aquele que não negligencia as práticas
Por causa de desejo, ódio, medo ou ignorância
É tido como alguém de fé — um receptáculo
Digno da bondade suprema.

...
Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Oferenda


O céu e a terra fazem oferendas. O as, a água, plantas, animais, seres humanos; todos fazem oferendas uns aos outros. Nós só vivemos fazendo oferendas uns aos outros. Não se trata de saber se você é ou não grato. Ofereça, a todo universo, a atitude de não ser ganancioso. Nada pode ser maior que essa oferenda.

Kodo Sawaki Roshi

O Copo de Água


Nossas vidas estão sempre variando entre felicidade e infelicidade, ou algumas vezes entre felicidade relativa e infelicidade relativa. Ela está se transformando, mudando, e nós ansiamos por um alicerce, uma base de paz e estabilidade. Isso é natural, mas a maior parte de nós passa a vida procurando, procurando , procurando, pela base que nunca encontramos. Podemos achá-la?Sim - se nós compreendermos e lidarmos com o problema envolvido. Até que façamos isso, nós procuramos por uma alicerce fora de nós mesmos, nós buscamos com esperança por uma pessoa ou situação ou sistema de crença que irá nos suprir com o que nós acreditamos que nos falte. As ilusões de amor romântico, do trabalho ou parceiro perfeito, tudo acenando para nós como se fosse a Sereia de Odisseu. Se nós não entendermos, de tempos em tempos, nosso pequeno barco irá espatifar-se nas rochas ocultas. Mas o outro lado de tais desgraças é o amanhecer, o início do reconhecimento de que cada episódio dura na vida pode ser nosso verdadeiro professor, cada dificuldade é, tal como um sutra diz, "o Buda que vem para nos saudar". Nós acordamos lentamente para o conhecimento de que a base espiritual que procuramos não é uma vida para além da desgraça e da dor, mas o abraço entre a desgraça e a dor à medida que eles ocorrem. Se nós quisermos beber de uma água refrescante (da vida), nós não podemos separar as moléculas que nós achamos que serão agradáveis e saborosas para nós. Se fizéssemos (ou pudéssemos)nós não estaríamos bebendo água mas uma monstruosidade de nossa própria criação. De forma similar, se nós recusarmos a experiência direta, e algumas vezes dolorosa, deste momento, nós somos deixados cozinhando em fogo lento em nossa confusão de pensamentos de censura, crítica, julgamento ou fuga. Para conhecer a totalidade da vida, temos de beber todo o copo de água, temos que vivenciar a experiência do momento como ele é, não a versão distorcida dele que minha mente pode engendrar. Uma vez que o copo inteiro não é nada mais do que a totalidade de cada momento - inevitável, sempre presente - quando nós estamos dispostos a vivenciar a experiência de nosso medo e dor diretamente, a totalidade (a base, o alicerce) de nossa vida é revelada como o milagre que é. Simples, sim. Fácil, não. Para a maioria de nós, esta é uma prática para toda uma vida. Entretanto, a base (sempre lá) é mais e mais conhecida para nós como estando lá. A boa vida.

Charlotte Joko Beck -
tradução para português de Mara Heleosina Ribeiro Pessôa.

domingo, 11 de outubro de 2009

Preceitos Budistas (3)

C. Os Dez Preceitos Cardinais

Os Dez Preceitos Cardinais são inseparáveis da Natureza Búdica e de nossos relacionamentos.

1. Eu decido não matar, e sim cuidar de toda forma de vida.
Este preceito expressa a intenção de viver de forma compassiva e inofensiva, e deriva do reconhecimento da unidade intrínseca de toda existência. Quando compreendido em seu contexto mais amplo, “não matar” também pode ser entendido como não causar dano, especialmente não causar dano ao corpo ou a psique de outro. Violência física e comportamento abusivo (o que inclui ameaças física e demonstrações extremas de raiva e malícia) são vistos como uma forma de “matar”.
Conseqüentemente todas as armas de fogo e outras armas projetadas principalmente para tirar a vida não são permitidas dentro dos locais de prática do Centro Zen, e carnes não deverão ser consumidos dentro dos locais de prática do Centro Zen, a menos que tal seja permitido pelo Abade em circunstâncias especiais. Nós também reconhecemos nosso papel, seja diretamente ou em cumplicidade com outros, no aniquilamento de outras formas de vida. Como nós somos uma Sangha, quando questões que incluem o aniquilamento de animais e plantas são levantadas, nós precisamos cuidadosamente considerar as nossas necessidades reais e nossas responsabilidades, para que seja possível trabalhar para o benefício de todos os seres.

2. Eu decido não tomar o que não é dado, e sim respeitar a propriedade alheia.
Este preceito expressa o comprometimento de viver com base em um coração generoso, ao invés de viver com base em uma mente ávida. Este comprometimento está baseado na percepção de que, tal como nós somos, nada nos falta. Em um nível pessoal, o comportamento ganancioso prejudica a pessoa que rouba tanto quanto prejudica a pessoa que é vítima do roubo. Em nível comunitário, roubar pode comprometer ou mesmo destruir o ambiente de confiança mútua para a prática Zen. Aqueles que administram os fundos da Sangha ou outros recursos tem a responsabilidade especial de zelar pelos mesmos e impedir o mal-uso deliberado ou a apropriação indébita destes recursos e fundos, uma vez que o mal uso deliberado e a apropriação indébita são, ambos, formas institucionais de roubo (Favor consultar Seções V, Conflitos de Interesse, e VI, Política Financeira, Proibição de Benefício Privado, no texto infra).
Em adição, nós reconhecemos que o mal-uso de autoridade e status é uma forma de tomar aquilo que não é dado. Dentro da complexa vida da Sangha, vários níveis hierárquicos de autoridade e anterioridade desempenham uma função em determinadas situações. É particularmente importante que indivíduos em posições de confiança não utilizem a sua autoridade como uma forma de obter privilégios especiais, ou como uma forma de controlar ou influenciar os demais de maneira inapropriada.

