domingo, 31 de janeiro de 2010

Superando a faculdade da dúvida

A fim regular sua mente, você deve primeiramente estar livre da poluição: pensamentos comuns....

Dê alimento a mente. Dirija a mente. As pessoas comuns são dirigidas pela mente. Mas um buscador, um que quer trazer disciplina a sua vida, diz a mente para seguir seu comando. No começo, a mente será muito pouco cooperativa e criará problemas. A mente ama o poder. Se você tentar tirar o poder de alguém que tem sede de poder esta pessoa criará muitos problemas. De maneira semelhante, a mente está sempre com sede de poder porque, previamente, ela estava jogando com você. Mas um buscador espiritual joga com a mente. O homem comum é jogado pela mente. Então agora eu presto atenção na minha mente, eu vejo minha mente, eu direciono minha mente para isto, então isto se transforma num jogo bonito. Eu jogo com minha mente.

Um buscador espiritual, alguém que quer crescer, vem ao professor e pergunta se é possível acalmar a mente e transformá-la...o controle da mente é possível somente através da respiração, nada mais. Você pode mudar sua mente somente através da respiração ...

Se você observar sua respiração sua mente ficará calma. Se você não pode fazer nada tente prestar atenção continuamente na sua respiração. "Eu não perderei uma única respiração. Eu prestarei atenção, cada respiração continuamente, constantemente. Eu amarei isso. É a respiração de Deus". Apenas observe e veja. Agora as pessoas querem saber o que nós queremos dizer com prestar atenção à respiração. Quando você inala e exala, você está inalando e exalando dia e noite. O ar está atravessando as narinas e está saindo. Há uma leve fricção do ar quando atravessa o nariz. Preste atenção nesta fricção do ar, como está indo no começo. Preste atenção na fricção do ar, quando está indo para dentro e preste atenção quando está saindo. Observe-a apenas.
...

Regule sua respiração. Se você prestar atenção a sua respiração você irá vigiar seus pensamentos. Se você vigiar uma coisa, você vigiará tudo. Lembre-se. Se eu estiver olhando o prato, eu estou prestando atenção no alimento e no prato também. Se você prestar atenção na respiração, você prestará atenção nos pensamentos. Você prestará atenção na freqüência dos pensamentos, na agitação dos pensamentos, e se você vigiar, somente prestando atenção na respiração, então lentamente, os pensamentos diminuirão. Isto vem da experiência prática. Se você prestar atenção na sua respiração, seus pensamentos diminuirão. Apenas observe a sua respiração, enquanto faz tudo. Preste atenção na sua respiração enquanto você cozinha, cortando os vegetais. Atrás de cada atividade, a respiração está entrando e saindo; preste atenção. Preste atenção fielmente e sinceramente e sua mente será regulada. Para conseguir o controle sobre sua mente, você necessita de prática regular de qualquer técnica que você usa ou de qualquer meditação que você ama.

palestra proferida por Paramahamsa Prajñanananda em 2001

sábado, 30 de janeiro de 2010

A Faculdade da Dúvida


Foto: Michel Seikan


A segunda definição da mente nas escrituras yogues é que a mente é a faculdade da dúvida. A mente, sendo um fluxo de pensamentos, sempre cria confusão. A mente humana comum está sempre confusa sobre o que deveria ou não fazer. Ela não pode decidir-se sobre o que é bom ou mau. A mente vive na confusão. Ela ama a confusão. Se não houver nenhuma confusão, lembre-se então que você não é uma pessoa com uma mente comum, sua mente está filtrada. Sua mente é pura.

