sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sesshins no Templo Busshinji



Saikawa Roshi e discípulos no Sesshin de Inverno 2009

Veja as datas dos próximos Sesshins (retiro zen) no Templo Busshinji

Sesshin da Primavera
16, 17, 18, 19 nov 2009
Colaboração: R$ 150,00

Sesshin da Iluminação
13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 dez 2009
Colaboração: R$ 200,00

O retiro será coordenado pela equipe de monges do Templo Busshinji, tendo como responsável o Mestre Saikawa Roshi.
Inscrições no local ou por telefone.
O Templo Busshinji fica na Rua São Joaquim, 285. Bairro da Liberdade, São Paulo - SP. Tels: (0xx11) 3208-4345/4515

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Poema


"Quando meus olhos comuns
Encontram riachos, flores, nevens e montanhas,
Vejo apenas riachos, flores, nuvens e montanhas
E sinto, por um momento,
Distrais as minhas preocupações...

Mas, quando meus olhos de sabedoria
Encontram riachos, flores, nuvens e montanhas
Vejo que sou, eu mesmo, Riacho, flor, nuvem e montanha...
E a Suprema Felicidade
É minha única Natureza."


Poema de um discípulo do Mestre Zen Vietnamita Thich Nhat Hanh-
Enio Burgos,
"Autoencontro, Vida em pleno Contentamento",
Editora Bodigaya.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Realizando o ponto fundamental

Um peixe nada no oceano e, não importa para quão longe nade, não há um fim para a água. Um pássaro voa no céu e, não importa quão longe voe, não há nenhum fim para o ar. No entanto, o peixe e o pássaro jamais abandonaram seus elementos. Quando sua atividade é grande, seu campo é grande. Quando sua necessidade é pequena, seu campo é pequeno. Assim, cada um deles cobre toda sua extensão, e cada um deles experiência totalmente o seu domínio. Se o pássaro abandonar o ar, morrerá imediatamente. Se o peixe abandonar a água, morrerá imediatamente.
Sabei que a água é vida e o ar é vida. O pássaro é vida e o peixe é vida. A vida deve ser o pássaro e a vida deve ser o peixe.
É possível ilustrar isto com mais analogias. A prática, o esclarecimento e as pessoas são assim.
***
Agora, se um pássaro ou um peixe tentar alcançar o fim do seu elemento antes de nele se movimentar, este pássaro ou este peixe não encontrará seu caminho ou seu lugar. Quando encontrais vosso lugar onde estais, ocorre a prática, realizando o ponto fundamental. Quando encontrais vosso caminho neste momento, ocorre a prática, realizando o ponto fundamental; pois o lugar, o caminho, não é nem largo nem estreito, nem vosso nem dos outros. O lugar, o caminho, não se transportou do passado e não está meramente começando agora.
Conseqüentemente, na prática - esclarecimento do caminho de buda, encontrar algo é aprender a manejá-lo - fazer uma prática é praticar completamente.


Dogen Zenji -
Genjo Koan - A lua numa gota de orvalho

domingo, 26 de julho de 2009

O espírito da velha dama

Tetsu recebera a educação de mestre Dogen; jovem, inteligente, bom zazen, bom samu, era o terceiro de Eihei-ji. Ejo, mais velho que Dogen, tornara-se, apesar disso, seu discípulo e criado. Respeitava Dogen, que o tratava igualmente com respeito. Ejo possuía um espírito profundo, repleto de compaixão.
Tetsu era "perfeito" e muito hábil: sutra, postura, zazen, comportamento, em tudo ia muito bem. Mas tinha um ponto fraco: não possuía "o espírito de compaixão da velha dama" e não podia seguir a ordem cósmica. Por isso mesmo, pouco tempo antes de sua morte, Dogen mandou chamá-lo e disse-lhe:

_ Sabes tudo acerca do budismo, mas não podes abandonar tua habilidade e tua inteligência. Hás de ter " o espírito da velha dama, o espírito da grande compaixão". Essa compaixão deve ajudar a humanidade inteira. Não penses apenas em ti mesmo.

Temos em nós o espírito, nem raro nem especial, do Buda. Devemos acreditá-lo inconsciente, natural, automaticamente. É a verdadeira fé. Nós e Buda não estamos separados. É preciso ir além do poder do Buda ou de Deus. Perder o próprio ego e ter o espírito de compaixão.
Mas isso não depende nem da inteligência, nem da técnica, nem do saber.