3. Eu decido não utilizar mal a minha sexualidade, e sim ser cuidadoso e responsável.
Nós reconhecemos que a sexualidade faz parte da nossa prática tanto quanto qualquer outro aspecto das nossas vidas diárias. Reconhecer e honrar a nossa sexualidade é uma forma de criar um ambiente onde relacionamentos conscientes e compassivos podem ser cultivados.
Deve ser tomado um cuidado especial quando pessoas de status desiguais ou níveis desiguais de autoridade iniciam uma relação sexual. Em especial, existem duas formas de relacionamento que podem levar a grande dano e confusão. Cada uma destas formas é considerada uma violação deste preceito.
Em primeiro lugar, todo adulto que se envolver sexualmente com um menor está incorrendo em comportamento sexual inadequado. Evitar relacionamentos desta natureza é uma responsabilidade exclusiva do indivíduo adulto.
Em segundo lugar, é considerado um mal abuso de autoridade, responsabilidade e sexualidade o envolvimento sexual de um professor do Centro Zen com o seu ou sua estudante. Se um professor e/ou estudante sentir-se em risco de violar esta diretriz, ela ou ela deve suspender o relacionamento professor-aluno e procurar aconselhamento com o Abade do Centro Zen e/ou com o Comitê de Aconselhamento.
Antes de formar um relacionamento sexual com qualquer um que é ou recentemente tenha sido um estudante, qualquer Instrutor, o Responsável pelo Zendo, qualquer Líder Afiliado, ou qualquer outra pessoa em uma posição formal que possa acarretar claras vantagens ou influência sobre outros, deverá discutir com o abade se este potencial relacionamento é adequado e correto. O Abade, antes de formar um relacionamento desta natureza, deverá discutir com o Comitê de Aconselhamento se este é adequado e correto. É também considerado um mal uso da sexualidade o envolvimento sexual de um professor do Centro Zen com um ex-estudante antes do término do prazo de um ano, contado a partir do término do relacionamento professor-estudante .
Um cuidado especial deve ser tomado com novos membros do Centro Zen. Nós acreditamos que um novo membro demora aproximadamente seis meses para estabelecer os fundamentos da sua prática e começar a entender a complexa natureza dos relacionamentos internos da Sangha. A fim de proteger a oportunidade de prática que todo novo membro tem, nós esperamos que qualquer membro com mais de seis meses de prática aja com especial cuidado antes de formar um potencial relacionamento com qualquer pessoa durante os primeiros seis meses da sua participação, como membro, das atividades do Centro Zen.
Qualquer pessoa que vier ao Centro Zen, em qualquer condição, tem o direito de não ser assediado sexualmente. Continuar expressando interesse sexual, após ser informado de que tal interesse não é bem-vindo, também é considerado um mal uso da sexualidade (Ver Seção II, Relacionamentos Bilaterais, e Seção III, Assédio Sexual, no texto infra).

4.Eu decido não mentir, e sim falar a verdade.
O preceito “não mentir” é particularmente importante para a vida comunitária de uma Sangha. Apesar de as transgressões éticas poderem envolver qualquer um dos preceitos, muitas dessas dificuldades não surgiriam se não houvesse um elemento de falsidade envolvido. Mentir para si mesmo, para outro ou para a comunidade obscurece a natureza da realidade e cria obstáculos à prática do Budismo. Mentir pode incluir a retenção intencional de informação, meias-verdades, a criação deliberada de falsas impressões, e não corrigir abertamente as mentiras.
Uma comunicação aberta e direta é essencial em nosso trabalho e prática comunitária. Nós temos direito à informação completa e direta quando nós solicitamos avaliações sobre nosso comportamento, posição, ou desempenho no seio da comunidade. Com nossa solicitação esperamos que esta informação seja dada com um espírito de honestidade e compaixão.
Estudantes no Centro Zen deveriam sentir que eles podem praticar livremente em uma atmosfera de confiança. Os professores e líderes de prática do Centro Zen não devem revelar informação recebida em dokusan, daisan, ou em discussões onde a confidencialidade é solicitada e concedida, a não ser que sério dano possa resultar à indivíduos ou à Sangha se esta informação não for revelada. Mesmo quando não há solicitação específica de reserva, estas informações não devem ser partilhadas casualmente em nenhuma circunstância por nenhuma das pessoas envolvidas na conversação. No contexto do processo de ensinamento, entretanto, consultas entre professores sobre assuntos que não são estritamente confidenciais podem ser apropriadas, particularmente quando membros da equipe de funcionários estão envolvidos. Todos aqueles que se envolverem nestas consultas deverão fazer todo esforço para assegurar que isto é feito de forma sensível, justa e respeitosa.

5. Eu decido manter a minha mente clara, não abusar do álcool ou outros intoxicantes, e nem levar os outros a fazê-lo.
A prática budista ocorre dentro de um contexto de consciência e plena atenção, um estado de mente que não é condicionado por tóxicos de nenhum tipo. Quando a claridade é perdida, é muito fácil violar os demais preceitos. Além disso, nós pretendemos que o Centro Zen seja um ambiente que apóie aqueles que estão tentando viver sem tóxicos. Portanto, álcool e intoxicação por drogas no Centro Zen é inapropriado e constitui causa de preocupação e possível intervenção.
Quando um membro está envolvido em uso abusivo de drogas ou se torna dependente das mesmas, é importante lembrar-lhe que a liberação de todos os apegos está no coração da prática Budista, e que se espera que ele ou ela busque ajuda dentro e/ou fora da Sangha. Uma vez que a negação dos fatos é freqüentemente um sintoma de dependência, a Sangha é encorajada a ajudar pessoas dependentes a reconhecer a necessidade de auxílio.

6. Eu decido não falar sobre as falhas de outros, mas sim ser compreensivo e solidário.
Este preceito deriva de nossos esforços para construir harmonia social e compreensão mútua. Declarações falsas e maliciosas, por sua própria natureza, são atos de alienação que originam-se de uma percepção ilusória de oposição entre “eu” e “outros”. Geralmente a injúria traz como conseqüências a dor para os outros, e a fragmentação para a Sangha. Quando surgir a intenção de injuriar, esforçar-se para compreender as raízes deste impulso já uma expressão deste preceito. E mesmo quando uma afirmação difamatória é consistente com os fatos, aqueles que se engajarem em criticismo gratuito podem ser feridos pela influência negativa que resulta do ato de falar de forma insistente nas falhas de outras pessoas.