A mente pura está livre da confusão. Sabe o que fazer, o que pensar, o que dizer com completa clareza, não há nenhuma confusão. Eu estou convencido. Eu estou bem convencido do que penso, do que falo, do que faço . Se a mente estiver nesse estado, essa mente não é comum, ela é mais do que isso. Então, as pessoas comuns, estão sempre na confusão. Elas não estão certas sobre o que estão fazendo ou o que estão pensando. Por exemplo, muitas pessoas não têm nem mesmo certeza sobre o motivo pelo qual vieram aqui. Eu frequentemente pergunto em palestras públicas porque as pessoas vieram. Elas frequentemente foram a muitas outras palestras e a outros lugares mas, se elas foram a essas, porque vêm agora e estão aqui. Se você tiver realmente uma mente desobstruída, então você não se moverá de um lugar para o outro. Ao invés disso você dirá a si mesmo, "Minha mente está firme. Eu sei isso, eu farei isso." Muitas pessoas me pedem para explicar sobre outras técnicas mas eu não posso. Eu não sei nenhuma técnica exceto a técnica que eu aprendi de Baba. Nada além. Nada mais. Aquilo que Baba me ensinou, essa eu sei bastante. Então, este bastante eu fiz e através disto eu consegui muitas coisas. Eu não necessito ir em lugar algum para ganhar alguma coisa. Tudo que ele me ensinou é o bastante e eu pratiquei. Esteja certo sobre o que você necessita.

A mente ama a confusão. Ela vive na confusão. Se a confusão se for, a mente não está lá. Então, a mente é a faculdade da dúvida na pessoa. Quando há uma dúvida dentro de você, lembre-se que é a mente que está criando a dúvida.



palestra proferida por Paramahamsa Prajñanananda em 2001

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Treine sua mente



Para treinar sua mente, você necessita de um guia que saiba como treinar. Na vida espiritual, os mestres espirituais são os guias e podem mostrar-nos como controlar a mente, assim como nós necessitamos de um instrutor para nos ensinar a dirigir um carro.

A mente é o fluxo dos pensamentos. Lembre-se desta definição. Um pensamento não é mente. Suponha que você tem um pensamento, "vir ao ashram," este é o seu pensamento. É um pensamento, ele não é a mente. Uma linha não é um pedaço de pano. Ela se transforma de um monte de linhas para um pedaço de pano ou de um lenço, quando é tecida de uma maneira especial. A mente é um fluxo de pensamentos relacionados uns com os outros. Um pensamento geralmente não é seguido de um pensamento não relacionado. Não, eles são geralmente ligados. Quando você medita, se você tiver atenção, você pode facilmente saber. Suponha que você lembre que não fez algum trabalho. Então você pensa que se não o fizer hoje não terá tempo amanhã e que deve fazê-lo agora. Então você pensa que pode fazê-lo após a meditação. E então você pensa que talvez possa fazê-lo agora mesmo, e pode terminar a meditação imediatamente. E assim vai. Então a mente é um fluxo de pensamentos, assim como um rio é um fluxo de água.

Há outro paralelo entre a mente e a água. Você pode olhar a água e saber se a água é boa ou não, se você quer bebê-la, ou nadar nela. Similarmente, você pode avaliar a qualidade do pensamento que flui dentro de você.

Os iogues eram grandes psicólogos. Eles disseram que se você quisesse mudar sua vida, só precisaria tomar conta de sua mente e tudo o mais conseguido. Se você quiser ser livre, tome cuidado com sua mente. Sua mente o libertará e se qualquer coisa for um obstáculo em sua vida, isto não é nada mais que a sua mente. A mente pode ser muito útil na sua vida, mas também pode ser a causa de caos. Saiba o que a sua mente é e use-a muito sabiamente. Quando você tem um carro, você sabe usá-lo. Entretanto, se você me der um carro, eu não sei usá-lo. Eu posso precisar de alguém que possa me ajudar ou que possa dirigir para mim. Então conheça sua mente e use-a, então você alcançará o destino.

Para conhecer a sua mente você necessita da auto-análise, do auto-questionamento, e da introspecção. Analise que tipos de pensamentos lhe estão vindo muito freqüentemente. Por exemplo, um discípulo da França foi a Índia. Antes de retornar, ele me disse que estava desesperado para comer salada porque na Índia não pode encontrar a salada Ocidental. Quando chegou a França ele comeu somente salada no almoço e no jantar porque ele sentia uma necessidade desesperada dela.