Taisen Deshimaru-
A tigela e o Bastão

sábado, 25 de julho de 2009

Lembranças de outros sesshin

Nunca um sesshin é igual ao outro: os participantes são diferentes, os instrutores, inclusive o mestre. Cada vez que participamos, alguma coisa aprendemos, algo acabamos abandonando. Acredito, que acima de tudo aprendemos a abandonar, sem nada ganhar, sem lucro, sem perda. No início, queremos apenas participar. Maior é o entusiasmo do que a capacidade em sentar-se. Logo surgem as dores nas pernas, nas costas e a paciência vai se esvaindo a cada sessão de zazen. Torna-se árduo o período de uma sessão, um alívio o seu término. Pessoas que costumam sentar-se uma vez por semana, talvez por suas dificuldades de adaptação, não conseguem enfrentar um sesshin de mais de dois dias. Dois dias? Muito pouco! Penso que não seja apenas uma questão de ordem física, como o surgimento de dores. É muito pior do que isso. É a mente. Por excesso de condicionamento mental, a concentração torna-se um imenso delírio. Não se trata de uma hipótese, antes uma possibilidade demonstrada pelo próprio príncipe Sidharta. Nos sete dias seguidos, dia e noite, em que ele sentou-se abaixo da árvore da sabedoria - árvore bodhi - toda forma de dores surgiu. Em forma do demônio Mara, o incômodo das dores tinha por reflexo o medo, a sensualidade, a vaidade, o orgulho, a ira, a inveja, a preguiça e outros mais.
Tomemos estas manifestações por referência. Bem, não estamos falando mais de Sidharta, mas de nós mesmos. A única diferença entre os que se submetem ao sesshin e os outros é que uns desistem pelo caminho, convencidos pelo demônio Mara a alimentar mais o medo, a sensualidade, a vaidade... Os que insistem na prática, com determinação continuam no sesshin, não são melhores que os primeiros, mas podem estudar a sí próprios diante de manifestações do tipo medo, sensualidade, vaidade... Quem sabe, os que realizam todo o sesshin têm a capacidade de verificar que o demônio Mara não passa de uma ilusão, pois não tem substância própria. Mara existe apenas na mente dos iludidos. Ainda que se saiba disso, uns sabem porque todos os caminhos do dharma levam a isso, outros porque experimentaram no corpo e na mente a inconsistência de sua existência. Ainda que a certeza possa ser um ato de fé, a certeza pode ser conclusiva quando a experimentamos na pele e ossos. Dito de outra forma, não acredite naquilo que está fora de você, e se existir algo fora, temos que eliminá-lo.
Quando chega-nos o carnaval, podemos descansar, ou participar das atividades carnais desta festa popular. Vejo que não conseguimos fugir da carne. Se todos os caminhos levam à pele suada, aos exercício frenéticos do corpo e da mente em igual intensidade, podemos também participar do carnaval. Lembro-me que numa dessas ocasiões, um jornalista veio visitar o dojo de prática, e perguntou ao monge qual era a diferença entre os carnavalescos de avenida e salões e dos que recolhiam-se em retiro em atitude inversa. "Que inverso - disse o monge - nós também participamos usando o corpo em nossa atividade". Percebi naquelas palavras que existia mais semelhanças do que diferenças.
Foi também num Sesshin de Carnaval que perguntei ao mestre se existia uma atitude mais nobre por parte dos que submetiam-se ao zazen intensivo do que aqueles que se divertiam nas festas de carnaval. "Não, nada de nobre existe na sua prática", ensinou-me ele. Disse-me que a mente de quem participava do sesshin, devia ser de atenção. No caso do carnavalesco, se a mente dele também estivesse em permanente atenção, que diferença existia com a mente em atenção de um praticante de budismo?
Assim praticamos o Caminho. O Sesshin é um ótimo momento para intensificar o nosso entendimento. Uns realizam o sesshin nas montanhas, respirando o ar puro das matas, mesclando zazen, relaxamento e ecologia. Outros internam-se além dos muros dos templos. Para alguns, o sesshin é uma realização mística. A forma de realizá-la depende da orientação de seus mestres. Pode ser um treinamento árduo ou leve. Mas acredito sobretudo que temos por referência Sidharta, o Buda, que não se importou com conforto, nem com as condições ambientais, apenas sentou-se. Disse na ocasião: "Daqui não arredarei pé, nem que fique ossos e pele, antes de atingir a Iluminação". Não seria esta a atitude mais sensata para um praticante de budismo?

Publicado por Jisho Handa -
Blog Sangha Margha, em 20 de janeiro de 2007.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Desapego

Certa ocasião, um monge entrou na sala do mestre, ofereceu incenso, fez as devidas reverências e disse: "Mestre, abandonei todas as coisas, estou livre de quaisquer apegos, o que faço agora?". O mestre respondeu: "Desapegue-se, livre-se disso".
Confuso, o monge perguntou novamente: "O senhor não compreende, mestre. Eu disse que estou completamente desapegado de tudo. O que faço?". E o mestre respondeu: "Então, carregue isso com você".
Há uma expressão antiga que diz o seguinte: "No começo a montanha era montanha. Depois, a montanha não era mais montanha. No final, a montanha é só uma montanha".
Os vários estágios de nossa vida. Nossos apegos e desapegos. Vista de longe, a montanha é apenas uma montanha. Se a adentramos veremos folhas secas, os galhos, as teias de aranha, as árvores e os arbustos, os animais, os insetos, os buracos, as cavernas, os cadáveres e os nascimentos. Tudo estará fragmentado e, aos olhos inexperientes, assustador. A montanha já não é uma montanha, mas as partes que ela contém.
A montanha é apenas uma montanha, mas foi conhecida internamente, intimamente. A vida é apenas a vida, mas sem vivê-la, como sabê-la? Dentro da própria vida, vivemos e compreendemos a vida. Desapego. Desapego é liberdade. É amar sem se grudar. É permitir ao Ser que se manifeste, sem o ente atrapalhar.
Sem apegos e sem aversões a vida é uma beleza. Percebemos a cada instante da flor sua pureza.
Sem apegos e sem aversões as pessoas são como são. Não julgamos, condenamos, vaiamos ou detestamos.
Sem apegos e sem aversões não há crimes nem ladrões, não há mortes, assassinatos, suicídios nem outros lapsos.
Sem apegos e sem aversões somos todos responsáveis pelo amanhecer dourado e pelo anoitecer de prata.
Sem apegos e sem aversões encontramos você na estrada. Reconheço seu perfume, seu sorriso, sua fala.
A terra girando nos leva, qual nave bem governada, para um destino que fazemos juntos a cada rotação. Escolhida está a rota, mas como chegamos lá? Depende sempre da gente a cantar ou a lastimar.
Vejo naquele canto uma sombra peculiar. Poderia ser de anjo, poderia ser de um altar. A sombra está se movendo.
Não sei o que esperar. Fico olhando terrificada, mãos molhadas, frio no dia quente. E então, mais que de repente, surpreendida percebo que sou eu a sombra assombrada.
Sem apegos somos livres. não grudamos feito cola. Não nos viciamos em nada.
Sem apegos somos ar, somos vento, somos nuvem.
Somos sombra passageira de uma luz que é em nós.
Sem apegos abrimos os braços, abrimos todos os dedos, abrimos todos os nós e nos soltamos ao luar.
Na praia somos a areia, na água somos o mar. No céu voamos ligeiro, nas terras vamos devagar.
Sem apegos caminhamos, livres, mãos a abanar, prontas a pegar o fruto, a plantar, a semear.
Sem apegos acariciamos a doçura de um olhar e depois nos distanciamos com a lágrima a rolar.
No momento imediato nosso ser já se refez. Sem apego, sem aversão, somos livres como toda a imensidão.
Nada pertence ao ser, pois o ser é tudo. Não há nada a perder, nem ganhar. Quando a gente compreender o desapego real, seremos capazes de cuidar de quem chegar e de quem vai.
Sem apego, sem aversão, se aproxime e me dê a sua mão.