7. Eu decido não enaltecer a mim mesmo e desfazer os demais, mas sim superar as minhas próprias limitações.
Enquanto que alegrar-se com nossas melhores qualidades e feitos é uma prática Budista consagrada pelo tempo, elogiar a si mesmo ou buscar um ganho pessoal às custas dos demais é uma atitude derivada de uma compreensão equivocada da natureza interdependente do “eu”. No Centro Zen, poderá ser necessário, em alguns casos, criticar a ação de certos indivíduos ou grupos. Quando tal é feito, nós devemos prestar atenção especial aos nossos motivos, ao conteúdo específico do que é dito, a quem é dito, e às potenciais repercussões da crítica.

8. Eu decido não sonegar ajuda espiritual ou material, mas conceder-las gratuitamente quando necessário.
Todas os cargos no Centro Zen, incluindo a função de Abade, existem para o apoio da prática e despertar de todos. Nem os recursos do Centro Zen nem qualquer posição dentro do Centro Zen são posse de alguma pessoa específica. Não é apropriado para qualquer um, especialmente um professor, usar seu relacionamento com o Centro Zen para obter vantagem pessoal às custas da Sangha ou de qualquer um de seus membros (Ver Seção V, Conflitos de Interesse, e Seção VI, Política Financeira – Proibição de Benefício Privado, no texto infra).
No espírito de desprendimento, grupos de tomada de decisão no Centro Zen devem tomar decisões conjuntas de forma cooperativa, e com um esforço sincero de levar em consideração todos os pontos de vista. É importante que as finanças do Centro Zen, a estrutura do processo de decisão, e as atas dos órgãos mais importantes de decisão sejam disponibilizadas à todos de uma forma acessível e compreensível.

9. Eu decido não me entregar à raiva, mas sim praticar a paciência.
O cultivo da má-vontade é um veneno para indivíduos e para a comunidade. Ainda mais corrosivo é o cultivo de idéias de vingança. Os membros da Sangha que estiverem em conflito ou tensão com outros membros ou com qualquer grupo de tomada de decisão do Centro Zen devem tentar resolver estes impasses diretamente em espírito de honestidade, humildade e de amor-bondade. Entretanto, se uma resolução informal não é viável, a mediação deve ser buscada como uma forma de esclarecer a dificuldade.

10. Eu decido não desrespeitar Três Tesouros (Buda, Dharma e Sangha), mas sim nutri-los e sustenta-los[1].
Como os Três Tesouros são inseparáveis uns dos outros, o despertar modela a nossa prática e a nossa vida comunitária, a prática modela a nossa vida comunitária e o nosso despertar, e a vida comunitária modela o nosso despertar e a nossa prática. O desrespeito a qualquer um dos três tesouros acarreta também danos para os outros dois.
Reconhecer as nossas transgressões, buscar reconciliação, e renovar o nosso compromisso com os preceitos é o trabalho da Natureza Búdica e a reafirmação nosso lugar na Sangha. Quando a integridade da Sangha é honrada e protegida, os Três Tesouros se manifestam.

Fonte: Centro Zen de Rochester
(Tradução de Francisco Scherer; Revisão de Giovanni Kakugen)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Preceitos Budistas (2)


B. As Três Resoluções Gerais

As Três Resoluções Gerais são inseparáveis da prática budista ensinada no Centro Zen. Eles representam a aspiração de qualquer seguidor do Caminho de Buda.

1. Eu decido evitar o mal. Evitar o mal significa abster-se de dano a si mesmo e aos demais – ou a animais, plantas ou à Terra – por meio de nossos pensamentos, palavras e ações.

2. Eu decido fazer o bem. Fazer o bem significa agir com base na compaixão e equanimidade de nossa natureza desperta. Como parte de nosso esforço para viver eticamente, nós abraçamos as práticas Mahayanas da confissão, do arrependimento, reparação e reconciliação.

3. Eu decido libertar todos os seres sencientes. Libertar todos os sencientes significa manifestar a nossa Natureza Búdica para o benefício de todos. Quando nós expressamos a nossa natureza desperta, nós damos aos demais a oportunidade descobrir a sua própria Mente Verdadeira.

Fonte: Centro Zen de Rochester
(Tradução de Francisco Scherer; Revisão de Giovanni Kakugen)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Preceitos Budistas

Os dezesseis preceitos são uma parte tão íntima da prática Zen que eles tem sido descritos como sendo a “veia” da linhagem ancestral. Os preceitos podem ser entendidos em muitos níveis: como apoio para a prática do despertar, como ambiente para esta prática, e como expressão do despertar propriamente dito. Embora os preceitos possam ser entendidos de diferentes pontos de vista – por exemplo, que nós não podemos seguir de forma perfeita os preceitos, ou que nós já somos completos da maneira como nós já somos – nós não acreditamos que a prática Zen pode existir na ausência dos mesmos.

A. Os Três Refúgios

Os três refúgios representam a fundação e a orientação de nossas vidas como seguidores do Caminho de Buda.

1. Eu tomo refúgio no Buda. Ao tomar refúgio no Buda, nós reconhecemos a Natureza Búdica de todos os seres. Embora haja diferentes níveis de autoridade administrativa e religiosa no Centro Zen, nós reconhecemos que todos nós somos, igualmente, a expressão da Natureza Búdica.
2. Eu tomo refúgio no Dharma. Ao tomar refúgio no Dharma, nós reconhecemos a sabedoria e a compaixão do modo de vida Budista. É através do Dharma que nós exprimimos e tornamos acessíveis os ensinamentos de Buda tal como nos foram transmitidos através da linhagem de nossos professores. O termo “Dharma” é freqüentemente traduzido como “Lei”, e nesta perspectiva nós podemos ver os ensinamentos de Buda como diretrizes para nosso comportamento em todas as áreas de nossas vidas.
3. Eu tomo refúgio na Sangha. Ao tomar refúgio na Sangha, nós reconhecemos o importante papel que a vida comunitária do Centro Zen desempenha na nossa prática. A fim de que a Sangha seja um refúgio, nós aspiramos criar um ambiente inclusivo, com espaço para compreensão e aceitação de nossas diferenças. Ao mesmo tempo, nós trabalhamos para implementar a percepção de que a Sangha e seus membros não são entidades separadas. Uma comunicação aberta e permanente dentro da Sangha é essencial para que seja criado este refúgio. Quaisquer preocupações ou conflitos éticos devem ser integralmente ouvidos e apropriadamente discutidos.