Você deve saber duas coisas quando você quer compreender e controlar sua mente. Uma é saber a qualidade dos pensamentos; que tipo de pensamentos lhe estão vindo constantemente. Se são bons, os pensamentos inspiradores estão vindo-lhe repetidas vezes, então você é uma pessoa altamente elevada; não somente pode inspirar a você mesmo, você pode inspirar outras pessoas.

Agora o segundo é a quantidade de pensamentos. Quão freqüentemente os pensamentos estão vindo até você, um após o outro. Assim a qualidade do pensamento e a quantidade do pensamento determinam o estado de sua mente.

Eu já disse que a mente é o fluxo dos pensamentos. As pessoas inteligentes regulam o fluxo, mas as pessoas comuns nadam e flutuam, seguindo o fluxo. Agora com este exemplo da água e do rio você pode facilmente saber o quanto você perde se você não regular a água no rio. Este fluxo da água em um rio é contínuo da nascente ao oceano. Se você souber obstruir o rio com uma represa, você pode irrigar, fazer eletricidade e controlar o nível do rio.

A mente é um presente natural de Deus. Se você for sábio bastante, então você pode facilmente regular sua mente e pensamentos e tornar sua mente útil não somente para você mesmo, mas também para outros. Mas, se você não souber regular a mente, a mente simplesmente seguirá flutuando. Você desperdiçará sua vida. Assim como podemos remover do rio a poluição, você pode regular sua mente e torná-la livre de poluição. A mente que Deus lhe deu permanece limpa, não utilizada.


por Paramahamsa Prajñanananda

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Maturidade mental

A mente comum, imatura, é guiada por gostos e aversões. Os gostos e aversões são descritos no Yoga Sutra de Patañjali. Estas atrações e repulsões podem causar problemas em família. Por exemplo, o marido quer ler e a esposa quer dormir. O marido quer ligar a luz, a esposa quer a luz desligada, para ela poder dormir. Há um conflito entre gostos e aversões. Então o que fazer? Por que estes gostos e aversões estão aparecendo dentro de nós? Como nós herdamos isso? Como poderíamos sentir que algo é agradável? É por causa de nossa associação e do ambiente.

No ambiente onde nós crescemos, nós víamos que todos tinham alguma coisa - um carro, uma casa, um refrigerador - e nós pensamos que nós devemos ter também. Nós vamos imaginar o que os outros pensarão se nós não tivermos estas coisas.

A segunda causa dos gostos e aversões é associação. Nós provamos algo e encontramos algum prazer nisso e desenvolvemos o gosto para isso. Por exemplo, os Ocidentais que vão a Índia no começo acham a comida muito condimentada e muito apimentada. Mas, mais tarde eles adquirem o gosto para ela e gostam dela. Eu me lembro de um menininho austríaco que vivia em Nova Deli. Sua família nos visita frequentemente no ashram de Viena. Uma vez eu lhe perguntei se ele preferia a comida indiana ou a comida européia. Ele respondeu que gostava da comida indiana. Sua mãe disse que, mesmo quando fazia alguma massa ela tinha que adicionar algum tempero indiano porque ele gostava. Ele gostava da comida condimentada e apimentada por que a comia repetidas vezes.

Este processo não se limita às coisas materiais. Algumas pessoas gostam do inverno e não gostam do verão enquanto outros gostam do verão e odeiam o inverno. Quando você vive no mundo, o inverno e o verão chegarão quer você goste ou não. Isto acontece com indivíduos também - nós gostamos de alguns e não gostamos de outros. Entretanto, uma pessoa é liberta quando está livre do gosto e da aversão.