M. Coen Sensei -
Sempre Zen - PubliFolha

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Quando me amei de verdade (adaptação)

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E, então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso é ser autêntico.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável…Pessoas, tarefas, crenças, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é saber viver a vida intensamente.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes.
Hoje descobri a humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez, plenamente.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.”

Adaptação dos versos de Kim e Alison McMillen, do livro com o mesmo nome…
do blog:
Monja Isshin

terça-feira, 21 de julho de 2009

Consciência no Momento Presente (2)

...
(Thay desenha em um quadro) Este círculo representa nossa consciência, e a parte mais baixa é chamada de consciência armazenadora. A parte superior é chamada a consciência mental. Na base da consciência de armazenadora, são armazenados muitos tipos de sementes: a semente do amor, a semente da compreensão, a semente do perdão, a semente do desespero, a semente da raiva - positiva e negativa -, elas são todas mantidas e preservadas na consciência de armazenadora. E toda vez que uma destas sementes é tocada ou regada, se manifestará na consciência mental superior como uma zona de energia, "energia número um." Criando seu medo, seu ciúme, seu desespero, sua depressão.
Um praticante é alguém que tem o direito de sofrer, mas que não tem o direito de não praticar. Pessoas que não são praticantes permitem que sua a dor, desgosto e angústia os subjuguem, os pressionem para dizer e fazer coisas que não desejam. Nós, que nos consideramos praticantes, temos o direito de sofrer como todo mundo, mas nós não temos o direito de não praticar. Então, nós temos que fazer algo, buscar coisas positivas dentro de nossos corpos e nossa consciência, tomar controle de nossas situações. É normal sofrer, é normal ficar bravo, mas não é normal se permitir ser engolfado pelo sofrimento. Nós sabemos que em nossos corpos e nossa consciência existem elementos positivos que nós podemos buscar em nosso favor. Nós temos que mobilizar estes elementos positivos para proteger a nós mesmos e cuidar das coisas negativas que estão se manifestando em nós.
O que normalmente fazemos é chamar a semente da consciência para vir à tona e também se manifestar como uma zona de energia, que nós chamaremos "energia número dois." A energia de consciência tem a capacidade de reconhecer, conter e aliviar o sofrimento, acalmando-o e também o transformando. Em cada um de nós existe a semente da consciência, mas se nós não praticarmos a arte de viver atentos, então aquela semente pode tornar-se muito pequena. Nós poderemos estar atentos, mas nossa consciência será muito pobre. Claro que, quando você dirige seu carro, você precisa de sua consciência. Uma quantia mínima de consciência é requerida para que você dirija, caso contrário você se envolveria em um acidente.
Nós sabemos que cada um de nós tem a capacidade de estar atento. Quando você opera uma máquina precisa de certa quantia de consciência, caso contrário acontecerá um acidente de trabalho. Em nosso relacionamento com outra pessoa, nós precisamos também de alguma quantia de consciência, caso contrário nós iremos prejudicar a relação. Nós sabemos que todos nós temos um pouco de energia de consciência, e esse é o tipo de energia que nós precisamos para cuidar de nossa dor e nosso desgosto.
Consciência é algo que todos nós podemos criar. Quando você bebe um pouco de água, e sabe que está bebendo água, isto é consciência. Nós chamamos isto de consciência de beber. Quando você inspira, e está atento que está inspirando, isso é consciência de respiração, e quando você caminha, e sabe que está caminhando, então isso é consciência de andar. Consciência de dirigir, consciência de cozinhar… vocês não precisam estar na sala de meditação para praticar a consciência. Você pode estar lá na cozinha, ou no jardim, e continuar cultivando a energia de consciência. Esta é a prática mais importante dentro de um centro de prática budista: você faz tudo atentamente, porque precisa muito desta energia, para sua transformação e cura. Você sabe que pode fazer isto, e o fará melhor se estiver envolvido por uma comunidade de irmãos e irmãs que estão fazendo as mesmas coisas que você. Sozinho você poderia esquecer, e poderia abandonar sua prática depois de alguns dias ou alguns meses. Mas se você vive permanentemente com uma Sangha, então será apoiado, e sua consciência ficará mais forte e mais forte diariamente, graças ao apoio da Sangha.