Fonte: Centro Zen de Rochester
(Tradução de Francisco Scherer; Revisão de Giovanni Kak
ugen)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os fantasmas do zazen Que tipo de zazen fazer?

Com freqüência ouvimos dizer de um ou outro: “o zazen de hoje foi bom”. O que quer dizer isso? Suponho que seja um zazen tranqüilo, sem dores nas pernas, com a mente mais concentrada. Na verdade, o que falta é uma prática mais intensiva de zazen. Não fazemos zazen para relaxar a nossa mente, nem para tornar as pernas mais flexíveis. Fazer zazen uma vez por semana é pouco, mas muito para quem faz uma vez por mês. Fazer duas vezes por semana é melhor do que fazer uma vez só. Mas duas vezes por semana pode ser pouco para quem faz três vezes ou quatro. Fazer zazen deve ser encarado como uma atividade normal como respirar, comer, tomar água, fazer as necessidades básicas exigidas pelo corpo.

Entretanto, por algum motivo, o zazen é encarado como uma atividade especial. Nem respirar, nem comer são assuntos especiais, pelo contrário. Se o zazen for realizado sem inserção em nossa rotina, então começaremos a falar “o zazen de hoje foi bom”, o “zazen de hoje foi difícil”. Esta separação em bom e mal só cria mais confusão ainda. Só existe o zazen do dia, independente de sua categoria. O zazen só deve ser realizado como parte de uma atividade comum, tal qual respirar, comer... Talvez deva se fazer o zazen sem ao menos pensar em estar fazendo zazen.<

Tem se ensinado com freqüência: “Quando você se senta sem zazen, impreterivelmente os pensamentos surgem. Quando acontecer isso, não toque no pensamento. Se o pensamento for agradável não o agarre para se lembrar depois. Se o pensamento for desagradável não o expulse. Deixe o pensamento vir, deixe o pensamento ir. Assim penetrem mais fundo no zazen e acabem com a dualidade. Tornem-se um com o universo”.

Desconheço o motivo, mas quando classifica-se o zazen de “bom” e “mal”, estamos esperando uma intenção no sentarmo-nos em zazen. Esta intenção é dispensável. Ainda que todos os zazen sejam mal, continuem sentando-se. O zazen “mal” pode ser, talvez, uma falta de concentração. Se isso for verdade, a dificuldade pode ser sanada por mais treino da mente e do corpo fazendo zazen. No caso, treinar a mente é tão importante quanto ao atleta que deve treinar o corpo. Um velocista tem de treinar muito a flexibilidade das pernas, os músculos, a velocidade e a mente. Da mesma forma, o praticante de zazen deve fazer zazen. Quanto mais se faz zazen, terá mais chances de conhecer a si próprio, de treinar a concentração, apaziguar os fantasmas da mente, controlar a respiração, disciplinar a ansiedade e diminuir a dor.

Mas não é tão fácil assim. Principalmente para aqueles que não tem o costume de sentar-se em zazen, ou senta-se pouco, esta prática requer uma disposição maior. Não se pode ensinar alguém a fazer zazen, sendo as dificuldades os momentos de melhor aprendizagem. Não obstante, arrisco-me em dar alguns conselhos. Os conselhos podem ser seguidos ou não. Eis a sugestão: no meio do zazen somos assaltados pelos pensamentos e, por alguns instantes a divagação nos arrasta numa cadeia incontrolável de emoções; a mente turva-se e torna-se impura; a pureza da mente é retomada quando me dou conta do que ocorre e imediatamente corto o ciclo do pensamento, alinho a coluna e respiro profundamente levando o ar ao abdômen e solto demoradamente pela boca. Faça isso e a mente se acalmará em instantes.

Se soubessem como o zazen é importante para a nossa qualidade de vida, de descondicionamento mental, do entendimento do dharma, da descoberta da compaixão, enfim da senda da Iluminação, não perderiam tempo com frivolidades. Ainda que em cada final de zazen repitamos “a vida e a morte são assuntos importantes, não percam tempo, iluminem neste instante”, continuamos deludidos. E a nossa delusão se tornou um apego. É uma pena, é uma pena. De qualquer forma, o momento para o entendimento não aconteceu ainda...

POSTADO POR JISHO -
http://sanghamargha.blogspot.com/

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

É preciso abandonar



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Máximas de Atisha para o Treinamento da Mente Compassiva:

Mantenha sempre uma mente alegre.
Se puder praticar, mesmo distraído, vc. estará bem treinado.
Mude sua atitude, mas permaneça natural.
Não pense na falha dos outros.
Trabalhe primeiro com as maiores imperfeições.
Abandone qualquer expectativa de resultado.
Renuncie aos alimentos venenosos.
Não seja tão previsível.
Não fale mal dos outros.
Não se ponha de emboscada.
Não leve as coisas a um ponto doloroso.
Não transfira a carga do boi para a vaca.
Não tente ser o mais rápido.
Não aja ardilosamente.
Não transforme deuses em demônios.
Não procure fazer da dor alheia as pernas da sua própria felicidade.
Treine-se imparcialmente em todas as áreas. É cruel fazer isso sempre, de
modo abrangente e sem reservas.
Sempre medite sobre tudo que provoca ressentimento.
Não dependa de circunstâncias externas.
Não interprete incorrectamente.
Não vacile.
Pratique com determinação.
Não se afunde na auto comiseração.
Não seja invejoso.
Não seja frívolo.
Não espere aplauso.
Quando o mundo está cheio de maldades, transforme todas as
adversidades no caminho de bodhi.
Seja grato a todos.
Incorpore à meditação tudo que vc. encontrar inesperadamente.