Se você quiser a maturidade mental, analise sua mente e treine sua mente. Para o crescimento físico, nós não temos que fazer muito esforço. Nós nos alimentamos, fazemos um pouco de exercício e o corpo cresce; é uma tendência natural. Mas para que a mente cresça ela necessita de um pouco de treinamento e uma mente treinada é uma mente madura. Uma mente não treinada é a causa de muitos problemas na vida. E lembrem-se, nada além desta mente é a causa do aprisionamento e da liberação.

por Paramahamsa Prajñanananda

sábado, 23 de janeiro de 2010

Maestria da Mente

Na Bíblia Jesus disse que onde há um tesouro lá está sua mente. Isto significa que se você olhar aonde sua mente está mais freqüentemente focalizando, você verá do que você gosta mais e do que é mais valioso para você. Analise sua mente e observe que tipo de pensamento predomina em você, que tipo de pensamento está vindo a você repetidas vezes. Na vida espiritual, a auto-análise é necessária porque revela que tipo de mente nós temos. A mente comum move-se para fora mas uma mente controlada permanece quieta. A mente comum move-se para fora em direção aos objetos dos sentidos - através dos sentidos porque nós pensamos que os objetos dos sentidos são agradáveis.

Uma criança gosta de comer chocolate, por exemplo. O chocolate é uma grande coisa para ela. Ela o ama. Mas se você lhe der um chocolate ela fica feliz, dois chocolates a fazem muito mais feliz, três chocolates e sua felicidade diminui. Após quatro chocolates ela pode não gostar e talvez, após o quinto chocolate, ela apenas o jogará fora. Se houvesse felicidade no chocolate ela poderia ter aceitado chocolate em qualquer quantidade, mais e mais e mais... mas na economia há uma lei, a Lei da Diminuição da Utilidade Secundária - e assim é com chocolate. Se não há nenhuma felicidade no chocolate então por que os chocolates são atrativos para ela? Por que escolheu o chocolate? Se não havia nenhuma felicidade no chocolate como ela pode encontrar a felicidade anteriormente? A felicidade não estava no chocolate. A felicidade estava dentro, mas ela sobrepôs o pensamento da felicidade no chocolate. Ela pensou que se comesse o chocolate, seria feliz.

Se você olhar para sua própria vida, determinadas coisas eram muito agradáveis para você em horas específicas, mas quando você cresceu um pouco mais, elas tornaram-se menos atrativas. Por exemplo, quando você era um menino ou uma menina, você teve um brinquedo; você deu-lhe um nome, beijou-o, dormiu com ele e talvez pensou que ele era seu amigo. Aqueles brinquedos eram tão caros para você, mas quando você cresceu um pouco mais, os brinquedos não eram mais especiais e você não tinha mais nenhuma alegria ao ver seus brinquedos velhos porque você tinha encontrado uma coisa mais agradável e foi atraído para ela. Talvez você tenha gostado uma vez de livros de figuras, ou de colorir.
Quando você cresceu você pode ter apreciado ler um livro e então você preferiu se socializar com amigos. Desta maneira se você analisar sua vida, as coisas que eram um dia agradáveis não o são mais hoje. Por que? Porque você cresceu.
Você adquiriu um pouco de maturidade. Se um menino de quinze anos viajar com um brinquedo, alguém pensará que não ele não está crescendo. Ele pode ser fisicamente maduro mas mentalmente ele não está crescendo. Ele ainda se comporta como uma criança, imatura. A maturidade física não é bastante; nós necessitamos de maturidade mental.

por Paramahamsa Prajñanananda

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O Criador de Historinhas


Nosso pensamento é um emérito criador de historinhas. Explico. Se sairmos agora andando pela rua e cruzarmos com alguém, nossa mente ordinária imediatamente inventará uma história sobre aquela pessoa, mesmo quando jamais a tenhamos visto. Logo logo a pessoa que passa por nós é rotulada como gorda, magra, feia, bonita, rica, pobre, simpática ou antipática. Mas a coisa não pára por aí. Nosso pensamento elabora muito mais. Imediatamente, pomo-nos a imaginar que, por exemplo, aquela mulher tem filhos, é faladeira, não paga suas contas, etc. Ou aquele homem: deve ser um chato, pois tem cara de chato; ou bobo; ou uma pessoa sábia; ou alguém bondoso.