Para aqueles entre nós que praticam a consciência como uma arte de vivência diária, a semente de consciência guardada em nossa consciência armazenadora fica muito forte; e em qualquer momento que nós a tocamos, a chamamos para nos ajudar, então ela estará pronta para nós, como a mãe que, embora esteja trabalhando na cozinha, sempre está pronta para atender aos gritos do bebê toda vez que ele chorar. Assim nossa consciência está lá de forma que nós a possamos reconhecer, porque a consciência é definida principalmente como a energia que nos ajuda a saber o que está acontecendo no momento presente.
Eu bebo água, eu sei que estou bebendo a água. Bebendo a água é o que está acontecendo. Eu caminho atentamente, piso atentamente, e sei que estou fazendo passos atentos. Consciência de andar: Eu estou consciente que meu caminhar está acontecendo, e eu me concentro no andar. A consciência tem o poder de trazer concentração. Quando você bebe atentamente sua água, você se concentra em seu ato de beber. Se você se concentra, a vida se aprofunda, e você é capaz de adquirir mais alegria e estabilidade apenas por beber sua água atentamente. Você pode dirigir atentamente, você pode cortar atentamente cenouras, e quando faz atentamente tais coisas, sente que você está concentrado. Você vive cada momento de sua vida diária profundamente, e todos nós sabemos que a consciência e a concentração produzirão o insight que nós precisamos.
Se você não pára, se você não fica atento, se você não se concentra, então não há nenhuma chance de você adquirir tal "insight". Meditação budista significa parar, se acalmar, se concentrar, e dirigir seu olhar profundamente no que ocorre no aqui e agora. O primeiro elemento da meditação budista é o parar, e o segundo elemento é olhar profundamente. Parar significa não correr mais, estar atento ao que está acontecendo no aqui e agora. A consciência lhe permite estar no aqui e agora, com o corpo e mente unidos. Em nossas vidas diárias acontece muito freqüentemente que nosso corpo esteja lá, mas nossa mente está em outro lugar, no passado ou no futuro, ou presa de nossos projetos, nossos medos, nossas raivas. A consciência nos ajuda a trazer a mente de volta ao corpo, e quando faz isto você subitamente fica verdadeiramente presente no aqui e agora. Assim você pode definir a consciência como a energia que lhe ajuda a estar completamente presente.
Se você está completamente presente, com sua mente e corpo verdadeiramente unidos, você imediatamente fica totalmente presente e totalmente vivo. É aquela energia que lhe ajuda a estar vivo e presente. Você pode trazer consciência a si de muitas formas: por apenas respirar, caminhar, olhar, cozinhar, por tomar café da manhã… pois você pode usar o ato de tomar café da manhã como um exercício para unir corpo e mente.
Eu gostaria de definir a consciência como a prática de estar ali, corpo e mente unidos. A prática de estar totalmente presente, a prática de estar totalmente vivo. Você tem um encontro com a vida - e você não deveria perdê-lo. O tempo e o espaço de seu encontro são o aqui e o agora. Se você perde o momento presente, se você perde o aqui e o agora, você perde seu encontro com a vida, o que é muito sério. Assim aprender a voltar para o momento presente, estar completamente presente, estar completamente vivo, é o início da meditação.
Uma vez estando ali, uma outra coisa também está lá: Vida. Se você não estiver disponível para a vida, então a vida não estará disponível para você. Quando você está com um grupo de pessoas e contempla a lua ascendente, você precisa estar atento, você precisa estar no aqui e agora. Se você se deixar perder no passado ou no futuro, a lua cheia não será para você, mas para as outras pessoas que estão ali. Assim, se você sabe praticar a respiração atenta, você pode trazer sua mente de volta a seu corpo, e pode se fazer plenamente presente e plenamente vivo, e então a lua existirá para você. Por isso eu digo que se você estiver presente, uma outra coisa estará lá também: Vida.
A Consciência ajuda-o a realizar o ato de parar. Você deixa de correr porque realmente está ali. Você deixa de ser envolvido por sua energia de hábito, por seu esquecimento. E quando você toca algo bonito, com consciência, este algo se torna um elemento refrescante e curativo para você. Com consciência nós podemos tocar as coisas positivas, e também podemos tocar as coisas negativas. Se há alegria, a consciência nos permite reconhecer isto como alegria, e a consciência nos ajuda usufruir desta alegria e a permite crescer, e nos ajuda no trabalho de transformação e cura.
...

Traduzido por Cláudio Miklos da Discussão de Dharma de Thich Nhat Hanh em Plum Village em 6 de agosto de 1998

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Consciência no Momento Presente