Pema Chödrön -
Comece Onde Você Está - Sextante,2003

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O milagre da mente alerta


O objeto da meditação deve ser algo como raízes em você mesmo; não pode ser apenas um tema para especulação filosófica. Deve ser como certo tipo de comida que precisa ser cozida por longo tempo ao fogo. Coloca-se o ingrediente na panela, que é coberta com uma tampa, e acende-se o fogo.
A panela somos nós mesmos, e o calor usado para cozinhar é o poder de concentração. O combustível vem da contínua prática de alertar a mente.
Sem o necessário calor, a comida nunca ficará cozida. Mas, uma vez cozida, ele revela sua natureza e nos ajuda a chegar à liberação.

Thich Nahât Hanh –
O milagre da mente alerta

domingo, 20 de setembro de 2009

A escuridão transforma-se em luz


Observe as mudanças que têm lugar na sua mente sob a luz da consciência.
Mesmo sua respiração mudou e tornou-se "não-duas" (eu não quero dizer "uma") com seu eu observante. Isso também é verdade em relação a seus pensamentos e sentimentos, os quais, junto com os efeitos deles, de repente se transformam. Quando você não tenta julgá-los ou suprimi-los, eles se entrelaçam com a mente observante.
De tempos em tempos você pode ficar inquieto e constatar que a inquietude não vai embora. Nesse momento, apenas sente-se em silêncio, acompanhe sua respiração, dê um meio sorriso e faça sua consciência brilhar sobre a inquietude. Não julgue nem tente destruí-la, por que essa inquietude é você. Ela nasce, tem um período de existência e desaparece, naturalmente.
Não se apresse demais em descobrir a origem dela. Não se esforce demais para fazê-la desaparecer. Simplesmente ilumine-a. Você verá que pouco a pouco ela se modificará, incorporando-se e ligando-se a você, o observador.
Durante toda a meditação, mantenha o sol da sua consciência brilhando. Como o sol físico, que ilumina cada folha de árvore, de arbusto e de grama, nossa consciência ilumina cada pensamento e sentimento nosso, permitindo que os reconheçamos, que fique-mos conscientes de seu surgimento, duração e dissolução, sem julgá-los ou avaliá-los, sem recebê-los com alegria ou bani-los. É importante que você não considere a consciência uma "aliada", chamada para suprimir os "inimigos" que são seus pensamentos indisciplinados. Não transforme sua mente num campo de batalha. Não lute nela uma guerra, pois todos os seus sentimentos - alegria, tristeza, raiva, ódio- são parte de você. A consciência é como uma irmã ou irmão mais velho, suave e atenciosa, que está presente para guiar e iluminar. Ela é uma presença lúcida e tolerante, jamais violenta e preconceituosa. Está presente para reconhecer e identificar pensamentos e sentimentos, não para julgá-los como bons ou maus, ou colocá-los em campos opostos a fim de que lutem uns com os outros. A oposição entre o bem e o mal é com freqüência comparada à luz e as trevas, mas se encararmos as coisas a partir de uma outra perspectiva, veremos que quando a luz brilha a escuridão não desaparece. Ela não vai embora; ela se funde com a luz; torna-se a luz.
Há pouco tempo pedi a meu convidado que sorrisse. Meditar não significa lutar com um problema. Meditar significa observar. Seu sorriso é uma prova disso. Ele prova que você está sendo gentil consigo mesmo, que o sol da consciência está brilhando em você, que você tem o controle da sua situação. Você é você mesmo e você alcançou alguma paz. E esta paz que faz com que as crianças adorem ficar perto de você.

Thich Nhat Hanh -
"O Sol meu coração - da atenção à contemplação intuitiva"

¿COMO AYUDAR?


...
Uno de los temas que mas expone la sabiduría budista es el como ayudar a los demás. ¿Por qué puede resultar que aun teniendo las mejores intenciones del mundo, intentando de ayudar de todo corazón, en realidad estemos fomentando la ignorancia, la avidez y la rabia? Porque para ayudar de verdad se require sabiduria. En el Zen se dice que la compasion sin sabiduria es debil y que la sabiduria sin compasion es peligrosa. Por ejemplo puede haber buenos amigos que nos animan a abandonar la práctica de Zazen porque dicen que es una perdida de tiempo o que no es buena para nada o porque supuestamente nos limita nuestras posibilidades de éxito en la sociedad. Y así nos cuestionamos ¿Cómo se puede ayudar verdaderamente? ¿Quién es un buen amigo?
...
Continuação no blog Mas que palabras

sábado, 19 de setembro de 2009

As Três Naturezas-Buda

As três Naturezas-Budas são: Shoin Bussho, Ryoin Bussho, e Enin Bussho.
Shoin-Bussho é a própria Natureza-Buda. Literalmente, Shoin, significa a causa fundamental, que nós temos a capacidade maravilhosa de nos tornarmos Buda.
Felizmente temos a capacidade de perceber Shoin Bussho, e essa capacidade é chamada Ryoin Bussho. Ryon signifca "perceber".
Apesar de termos tanto Shoin Bussho quanto Ryoin Bussho, para atingirmos a realização é necessário que haja alguma causa, alguma condição, já que nada acontece acidentalmente. Por exemplo, o encontro com o mestre adequado para receber a mais apropriada orientação é uma boa condição. Isto é Enin Bussho e, felizmente, nós também possuímos. Enin significa "causa cooperativa", e quando dizemos Enin geralmente pensamos em algum ambiente externo, fora de nós mesmos; mas afinal de contas o eu (self) e os outros não são duas entidades separadas. Se há algo fora de nós certamente existe também dentro de nós.
Estas três Naturezas-Buda são um tesouro dos seres humanos.

M. Hakuun Yasutani -
Oito aspectos no Budismo - ZendoBrasil

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Poema de Dogen




NIGORINAKI COCORO NO MIZU NI
SUMU TSUKI WA
NAMI MO KUDAKETE
HIKARI TOZO NARU
HIKARI TOZO NARU

Durante uma visita ao Templo Busshinji em São Paulo, participei do zazen.
Zazen, Kinhin, Zazen e no final a recitação deste Poema que apesar de não compreender o significado, me deixou muito emocionada.
Perguntei o que era esta recitação e o que significava.
Wajun-San, antigo praticante do Templo, teve a gentileza de me enviar o texto e suas possíveis tradução.