Muitas vezes , a mente ordinária cria detalhes tão incríveis que , quando realmente entramos em contato direto com a pessoa , já estamos cheios de preconceitos , quer dizer , de idéias prévias a respeito dela. Às vezes , acontece assim : na fila do banco , vemos o caixa de longe e o pensamento criador de historinhas começa a trabalhar . Enquanto a fila anda , geralmente muito devagar , nossa mente ordinária vai criando, refinando, elaborando, detalhando sua historinha inventada. Deste modo , quando chega a nossa vez , já temos uma imagem daquele caixa – imagem prévia que vai determinar nossa relação com aquela pessoa , e muitas vezes envenenar , sem nenhum motivo , essa relação . Então , já ficamos mais impacientes , mais nervosos , menos tolerantes .

Assim acontece com o feirante, a manicure, o professor, o namorado de nossa filha, a vizinha do lado, o motorista do outro carro, o patrão, o empregado... Chegamos ao cúmulo de criar elaboradas historinhas em relação ao cachorro da casa em frente ou ao gato do vizinho de cima! Falei aí acima em “mente ordinária”, ou seja, aquela mente que contém pensamentos em ebulição, pensamentos que pulam de um objeto para outro, deste tema para o seguinte, sem parar, a ponto de dizermos que nosso pensamento parece um “macaquinho pulando”.

A essa mente comum contrapõe-se a mente pura , a mente primordial , essencial , que é a fonte de tudo . Nos estados de meditação ou de profunda calma , encontramos em nós mesmos essa fonte pura , que pode ser identificada como nossa natureza mais profunda . O pensamento confuso, oriundo da mente ordinária , acaba com nossa paz interior . Faz com que , por exemplo , cultivemos raiva desnecessariamente, contra alguém que , em verdade , não é nada assim como pensamos, e que , muitas vezes , pode passar por nós tendo de nossa pessoa - construindo, portanto , sobre nós uma historinha – uma visão segundo a qual somos bons , simpáticos , etc.

Cultivar a paz interior é, pois , também , tentar prestar atenção às historinhas que nossa mente criativa elabora. É descartar essas historinhas. É ter consciência do fato de que nossa mente cria historinhas, o que já significa o primeiro passo para nos livrarmos delas e caminhar , não somente na direção de nossa paz interior , mas igualmente no sentido da construção da paz no mundo em que vivemos.


Um texto de J. Carino

do blog: http://folhasnocami nho.blogspot. com/

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Declaração budista sobre as alterações climáticas


Uma declaração budista sobre as alterações climáticas

Esta declaração resulta dos contributos de cerca de vinte mestres de todas as tradições budistas que participaram na redacção da obra A Buddhist Response to the Climate Emergency (Uma resposta budista à emergência climática, Wisdom Publications, 2009).

O texto intitulado «Chegou o momento de agir» (tradução da versão original em língua inglesa The Time to Act is Now) de inspiração pan-budista, foi redigido por David Tetsuun Loy (mestre zen) e pelo venerável Bhikkhu Bodhi (mestre da tradição Theravada), contando ainda com a contribuição científica do Dr. John Stanley. Esta declaração tem como seu primeiro subscritor o Dalai Lama. Convidamos todos os membros da comunidade budista internacional preocupados com esta questão a lerem este documento e a juntarem a sua voz, subscrevendo-o.


Chegou o momento de agir
Uma declaração budista sobre as alterações climáticas



Vivemos hoje numa época de grave crise, confrontados com os desafios mais sérios que a humanidade alguma vez experimentou: consequências ecológicas do nosso karma colectivo. A constatação unânime dos cientistas é esmagadora: as actividades humanas estão em vias de provocar um desastre ecológico à escala planetária. O aquecimento global, em particular, está a acelerar-se a um ritmo mais rápido do que se previa, sendo hoje patente no Pólo Norte. Durante centenas de milhares de anos, o Oceano Árctico esteve coberto por uma camada de gelo tão vasta como a Austrália que se encontra actualmente em rápido desaparecimento. Em 2007, o Grupo Intergovernamental de Especialistas em Evolução Climática (GIEC) previu que, por volta de 2100, o derretimento estival dos gelos seria total, mas é hoje evidente que corremos o risco de isso vir a suceder dentro de uma ou duas décadas. A vasta extensão de gelo da Gronelândia está também a derreter mais rapidamente do que se previra. O nível do mar vai aumentar pelo menos um metro ao longo deste século, o que provocará a inundação de inúmeras zonas costeiras, assim como de importantes áreas cultivadas de rizicultura de vital importância como o Delta do Mekong, no Vietname. Por todo o mundo, os glaciares diminuem velozmente. Se as políticas económicas actuais não mudarem, os glaciares do planalto tibetano, que alimentam os grandes rios que fornecem água a milhões de pessoas na Ásia, desaparecerão nos próximos trinta anos.