Nossa alegria, nossa paz, nossa felicidade depende muito de nossa prática em reconhecer e transformar nossas energias de hábito. Há energias de hábito positivas que nós temos que cultivar, há energias de hábito negativas que nós temos que reconhecer, conter e transformar. A energia através da qual nós fazemos estas coisas é a Consciência. Consciência é um tipo de energia que nos ajuda a estar atentos ao que está acontecendo. Então, quando a energia de hábito se mostra, nós sabemos imediatamente. "Olá minha pequena energia de hábito, eu sei que você está aí. Eu cuidarei muito bem de você." Reconhecendo- a como ela é, você estará no controle da situação. Você não tem de lutar com ela; de fato, o Buda não recomenda que se lute assim, porque aquela energia de hábito é você, e você não deveria lutar contra si mesmo.
Você tem que gerar a energia de consciência que também é você, e esta energia positiva fará o trabalho de reconhecer e conter a outra. Toda vez que você reconhece sua energia de hábito, você ajuda a transformá-la um pouco. A energia de hábito é como uma semente dentro de sua consciência, e quando ela se torna uma fonte de energia, você tem que reconhecê-la. Você tem que trazer sua consciência ao momento presente, e assim conter a energia negativa: "Olá, minha energia de hábito negativa. Eu sei que você está aí. Eu estou aqui com você." Depois de um, dois ou talvez três minutos, aquela energia voltará à forma de semente, para manifestar-se novamente mais tarde. Você tem que estar muito alerta.
Toda vez que uma energia negativa é contida pela energia de consciência, perderá um pouco de sua força à medida em que retorna como semente ao mais baixo nível de percepção. A mesma coisa é verdadeira para todas as outras formações mentais: seu medo, sua angústia, sua ansiedade, e seu desespero. Elas existem em nós na forma de sementes, e toda vez que uma das sementes é regada, se torna uma zona de energia no nível superior de nossa consciência. Se você não souber cuidar dela, causará dano, irá nos pressionar para fazer ou dizer coisas que magoarão a nós mesmos e as pessoas que nós amamos. Então, gerar a energia de consciência para reconhecer, conter e tomar conta destes hábitos é a prática. E a prática deve ser feita de um modo muito suave e não-violento. Não deve haver nenhuma luta, porque quando você luta, você cria danos dentro de si.
A prática budista está baseada na percepção [insight] da não-dualidade: você é amor, você é consciência, mas também é aquela energia de hábito que está dentro de você. Meditar não pretende transformá-lo em um campo de batalha, o certo lutando contra o errado, o positivo lutando contra o negativo. Esta não é uma atitude budista. Assim é que, baseado na percepção da não-dualidade, a prática deveria ser não-violenta. A consciência que contem a raiva é como uma mãe que abraça seu filho, a irmã maior que abraça a irmã mais jovem. O abraço sempre traz um efeito positivo. Você pode trazer alívio, e pode fazer a energia negativa perder um pouco de sua força, apenas a contendo.
...
Há elementos dentro de nós que não estão errados. Há elementos ao redor de nós que não estão errados. E a primeira tarefa dos meditadores é serem capazes de tocar e reconhecer estes elementos positivos, porque eles têm o poder de nutrir e curar. Se você é um psicoterapeuta, poderia gostar de tentar isto com seus pacientes: em vez de falar sobre o que está errado, você os convida a falar sobre o que não está errado com eles e ao seu redor. Às vezes nós estamos muito fracos ou muito doentes para lidar apenas com nossos elementos negativos. Antes que uma cirurgia seja feita, um doutor examinará o paciente para ver se aquela pessoa tem bastante força para resistir à cirurgia. Se a pessoa é muito fraca, o doutor tentará, através da nutrição e outros meios, a ajudar o corpo do paciente a se fortalecer antes da operação ser feita. Nós fazemos a mesma coisa aqui. Se uma pessoa sofre muito, nós não deveríamos começar falando sobre o que está errado.
Nosso corpo e nossa consciência são como um jardim: pode haver várias árvores morrendo naquele jardim, mas isso não significa que o jardim inteiro esteja morto. Talvez a maioria das árvores ainda seja vigorosa, bonita. Por isso que você não deveria permitir ao negativo lhe subjugar, porque ainda há muitas coisas que estão bem em nossos corpos e nossa consciência.
...
Na prática budista isto é muito importante. Consciência é a energia que nós geramos, e primordialmente nós queremos esta energia para nos ajudar a estar em contato com coisas positivas - alegria e felicidade.


Traduzido por Cláudio Miklos da Discussão de Dharma de Thich Nhat Hanh em Plum Village em 6 de agosto de 1998

SESSHIN PARA INICIANTES (31, 1 e 2 de agosto)



O Sesshin, retiro zen tradicional, é uma prática de introspecção e observação profunda.

Num retiro zen budista, tentamos criar as condições exteriores e interiores que nos permitem afastar a agitação e dispersão da nossa mente. Num ambiente envolvente, observamos e praticamos o silêncio, procurando falar somente o indispensável durante as atividades coletivas. A rotina de um sesshin envolve períodos de zazen (meditar sentado), intercalados com períodos de kinhin (meditar caminhando), teisho (palestras formais), oryoki (refeição em plena atenção), samu (atividades de limpeza do dojô), caminhadas meditativas e de leitura de sutras.

Um retiro oferece à oportunidade de experienciar a vida de uma forma mais leve e receptiva. Ao estarmos mais atentos e conscientes de tudo, das nossas relações de interdependência com os outros, refinamos a nossa habilidade de vivermos no "aqui e no agora".

Valores: 120,00 - membros / 140,00 - contribuintes / 160,00 - não contribuintes

Inscrições e informações com Juliana: juliana@chalegre. com.br - 9971.1323 ou 3225.8896