"A lua que mora nas águas do coração puro
As ondas quebrando transforma-se em luz
Transformam-se em luz".


"A lua residindo
Em meio à mente serena,
Vagalhões penetram na luz".


"Sem impurezas
A água da mente em que mora a lua
Ainda que as ondas quebrem
Continua a brilhar".

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ensinamentos do Buda

Não há nada fixo ou permanente, somos processos em transformação. Em cada encontro, nos transformamos. Cada pessoa que encontramos nos transforma.
O sofrimento surge quando "travamos", quando criamos nossas travas, nossas amarras.
***
Façam da Verdade o seu Mestre, e eu viverei para sempre.

Monja Coen -
Zen Yoga - Ed Bodigaya

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sesshin (16, 17 e 18 de Outubro)



Local: Sede Baha'i - Cachoeira do Bom Jesus - norte da Ilha de Florianópolis

Data: 16, 17 e 18 de outubro

Início: às 19hs do dia 16/10

Término: 13hs do dia 18/10

Valores: 120,00 - membros / 140,00 - contribuintes / 160,00 - não contribuintes

Inscrições e informações com Juliana: juliana@chalegre. com.br - 9971.1323 ou 3225.8896

Comunidade Zen Buddhista de Florianópolis (SC)
www.daissen.org.br

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O que é Buda?

O que significa Buda?
O que é despertar?
A gente desperta para que?

O Buda não é a idéia de um ser sábio e que permanece no seu trono de sabedoria suprema.
O Buda reflete a sabedoria no dia a dia, nos nossos encontros e desencontros. Quais são as decisões iluminadas que tomamos?
As decisões iluminadas geram alegria e contentamento ao nosso redor.
As decisões não iluminadas geram dor e sofrimento ao nosso redor.

Monja Coen –
Zen Yoga – Ed. Bodigaya

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Natureza-Buda


Foto: Diario de Uma Monja - Coleção Daidóji


No Parinirvana Sutra, Xaquiamuni Buda disse: todos os seres têm Natureza-Buda. “Todos os seres” significa não apenas os seres humanos, mas também animais e plantas, e até mesmo objetos inanimados.
Natureza-Buda é outro nome para todas as existências nesse mundo.
...
Dogen Zenji, famoso Mestre Zen japonês do século XIII, interpretou essa frase do Parinirvana Sutra da seguinte forma: todos os seres são a própria Natureza-Buda e nada mais. Portanto, não é uma questão de ter ou não ter. É importante simplesmente perceber que todas as existências são Natureza-Buda.
...
O Terceiro Ancestral do Darma, Ganchi, escreveu na sua obra Acreditando na Mente: “é perfeita; sem nenhuma deficiência e sem nada supérfluo”. ... Todas as existências são perfeitas como são.
...
“Todos os seres são primordialmente Buda” significa, realmente, esta perfeição. Quando uma pessoa compreende verdadeiramente isto, nunca terá qualquer razão para reclamar ou ficar descontente. Porque então, não importa em qual situação a pessoa se encontra, ela pode viver a paz completamente, com gratidão de poder trabalhar pelos outros.
Esta devoção é a vida de Buda, e aprender isto é a vida do budista.
...
Do ponto de vista budista tudo tem vida. Ou podemos dizer: tudo nada mais é que a vida, a vida sendo denominada Natureza-Buda. Assim é dito: todas as existêmcias são a própria Natureza-Buda. Assim é dito: todas as existências são a própria Natureza-Buda.
...

Mestre Zen Hakuun Yasutani –
Oito Aspectos No Budismo – ZendoBrasil.

sábado, 5 de setembro de 2009

Zendô ou Sôdô


Sala de prática. Sala de prática Zen. Sala de Zazen, sentar Zen.
Sentar. Quietude de corpo e mente.
Sala, corpo, mente... Um só.
Em ordem, alinhado, quieto, limpo.
Reverenciamos em gasshô antes de entrar. O fazemos com o pé contrario ao altar, assim não inclinamos as costas para ele. Deixamos a razão para trás.
Caminhamos em shashu , atentos, presentes.
Reverenciamos em gasshô, em direção ao zafú e logo aos colegas no restante da sala. Juntos crescemos retos como os pinheiros, nos polimos como os grãos de arroz.
Coluna reta, queixo encaixado para dentro, olhos repousam semi-abertos à 45º. Mãos em forma de mudra cósmico. Respiração abdominal.
Ombros para traz e relaxados, peito aberto. Aceitamos cada momento; aceitamos a vida assim como é. Somos vida.
Relaxados e confiantes. Firmes como uma grande montanha.
Percebemos o corpo, a respiração. Sentimos os odores e sons. Percebemos os outros... têm outros? Percebemos e sentimos com o Tandem, com o abdômen, não com a mente.
Três sinos tocam indicando o inicio do zazen.
O Monge passa, fazemos gasshô. Estamos atentos, conscientes de cada instante, cada momento.
Toca o sino novamente... fim do zazen.
Zendô reflexo da mente.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Soltar as Amarras





A "Grande Mente"é a mente que tudo inclui, os oceanos, a Via Láctea, os universos, as boas ações, as más ações, tudo. Ou seja, a Mente não está limitada às minhas emoções, ao que penso, ao que sinto, é mais que isto: tornar-se a imensidão, solta, aberta, livre de todas as amarras, automatismos e condicionamentos.

O importante não é apenas experimentar a Grande Mente e essa liberdade infinita, mas poder usar a liberdade em nossa vida diária. Sem amarras, sem preconceitos, abertos ao instante e aptos a escolher o caminho que beneficie todos os seres.



Monja Coen -

Zen Yoga - Ed. Bodigaya

Zen


Exatamente aqui, exatamente agora.
Foco firme e perfeito abrange toda a vida do universo.
Isto é Zen.
Zen significa um estado de meditação profunda. Não é algo que possa ser comprado em alguma loja. Nós temos de fazê-lo!