A Austrália e o Norte da China sofrem neste momento graves períodos de seca e uma diminuição das colheitas. Importantes relatórios, como o do GIEC, das Nações Unidas, da União Europeia e da União Internacional para a Conservação da Natureza, concordam em afirmar que, sem uma mudança de orientação colectiva, a diminuição das reservas de água e dos recursos alimentares, poderá provocar, entre outras consequências, situações de fome, conflitos motivados pela disputa dos recursos, assim como migrações maciças até meados do século – porventura, mesmo, até 2030, segundo o primeiro conselheiro científico do governo britânico.

O aquecimento global desempenha um papel essencial em outras crises ecológicas, como o desaparecimento de numerosas espécies vegetais e animais que partilham a Terra connosco. Os oceanógrafos assinalam que metade das emissões de carbono devidas à utilização de combustíveis fósseis já terá sido absorvida pelos oceanos, o que aumentou a sua taxa de actividade em cerca de 30%. Esta acidificação perturba a calcificação das conchas e dos recifes de coral, ameaçando o desenvolvimento do plâncton, base da cadeia alimentar da maioria das espécies que povoam os oceanos.

Os relatórios das Nações Unidas concordam com as tomadas de posição de eminentes biólogos que afirmam que a continuação da actual política de cegueira voluntária levará à extinção de cerca de metade das espécies terrestres actualmente existentes. Estamos a transgredir, colectivamente, o primeiro dos preceitos: “Não prejudicar os seres vivos”, e estamos a fazê-lo na maior escala possível. Somos incapazes de antecipar o impacto biológico sobre a vida humana que será provocado pelo desaparecimento desta infinidade de espécies que, imperceptivelmente, também contribuem para o nosso próprio bem-estar.

Muitos cientistas chegaram já à conclusão de que está hoje em causa a sobrevivência da própria civilização humana. Atingimos um momento crucial da nossa evolução biológica e social. Nunca na história a necessidade do contributo do budismo para o bem de todos os seres se impôs com tamanha urgência. Por intermédio das quatro nobres verdades dispomos de um quadro que permite traçar um diagnóstico sobre a nossa situação actual e, assim, definir as grandes linhas de uma solução: as ameaças e catástrofes que nos assombram provêm em última instância do espírito humano, pelo que exigem uma fundamental mutação do nosso espírito. Se o sofrimento individual nasce da sede e da ignorância (dos três venenos: a avidez, o ódio e a ilusão), o mesmo sucede quanto ao sofrimento que experimentamos à escala colectiva. A urgência ecológica actual confronta-nos com o eterno sofrimento humano, de uma forma desmultiplicada. Nós sofremos como indivíduos mas também como género, de um si que se vê como separado não só dos outros mas também da própria Terra. Como diz Thich Nhat Hanh: «Nós estamos aqui para despertar da ilusão da nossa separação». Devemos acordar e compreender que a Terra é tanto nossa mãe como nossa casa. Desde logo, o cordão umbilical que a ela nos liga não pode ser cortado. Se a terra adoece, nós também adoecemos porque somos parte integrante dela. As nossas actuais relações económicas e tecnológicas com a biosfera não são viáveis. A fim de sobreviver às duras transformações que se avizinham, os nossos modos de vida e as nossas expectativas devem mudar. Isto supõe não só novos comportamentos, mas também novos valores. O ensinamento budista segundo o qual a saúde global das pessoas e da sociedade depende do bem-estar interior, e não apenas de indicadores económicos, permite-nos definir as transformações pessoais e sociais que devemos empreender.