domingo, 19 de julho de 2009

Ser Zen

Ser Zen não é ficar numa boa o tempo todo, de papo para o ar, achando tudo lindo sem fazer nada.
Ser zen é ser ativo. É estar forte e decidido. É caminhar com leveza, mas com certeza. É auxiliar a quem precisa, no que precisa e não no que se idealiza.
Ser zen é ser simples. Da simplicidade dos santos e dos sábios. Que não precisam de nada. Nada mais que o necessário. Para o encontro, a comida, a cama, a diversão, o trabalho.
Ser zen é fluir com o fluido da vida. Sem drama, sem complicação. Na hora de comer come comendo, sem ver televisão, sem falar desnecessário. Sente o sabor do alimento, a textura, o condimento. Sente a ternura (ou não) da mão que plantou e colheu, da terra que recebeu e alimentou, do sol que deu energia, dá água que molhou, de todos os elementos que tornam possível um pequeno prato de comida à nossa frente. Sente gratidão, não desperdiça.
Come com alegria. Para satisfazer a fome de todos os famintos. Bebe para satisfazer a sede de todos os sedentos. Agradecendo e se lembrando de onde vem e para onde vai.
A chuva, o sol, o vento.
O guarda, o policial, o bandido, o açougueiro, o juiz, a feiticeira, o padre, a arrumadeira, o bancário e o banqueiro, o servente e o garçom, a médica e o doutor, o enfermeiro e o doente, a doença e a saúde, a vida e a morte, a imensidão e o nada, o vazio e o cheio, o tudo e cada parte.
Ser zen é ser livre e saber os seus limites.
Ser zen é servir, é cuidar, é respeitar, compartilhar.
Ser zen é hospitalidade, é ternura, é acolhida.
Ser zen é o kyosaku, bastão de madeira sábia, que acorda sem ferir, que lembra deste momento, dos pés no chão como indígena, sentindo a Terra-Mãe sustentando nossos sonhos, nossas fantasias, nossas dores, nossas alegrias.
Ser zen é morrer.
Morrer para a dualidade, para o falso, a mentira, a iniqüidade.
Ser zen é renascer a cada instante. Na flor, na semente, na barata, no bicho do livro na estante.
Ser zen é jamais esquecer de um gesto, de um olhar, de um carinho trocado no presente-futuro-passado.
Ser zen é não carregar rancores, ódios, cismas nem terror.
Ser zen é trocar pneu, as mãos sujas de graxa.
Ser zen é ser pedreiro, fazendo e refazendo casas.
Ser zen é ser simplesmente quem somos e nada mais. É ser a respiração que respira em cada ação. é fazer meditação, sentar-se para uma parede, olhar para si mesmo. Encontrar suas várias faces, seus sorrisos, suas dores. É entregar-se ao desconhecido aspecto do vazio. Não ter medo do medo. Não se fazer ou , se o fizer, assim o perceber e voltar.
Ser zen é voltar para o não-saber, pois não sabemos quase nada. Não sabemos o começo, nem o meio, muito menos o fim. E tudo tem começo, meio e fim.
Ser zen é estar envolvido nos problemas da cidade, da rua, da comunidade. É oferecer soluções, ter criatividade, sorrir dos erros, se desculpar e sempre procurar melhorar.
Ser zen é estar presente. Aqui, neste mesmo lugar. Respirando simplesmente, observando os pensamentos, memórias, aborrecimentos, alegrias e esperanças.
Quando? Agora, neste instante. É estar bem aqui onde quando se fala já se foi. Tempo girando, correndo, passando, e nós passando com ele. Sem separação.
Ser zen é Ser Tempo.
Ser zen é Ser Existência.

M. Coen Sensei -
Sempre Zen - PubliFolha

O Universo

"O Universo é uma jóia redonda é nós a vida desse universo, dessa jóia. Todos nós e tudo, não viemos de fora e nem vamos ficar de fora, não existe fora nem dentro, apenas jóia. O Zen nos leva a realizar e conhecer."
Monge sec.VII, China