Monja Coen -
Zen Yoga - Ed. Bodigaya

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Altar de Buda (Butsudan)


O Altar de Buda ou Butsudan pode ser feito numa mesa simples ou num altar tipo escada, de três andares.
Pode ser colocada uma toalha de mesa (pode ser branca), esta deve estar bem posicionada, centralizada.
A imagem principal (Honzon) da Escola Soto Zen é a do fundador do Budismo, Shakyamuni Buda. A imagem do Thatagata fica no centro da prateleira superior, no coração do altar. Esta área representa o Monte Sumeru (a montanha que está no centro da cosmologia Budista) e no centro dessa área fica a imagem principal.
A ambos os lado da imagem de Shakyamuni Buda colocamos as dos dois fundadores da Escola Soto Zen no Japão, Dogen Zenji (ao lado direito de quem olha) Keizan Zenji (ao lado esquerdo).

Oferta de água é colocada no centro da prateleira do meio. A água deve ser trocada diariamente.
Na prateleira mais baixa do altar de Buda, coloque o vaso de flores, o incensário e o castiçal. Os três na mesma linha. Os incensários possuem uma parte fronteira e uma traseira determinadas. Se o incensário se apoiar em três pés, um dos pés deve estar na frente. Antes do inicio do zazen ou da cerimônia, colocamos um incenso de espera (terço posterior do incensário). Os incensos devem estar bem centralizados. Em caso de termos um castiçal, este vai à direita de quem olha e as flores à esquerda. Se tivermos dois castiçais, estes ficam entre as flores e o incensário. Alternativamente, as flores podem ficar alinhadas com a água.
O Mokugyo (literalmente Peixe de Madeira, um instrumento de percussão) coloque-o à direita (de quem olha), e o(s) sino(s) à esquerda. Caso tenha apenas o sino, coloque–o a sua direita.
O mesmo formato usamos para o altar de Manjurseri Bosatsu.
Muito importante que o altar este sempre limpo e em ordem, respeitando o equilíbrio e a harmonia. Lembre de trocar a água das flores assim como retirar os restos de vela do altar e dos castiçais. Os incensários devem ser limpos diariamente.
Manter o altar limpo e em ordem faz parte da nossa prática. Mostra nossa atenção e a dedicação e o respeito com a prática e com os outros.

Adaptado das informações do site: www.sotozen-net.org.jp
Também pode ver em: http://zendovirtual.wordpress.com/pratica-em-casa/como-fazer-um-altar-para-sua-casa/
Revisado por Monja Isshin

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dana – Doação espontânea

A prática da compaixão é marcada pelo impulso de partilhar, chama-se Dana a doação de recursos para sustentar as atividades da comunidade budista. Os alunos precisam estar atentos para não estarem na posição de quem recebe sem nada dar em troca, porque esta postura coloca o recebedor em uma situação constrangedora de quem recebe, é carregado pelos outros, mas não consegue ajudar os restantes seres com o seu próprio esforço.

Desde os tempos de Buddha a comunidade é sustentada pelos praticantes generosos, que cada um de nós possa olhar para a Sangha e pensar: ela existe também por minha causa, e os que sofrem podem aqui buscar refúgio.

Monge Genshô

DHARMA COM PIPOCA NO CINEMA DO CIC

EXIBIÇÃO DO FILME "A PARTIDA"




A Partida
Okuribito - 2008
Japão / 130 min / Drama
Direção: Yojiro Takita.

SINOPSE:

Daigo Kobayashi toca violoncelo em uma orquestra que acabou de fechar e fica desempregado. Ele resolve voltar para sua cidade natal com sua mulher e recomeçar a vida em um novo emprego. Ao procurar trabalho nos classificados do jornal, consegue vaga arrumando defuntos que serão cremados. Daigo se torna orgulhoso e perfeccionista em sua nova tarefa de ser o porteiro entre a vida e a morte. Leia mais!

Assista o trailer: http://www.youtube. com/watch? v=yZ_a3NlQqpI
Local: Cineclube Nossa Senhora do Desterro - CIC
Data: 27 de Agosto
Horário: 20 horas
Ingresso: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)

Obs: Favor chegar com pelo menos 15 minutos de antecedência.
Mais informações:centrozenfloripa@gmail.com

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Verdadeira Fé no Budismo

Meu professor, Harada Roshi, estabeleceu oito aspectos importantes para o estudo do Budismo, que denominou "Verdadeira Fé no Budismo". Apesar de se referirem diretamente à essência do ensinamento, esses pontos são simples. Quem os compreender claramente poderá se considerar conhecedor daquilo que é o Budismo.
Os oito aspectos são:
1.Natureza-Buda
2.Interpretação incorreta de "si mesmo"ou do "eu"
3.Vida Eterna
4.Lei da Casualidade
5.Existência de Todos os Budas
6.Atração mútua entre Buda e todos os seres
7.Um, não dois
8.Caminho para o estado Buda
...

Hakuun Yasutani, 1966
Oito Apectos no Budismo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

FUKANZAZENGI - Regras universais do Zazen

(Manual de meditação do mestre Eihei Dogen - Japão, 1200 - 1253 dC)

Agora, quando procuramos a fonte do Caminho, descobrimos que é universal e absoluta. Torna-se desnecessário distinguir entre prática e iluminação. O ensinamento supremo é livre, então por que deveríamos estudar os meios de atingi-lo? Sem dúvida, o Caminho está bem longe da delusão. Por que, então, preocupar-se com os meios de eliminá-la?

O Caminho está completamente presente onde você está, então qual a necessidade de prática e de iluminação? Contudo, se no início houver a menor diferença entre você e o Caminho, o resultado será uma separação maior do que aquela entre o céu e a terra.

Se surgir o menor pensamento dualista, você perderá sua mente-Buda. Por exemplo, algumas pessoas se orgulham de sua compreensão, e acreditam que estão ricamente dotadas com a sabedoria de Buda. Crêem que já alcançaram o Caminho, iluminaram suas mentes e conquistaram o poder de tocar os céus. Imaginam que estão andando no reino da Iluminação. Mas o fato é que quase perderam o Caminho absoluto, que está além da própria iluminação.

Ainda se vêem as marcas daquele que por seis anos sentou-se ereto e se ouvem os ecos do Monte Shaolim onde por nove anos sentou-se de face para a parede aquele que transmitiu o selo da mente. Já que estes antigos sábios eram tão diligentes, como podem os praticantes dos dias atuais deixar de praticar zazen? Devemos parar de correr atrás de palavras e de letras e aprendermos a nos retirar e refletir sobre nós mesmos. Quando assim fazemos, nosso corpo e mente são naturalmente transcendidos, e nossa natureza-Buda original se manifesta. Se almejarmos realizar a sabedoria de Buda, devemos começar a praticar imediatamente.