No plano individual, devemos adoptar comportamentos que manifestem a nossa consciência ecológica no quotidiano, reduzindo assim a nossa pegada de carbono. Para aqueles que vivem em economias desenvolvidas, isto implica modernizar e isolar as casas e os lugares de trabalho para obter um melhor rendimento energético; reduzir o aquecimento no Inverno e o ar condicionado no Verão; utilizar lâmpadas e electrodomésticos de baixo consumo; desligar os aparelhos eléctricos que não estão em uso; conduzir viaturas que consumam o menos possível; diminuir o consumo de carne, favorecendo uma alimentação vegetariana, mais saudável e mais respeitadora do ambiente.

Estas iniciativas individuais, todavia, por si sós, não são suficientes para evitar futuras catástrofes. Devemos igualmente empreender transformações institucionais, no plano tecnológico e no plano económico. Logo que possível, devemos “descarbonar” as nossas produções energéticas, substituindo as energias fosseis por fontes de energia renováveis que são ilimitadas, inofensivas e que estão em harmonia com a natureza. Devemos particularmente parar com a construção de novas centrais a carvão, uma vez que esta é, de longe, a fonte mais poluente e mais perigosa de emissões de carbono na atmosfera. Inteligentemente exploradas, as energias eólica, solar, marmotriz e geotérmica poderiam fornecer toda a electricidade de que necessitamos sem prejudicar a biosfera. Cerca de um quarto das emissões de carbono mundiais são devidas à desflorestação, pelo que deveremos inverter o processo de destruição das florestas, em particular a cintura das florestas tropicais onde vive a maior parte das espécies animais e vegetais.

Torna-se hoje evidente que é igualmente necessário proceder a alterações significativas na organização do nosso sistema económico. O aquecimento global encontra-se estreitamente ligado às monstruosas quantidades de energia que as nossas indústrias devoram a fim de dar resposta aos níveis de consumo que correspondem às expectativas de tantos de entre nós. De um ponto de vista budista, uma economia sã e duradoura deve reger-se pelo princípio da suficiência: a chave da felicidade encontra-se na satisfação e não numa multiplicação crescente de bens e produtos. O comportamento compulsivo que leva a um consumo crescente é expressão de sede, aquela disposição que o Buda identificou como sendo a principal causa do sofrimento.

No lugar de uma economia submetida à lei do lucro que requer um crescimento ilimitado para não falhar, devíamos fazer evoluir o mundo em direcção a uma economia que promovesse um nível de vida satisfatório para todos, permitindo-nos assim desenvolver as nossas plenas potencialidades (incluindo as espirituais) em harmonia com a biosfera, que sustenta e nutre todos os seres, onde se incluem também as gerações futuras. Se os dirigentes políticos não são capazes de reconhecer a urgência desta crise mundial ou se ele não estão dispostos a considerar o bem estar a longo prazo da humanidade acima dos benefícios de curto prazo das companhias que exploram os combustíveis fosseis, talvez seja necessário que os contestemos mediante o desencadear de campanhas persistentes de acção cívica.

Diversos climatologistas, como o Dr. James Hansen, da NASA, definiram recentemente objectivos precisos a fim de evitar que o aquecimento global atinja um limiar crítico catastrófico. Para que a civilização humana seja viável, a taxa aceitável de dióxido de carbono na atmosfera deve ser inferior a 350 ppm (partes por milhão). O cumprimento deste objectivo é recomendado e apoiado pelo Dalai Lama, assim como por outras personalidades agraciadas com o Prémio Nobel e por prestigiados cientistas. Na situação actual encontramo-nos nos 387 ppm, nível que aumenta ao valor de 2 ppm por ano.

É assim necessário não só reduzir as emissões de carbono mas também eliminar a excessiva quantidade de dióxido de carbono já presente na atmosfera.