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A religião verdadeira

Falar em uma religião verdadeira talvez possa ser interpretado da seguinte forma: se há uma verdadeira outras são falsas. Claro, sempre a minha em relação às outras. Neste caso, existe um centro irradiador de verdade em detrimento às zonas periféricas. Pode ser que a maior fraqueza das tradições monoteístas seja justamente neste ponto. Existe uma verdade. Esta verdade é única. Portanto, desconsidero todas as demais como falsas. Assim forma-se uma dialética negativa como maneira de afirmar o meu ponto de vista. Também existe nesta situação um recorte dual: o meu e o do outro. Inclusive, estendemos a dualidade no campo da relação com o sagrado: eu e a verdade.
Certa vez, acompanhando o então Superior Miyoshi à Paraíba, a fim de participar de um encontro multireligioso um estudante fez a seguinte pergunta: "Qual é a religião verdadeira?" . Sem muito pensar, a resposta foi enfática: "Aquela que promova o bem estar para a maioria". Entendi esta colocação de uma maneira mais prática frente às adversidades. De que uma religião deveria atender as necessidades humanas em primeiro lugar e depois às querelas metafísicas dos dogmas. E neste mundo há idéias demais e pouca ação. Aliás, existe também uma espécie curiosa de "budistas" que se dizem como tais navegando nas ondas da internet e discutindo idéias apenas. Encontrei certa vez um amigo, que treinara zazen mas depois se afastou mas continua "praticando" ao ler os textos budistas. Muito estranho isso. Me parece aquele "entendido" na culinária mundial apenas lendo os livros de receita. Sem provar da comida, nada pode-se falar a respeito dela.
Então estudante de História, em algum momento do curso veio como rajada aquele refrão provocatico: "a religião é ópio do povo". Pensei naquele momento que realmente a religião fosse isso. Não mudei de opinião. O que mudou foi a amplitude da minha reflexão a respeito desta colocação. Há muitas religiões que oferecem ópio, não porque elas assim querem. Existem pessoas que precisam de ópio para continuar vivendo. Quer dizer, o mundo é cruel: os homens são maus, o capitalismo é injusto, a política é corrupta, a justiça é falha, a educação é insuficiente. E ao apegar-se à ideologia salvítica dos profetas milagreiros, como ópio, uma multidão de necessitados fazem fila.
E o budismo também é ópio? Pode-se tornar caso houver praticantes que necessitem desta droga. Se a prática budista consistir na idolatria, sejam das imagens, da alegoria, das cantorias, ou de seu líder. Este é o ópio. Assim, o budismo pode ser tudo aquilo que o praticante desejar que ele seja. Pode-se acreditar no poder de Buda e de seus avatares. E no poder dos mestres? Penso que o pior ópio budista seja quando o mestre se torna idolatrado. Caso isto ocorrer, na minha singela opinião, ele deve ser destruído. Todas as imagens de adoração devem ser destruídas. Quando a destruição se estender a todo ópio budista, então encerra-se o período da ilusão.
Inversamente ao ópio da religião, o budismo se presta a ser a libertação. Por isso, fazer zazen não se ganha nada. Faço tanto reverência a Buda quanto para o mendigo que mora nas ruas. Na verdade, aquele mendigo também é um Buda. Faço zazen nas salas do templo, quanto nas favelas, prostíbulos e prisões. Me parece que os que fazem zazen apenas em lugares tranqüilos como as montanhas são egoístas. Este zazen exclusivista, protótipo da pequena burguesia, é também ópio. Tudo aquilo que estimula a ilusão é ópio. É ópio também os que lêem as frases de efeito do budismo "auto-ajuda" e não fazem nada para transformar o mundo. É cínico praticar o budismo e continuar na inércia do "faço de conta que não vejo nada". Lembrando do exemplo de Sidhartha, o Caminho requer renúncia. Renúncia inclusive da ópio das religiões.
O entendimento do Dharma é como estar navegando num único barco em que todos os outros também se abrigam. Lá se abrigam os cristãos e muçulmanos, judeus e palestinos, sábios e alienados, homens e homossexuais, cachorros e gatos. Caso o barco sofrer uma avaria, todos morrem. Há a necessidade de todos colaborarem para o bem de todos, assim, quem sabe, o barco não afunda. Pensar que apenas os gatos e os homossexuais vão afundar é uma grande ignorância.
Entendo o budismo como uma religião da libertação, que ao invés de ópio, deve lidar com a iluminação. Ajudar a todos, sem discriminação é um ato de iluminação.

Texto extraido do Blog Sangha Margha - Publicado por Jishohanda

terça-feira, 14 de julho de 2009

Mushotoku

Ao verdadeiro mestre, pouco importa a idade ou a velhice, basta haver penetrado a verdadeira Lei e ter ele mesmo obtido sua autenticidade de um mestre verdadeiro. Nele, não são, de modo algum, as palavras escritas que importam, nem a compreensão, basta que tenha uma energia extraordinária e uma vontade que ultrapasse a medida. Quem não se apega à vista do eu, quem não se detém no conhecimento sensível, aquele cujas ações e cuja compreensão se correspondem, é um verdadeiro mestre.
Depois que houverdes encontrado o verdadeiro mestre, será preciso abandonar todas as vossas relações. É o símbolo do braço cortado de Eka. Urge abandonar, ter o espírito decidido. Não desperdiceis o tempo. Levai adiante os vossos esforços e praticai o zazen, sampai, com o mestre. Não discutais, não vos zangueis, mas continuai a praticar Gyoji, Dokan. Vosso espírito deve ser não-espírito, sem nada, Mushotoku, mesmo que tenhais dúvidas. Assim não sofrereis por causa do demônio, da crítica dos outros, da loucura dos imbecis. Por vezes, os amigos influem no mal e arrastam para o caminho errado. Os amigos idiotas tornam-se demônios. Quando encontrou seu verdadeiro mestre, Eka cortou o braço. Deveis sentir, compreender por vós mesmos. E depois que houverdes decidido, ser-vos-á preciso continuar sempre. É difícil continuar. Às vezes, estamos zangados e queremos fugir. Ainda que o mestre se zangue convosco, deveis fazer sampai e continuar. É Raihai Tokuzui, conseguir a essência do mestre.

Mestre Zen Taisen Deshimaru -
O ANEL DO CAMINHO

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ilusão Passageira.

Agora que o bardo da morte desponta diante de mim,
Eu vou parar de prender as coisas, de desejar e me apegar,
Vou entrar sem distrações na clara percepção dos ensinamentos,
E ejetar a minha consciência para a dimensão da percepção não nascida.
Quando eu deixar este corpo composto de carne e sangue,
Saberei ser ele apenas uma ilusão passageira.

Padma Sambhava em
O LIVRO TIBETANO DOS MORTOS

terça-feira, 7 de julho de 2009

Amor zen

É compreensível que o discípulo de Buda não deva odiar, e que, por fim, nem consiga mais fazê-lo. Da mesma forma, ele não deve mais amar, no sentido vulgar que se atribui a essa palavra e, finalmente, nem pode mais amar dessa forma. No entanto, ele não fica insensível, indiferente. O discípulo permite que tudo e que todos partilhem, sem esperar retribuição, de sua maravilhosa capacidade de amar, que é desapaixonada, desinteressada e uniforme: ele ama apenas por amor ao amor. Isso não acontece por lhe causar prazer pessoal, ou por saciar um anseio íntimo, mas porque precisa fazê-lo devido a esse amor que transborda.