Para fazer zazen, é desejável um local tranqüilo. Devemos ser moderados no comer e no beber, abandonando todo relacionamento deludido. Deixando tudo de lado, não pensemos nem no bem, nem no mal, nem no certo, nem no errado. Assim, tendo cessado a agitação da mente, abandonamos até mesmo a idéia de nos tornar Buda. Isto é verdadeiro não só para o zazen, mas para todas as nossas ações cotidianas, sem apego ao sentar ou ao deitar.

Geralmente, colocamos um acolchoado quadrado no chão, onde vamos sentar, e sobre ele uma almofada redonda. Podemos sentar na posição de lótus ou na de meio lótus. Na primeira, colocamos o pé direito sobre a coxa esquerda, e em seguida o pé esquerdo sobre a coxa direita. Na segunda, apenas colocamos o pé esquerdo sobre a coxa direita. As roupas devem ser folgadas, mas bem arrumadas. Em seguida, colocamos o dorso da mão direita sobre o pé esquerdo e o dorso da mão esquerda sobre a palma direita, com as pontas dos polegares se tocando levemente. Devemos nos sentar perfeitamente eretos, nem inclinados à direita, nem à esquerda, nem para frente, nem para trás. As orelhas devem estar alinhadas com os ombros e o nariz alinhado com o umbigo. A ponta da língua deve ser colocada no palato, os lábios e dentes devem ficar fechados. Mantendo os olhos entreabertos, respiramos suavemente pelas narinas. Finalmente, tendo regulado o corpo e a mente fazemos uma respiração profunda, movendo nosso corpo para a esquerda e para a direita e então, devemos ficar imóveis, sentados tão firmes quanto uma rocha. Existe o pensar, existe o não pensar e existe o inconcebível. Esta é a verdadeira base do zazen.

Zazen não é meditação passo a passo. É o portal do Dharma da agradável tranqüilidade, é a prática e a realização da Iluminação, é tornar-se o "koan". A verdade aparece, não mais havendo delusão. Se compreendermos isto, estaremos completamente livres, como um dragão na água, ou um tigre recostado na montanha. O Dharma Correto surge naturalmente e ficamos completamente livres de todo cansaço e confusão. Ao terminarmos o zazen, devemos mover o corpo devagar e nos levantar com
calma. Não devemos nos mover bruscamente.

Pela virtude do zazen, é possível transcender a diferença entre o comum e o sagrado e obter a capacidade de morrer sentado ou de pé. Além do mais, é impossível para nossa mente discriminatória compreender como os Buddhas e Ancestrais do Dharma comunicaram a essência do Zen a seus discípulos, com o levantar de um dedo, com uma vara, jogando uma agulha ou batendo com o martelo de madeira; ou como eles transmitiram a iluminação com o levantar de um hossu, de um punho, de um bastão ou com um grito.

Tampouco, este assunto pode ser compreendido através de poderes sobrenaturais ou de uma visão dualista de prática e iluminação. Zazen é a prática além dos mundos subjetivos e objetivos, além do pensamento discriminatório. Assim, nenhuma discriminação deverá ser feita entre o inteligente e o não-inteligente. Praticar o Caminho com todo o respeito é, em si mesmo, iluminação. Não existe separação entre a prática e a iluminação, ou entre o zazen e a vida cotidiana.

Os Buddhas e Ancestrais do Dharma, tanto neste país, quanto na Índia e na China, todos preservaram cuidadosamente a mente-Buda e incentivaram assiduamente o treinamento Zen. Devemos, pois, nos dedicar exclusivamente, e sermos completamente absorvidos pela prática do zazen. Apesar da divulgação de inúmeras maneiras de se compreender o Budismo, devemos praticar somente o zazen. Não há motivo para abandonarmos nosso assento de meditação e fazermos viagens inúteis a outros países. Se nosso primeiro passo for errado, inevitavelmente tropeçaremos.

Já tivemos a boa fortuna de nascer com um corpo precioso, então, não devemos desperdiçar nosso tempo à toa. Agora que sabemos qual é a coisa mais importante no Budismo, como podemos ficar satisfeitos com o mundo transitório? Nossos corpos são como o orvalho sobre a relva, e nossas vidas como o clarão de um raio, que desaparece num instante.

Sinceros praticantes Zen, não se espantem com o Verdadeiro Dragão, nem gastem muito tempo inutilmente apalpando apenas uma pequena parte do elefante. Dediquem seus esforços ao caminho que leva diretamente à natureza-Buda. Respeitem aqueles que alcançaram o conhecimento completo, que estão sem intenção de intenção.

Tornem-se um com a sabedoria dos Buddhas e assim, sucessores legítimos da iluminação dos Ancestrais. Praticando desta maneira, certamente serão capazes de compreender tudo isto. Então, a casa do tesouro naturalmente se abrirá e vocês poderão se servir à vontade.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Os Princípios do Zazen de Mestre Dogen

...

Por favor, meus caros discípulos, considerai que a
nossa vida é tão vã e efêmera quanto a gota de orvalho
sobre a relva de manhã, e que o nosso destino é tão
impermanente quanto o sonho ou ilusão, a bolha d'água
ou a sombra.

Quando uma gota d'água cai no oceano,
Quando um grão de pó cai na terra,
A gota d'água já não é uma gota d'água,
Torna-se oceano,
E o grão de poeira já não é um grão de poeira,
Torna-se a terra inteira.

...

O Zen de Dogen não é ambição de vir a ser mais do que
humano, um ser especial, Buda ou Deus. Tampouco é a
esperança de ter a visão da vacuidade, ou de fazer
milagres. É voltar à condição normal do espírito
humano.
A prática do zazen traz a paz interior. Além disso, o
vosso zazen influencia toda a humanidade, todo o
cosmo.
Zazen é um jogo, o maior de todos. Só os que o
compreenderam continuam a praticar.

O Anel do caminho -
Taisen Deshimaru