Enquanto signatários desta declaração de princípios budista, nós reconhecemos o desafio urgente que o aquecimento global coloca. Juntamo-nos ao Dalai Lama para apoiar o objectivo dos 350 ppm. De acordo com os ensinamentos budistas, e conscientes da nossa responsabilidade individual e colectiva, comprometemo-nos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para atingir esse objectivo, nomeadamente (mas não só) através das acções individuais e sociais aqui sucintamente indicadas.

Dispomos apenas de um curto espaço de tempo para agir, para preservar a humanidade de uma catástrofe iminente e para assegurar a sobrevivência das diversas e belas formas de vida terrestres. As futuras gerações e as outras espécies que partilham a nossa biosfera, não têm voz para nos pedir que demonstremos a nossa compaixão, sabedoria e poder de cisão. Devemos escutar o seu silêncio. E devemos também ser a sua voz e agir em seu nome.

Para subscrever a declaração:

http://www.ecobuddhism.org/350_target/350_target/buddhist_declaration_on_climate_change___french/

Fonte: http://www.uniaobudista.pt/

sábado, 16 de janeiro de 2010

Sangaku Sesshin 2010 (Retiro dos Três Treinamentos de Zen)

DATA: 6ª feira, 12 de fevereiro (noite) a 4ª feira, 17 de fevereiro, 2010 (meio-dia)
(período de Carnaval)
LOCAL: Sanga Águas da Compaixão – Jisui Zendô
Espaço Dojinmon – R. Portugal 733 – Higienópolis, Porto Alegre, RS
Valor da contribuição:
Associados ou Cotistas da Sanga Águas da Compaixão, Sanga Aikikai ou Zendô Virtual:
R$ 15 por período / R$ 35 por dia / R$ 150 integral
Não-associados/Não-cotistas:R$ 25 por período / R$ 65 por dia / R$ 280 integral.
(período manhã, tarde ou noite)
Informações:
http://monjaisshin.wordpress.com/
http://aguasdacompaixao.wordpress.com/
http://zendovirtual.wordpress.com/
http://interconexao.wordpress.com/

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sesshin da Gratidão



Conhecido também por Hoon Sesshin, acontece de 11 a 15 de fevereiro no Templo Busshinji, São Paulo. As atividades iniciam-se às 6hs, encerrando-se diariamente às 19h30. Não haverá hospedagem nas instalações do templo. As sessões de zazen são de 40 minutos, com 10 de kinhin e 10 de descanso. As refeições da manhã e do almoço acontecem no zendô, sentados em postura de zazen. Igualmente em caso das cerimônias Choka, Nichu Fugin e Banka.
Tem a direção do Superior Dosho Saikawa, responsável também em realizar Teisho, Kussen e Dokusan. O custo-doação para este sesshin é de R$ 150,00.
Templo Busshinji - Rua São Joaquim, 285, Liberdade, São Paulo. Próximo à Estação São Joaquim, do metrô. Fone: (011) 3208-4515.

Postado por Jisho às 09:37 do Blog Sangha Margha

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Experimentando nossa indelicadeza

O que significa experimentar minha própria indelicadeza? Primeiro, uma observação impessoal e sem julgamentos de meus pensamentos idelicados é necessária- sem nenhuma análise, apenas atenção pura. Segundo, devo experimentar diretamente a tensão corporal que é o espelho exato de meu pensamento separador, meu medo. Neste experimentar, neste samadhi de não-pensamento, eu sou os outros e a gentileza é a minha verdadeira natureza. Mais e mais eu vejo meus próprios pensamentos indelicados como o sonho que são (e vejo também que meus ideais são os filhos deste sonho). Nesta prática ou zazen, nossa experiência do que nossa vida é devagar clareia, e mais e mais sua expressão natural é a gentileza e a compaixão. Fácil? Nem um pouco. Acham difícil de fato nos afastar de nosso falso desejo por um ideal (sempre envolvendo julgamento sobre nós e os outros) e praticar com a experiência direta de nossa vida neste exato momento. Mas em nome de nossos votos de fidelidade a toda a vida, apenas fazemos, pacientemente e com determinação.


Charlote Joko Back.
Tradução livre para o português de Emerson Zamprogno.