Esse amor, portanto, situa-se além do amor e do ódio. Não é como uma labareda ardente que em si própria se extingue, mas como uma tranqüila incandescência que uniformemente se alimenta de si mesma. Esse amor - que não conhece desilusão, mas não recebe estímulo exterior - esse amor em que se mesclam bondade, compaixão e gratidão, esse amor que não alicia, não se impõe, que não exige, que não persegue nem inquieta, que não dá a fim de tomar, esse amor, por isso mesmo, possui um poder realmente admirável, porque nem a esse poder ele aspira. Ele é suave, meigo, enfim, irresistível. Mesmo as coisas inanimadas se abrem pra ele, e os animais, que costumam ser medrosos e ariscos, confiam nele.

Fonte: O caminho Zen,
-Eugen Herrigel

domingo, 5 de julho de 2009

O Guru e o Discípulo

A relação entre o Guru-mentor e o discípulo é divina, visando somente o auto-desabrochar. Eles servem um ao outro com suas capacidades e o objetivo é sempre espiritual. Durante os quatro meses de treinamento, o discípulo, através do serviço e da humildade, aprende o estilo espiritual da vida, sob a supervisão direta do mestre. O mestre trabalha para transformar a vida do aluno, removendo o ego e a ignorância.
Há uma linda história relacionada com a vida do Sábio Vyasa e de seu discípulo Jaimini. Jaimini era um grande estudioso e um discípulo sincero de Vyasa, mas tinha orgulho de seu conhecimento intelectual. Um dia, Vyasa ditava uma escritura e Jaimini fazia anotações. Vyasa compôs um verso para enfatizar uma questão: “valavad indriya gramam panditan apakarshanti”-"os sentidos são tão poderosos que o homem de conhecimento às vezes comete erros”.
Após escutar isso Jaimini pensou: "Não é possível. Se alguém é um homem de conhecimento, como poderia ser dominado pela tentação dos sentidos? Pelo contrário, ele os vencerá”. Pensando assim ele modificou o verso para dizer: “valavad indriya gramam panditan-apakarshanti”- mudando então as palavras do Mestre para: "Mesmo se os sentidos são poderosos, o homem de conhecimento está livre de erros".
Onisciente, Vyasa não revelou nada. Ele queria ensinar ao discípulo a verdade da vida de forma diferente. Naquela tarde, Vyasa disse a Jaimini que tinha de ir fazer um trabalho urgente em um lugar distante e que ficaria ausente por vários dias. Confiou a Jaimini os cuidados com o fogo sacrificial. Então Vyasa partiu. Naquela noite, após a oração, Jaimini retirou-se para o quarto do fogo sacrificial para meditar. Fora havia uma tempestade com chuva e vento muito forte. Jaimini escutou alguém batendo na porta. Ele abriu a porta e viu uma senhora bonita e jovem. Perguntou o que podia fazer por ela..
Ela disse: "Estou a caminho de minha aldeia mas não posso ir por causa da chuva e da tempestade. Você poderia me dar abrigo durante a noite?” Jaimini, movido pelo sentimento de hospitalidade, permitiu que ela entrasse e ficasse a noite na cabana. A jovem senhora disse que não era bom que um brahmachari (celibatário) ficasse no mesmo quarto que ela durante a noite. Assim Jaimini saiu e tentou dormir fora.
Agora começou o jogo da ilusão. Jaimini estava sentado em silêncio, mas sua mente ía para essa jovem senhora e sua beleza. Ele pensou com seus botões: “Seria bom passar a noite solitária convesando com ela. Assim, ele bateu na porta e disse-lhe que lá fora estava frio e que seria bom ficar dentro.
Ela protestou, mas Jaimini forçou a entrada. Ele tentou falar com ela e olhava-a constantemente, o que a desgostou. Lentamente seus sentidos cresciam com tanto poder que ofuscavam sua consciência. Ele se aproximou dela e a tocou e lhe disse que ficassem juntos por uns momentos, para se divertirem e terem prazer.
Ela disse: "Você é um brahmachari, você não deveria pensar assim. Isso não está certo”. Cego de paixão ele tocou seus pés e pediu sua aprovação. Finalmente ela concordou, sob a condição de que ele se ajoelhasse como um cavalo. Então ela se sentaria em suas costas e ele daria sete voltas junto ao fogo sacrificial. Então poderia tê-la. Jaimini concordou.
Enquanto Jaimini tentava andar como um animal com uma senhora sentada em suas costas, ela começou a murmurar o verso que Vyasa tinha ditado de manhã e que Jaimini tinha modificado: “Mesmo se os sentidos são poderosos, um homem de conhecimento não comete erro”. Ao escutar isso Jaimini se deu conta de sua própria fraqueza. Ele se levantou para deixá-la, porém dois fortes braços o agarraram e seguraram. Não eram os tentadores braços da jovem, mas os braços de seu amado guru Vyasa.
Assim Vyasa ensinou a seu discípulo a verdade da vida e como estar sempre cuidadoso e atento em cada passo da vida. O guru transforma a vida do discípulo para torná-lo mais espiritual e mais precioso.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Passear na montanha

Um mestre passeava na montanha. Quando regressou, um discípulo lhe perguntou:
- Mestre, onde fostes passear?
- Na montanha - respondeu o mestre.
O discípulo insistiu:
- Mas que caminho tomastes, que vistes?
Respondeu-lhe o mestre:
- Segui o aroma das flores e acompanhei o curso dos brotos novo.
Devemos deixar-nos guiar pelo dharma do Buda, confiar nas ervas e nas flores que medram sem propósito, sem egoísmo, natural, inconscientemente.
Essa resposta provinha da fonte da sabedoría.
A verdadeira sabedoria deve ser criada além do saber da memória.

A Tigela e o Bastão -
Mestre Taisen Deshimaru - Ed. Pensamento