sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Queimar sozinho


Mesmo que procure, não existe.
Não há nada a fazer, nada a encontrar
A não ser aquecer-me sozinho.
Queimo meu corpo
Faço luz em volta de mim.

Jukichi Yagi

     Não há outra maneira senão escolher nossa prórpia estrada na vida, caminhar com nossas próprias pernas. Não há ninguem de quem possamos depender, ninguém que possa nos ajudar. Temos que superar nossa dependência e nos sustentar por nossos próprios pés.

Shundo Aoyama Rôshi - "Para uma pessoa bonita"

Amanhecer

Foto Michel Seikan



quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Para sair siga a correnteza

     Certo dia, chegou à sua cabana de eremita (do Mestre Zen chines Daibai Hôjô) um monge que havia se perdido, perguntando-lhe como sair da montanha e chegar à aldeia mais próxima. Daibai respondeu: "Siga a Correnteza e saia", ou seja, basta seguiro  curso do rio para sair das montanhas.
     A poetisa Wariko Kai escreveu o seguinte poema:
    
     Há rochas
     Há raízas de árvores
     Chuá chuá chuá chuá
     Só chuá chuá, água fluindo.

     Pensando de modo egocêntrico, chegamos a desejar que as rochas e as raízes não existam. No entanto, se mudarmos o ponto de vista, poderemos perceber que as rochas e raízes integram a paisagem de maneira deslumbrante. É justamente por sua causa que o rio se torna atraente. A visão das ondas nelas se fragmentando está além de qualquer descrição.
     As rochas, raízes e respingos d'água são aspectos da grande natureza. A alegria, a raiva, a felicidade, a tristeza e todos os sentimentos humanos enfeitam a nossa vida. Percebendo isso podemos viver serenamente, aceitando tudo o que acontece, e conseguimos fluir como a água. Que simplesmente corre, acomodando-se a todas as formas, sem se apegar a nada.


Shundo Aoyama Rôshi - "Para uma pessoa bonita"

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Praticando além do eu

     Nos templos Zen, se diz: "Quando toca o hou, vá para o refeitório. Quando toca o sino, vá para a sala do Darma". ... Os mosteiros Zen se movem através dos sons dos instrumentos, dos sinais acústicos. Quando se ouve um destes sinais, devemos obedecê-los imediatamente.
...
     Sempre digo às unsui:
     "Os sinais são ordens categóricas. Quando a morte vier lhes buscar, é possível dizer 'espere um pouco'? Ouvindo os sinais, devemos dizer 'sim' sem hesitação, sem pensar em nosso prórpio eu. Esta é a postura correta."
     O Mestre Dôgen dizia: "Pode-se fazer tanto zazen que o chão venha a se quebrar, mas se não formos além do ego, o zazen não serve para nada."


Shundo Aoyama Rôshi - "Para uma pessoa bonita"

Mutuca

     Quando o Mestre morava em um templo quase em ruínas, em Osaka, recebeu a visita de um milionário que veio lhe falar de seus problemas. Nesse momento, uma mutuca entrou e começou a se bater contra a janela. O Mestre observava atentamente a mutuca, não parecendo prestar atenção às dificuldades do homem rico. Impaciente, o visitante falou com ironía: "parece que o senhor gosta muitíssimo de mutucas".
      O Mestre Zen respondeu:
     "Desculpe, sinto muito, mas estou com pena da mutuca. Este templo é conhecido por seu estado de ruína, com buracos por todo lado. Embora esteja livre para sair voando por qualquer fresta, esta mutuca continua batendo a cabeça sempre no mesmo lugar, como se fosse a única saída. Se continuar assim, acabará morrendo. Mas não é só a mutuca que causa pena, não é?"

Shundo Aoyama Rôshi - do livro "Para uma pessoa bonita".

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

AVISO

Comunidade Zen Buddhista de Florianópolis.

Em virtude do Sesshin de Carnaval (21 à 25/02), não haverá prática neste período. Retornaremos as atividades no próximo sábado (28/02) às 19:30h.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Ouvir a voz do vale


     A água do rio flui sempre, sem cessar. Flui rápida, não pára um só instante e se vai. Seu murmúrio evoca em mim o eco do tempo.
      A água do tempo brilha no leito do Universo, sempre correndo, fluindo. Pedras, árvores, casas e cidades também fluem vagorosamente nesta correnteza, assim como os pensamentos, as civilizações, nossas vidas e a vida de todos os seres. Tudo isso pode parecer imutável, mas na verdade essa idéia não passa de uma ilusão.
     Apenas nós seres humanos, acreditamos erroneamente que tudo é imutável. Esforçamo-nos para não sermos levados pela correnteza, e lamentamos por tudo que se vai. No entanto, mesmo sofrendo e desdobrándo-nos para evitar, caindo sete vezes e nos levantando oito, não há como parar o fluir, que envolve também nossa dor e nossa luta.
     Ao invés disso, é melhor ver as coisas como são e nos juntarmos a essa correnteza, com suavidade. Apenas assim poderemos encontrar prazer na fugacidade das coisas, uma vez que é justamente essa fugacidade que tece as mais diversas figuras na tapeçaria da vida.
...
     Se escutarmos o rio sem atenção, a água que core parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d'água passa duaz vezes sobre a mesma pedra. Não é nunca a mesma gota que forma o leito do rio ou o murmúrio da corenteza. A imutabilidade é apenas uma ilusão dos olhos e dos ouvidos humanos. Uma ve que tenha passado, a água não corre nunca mais no mesmo ponto do rio.
...

Shundo Aoyama Rôshi - "Para uma pessoa bonita"

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mãos

...

Não há outra espiritualidade
Do que viver coerente
Valores, princípios
Profundos da gente

Amor liturgia
Incondicional
Sem cobrança
Transforma em bem todo o mal

...

Ama a si mesma mulher brasileira
Não permite o abuso, a violência
Encontra meios expedientes
Sem cólera
Sem raiva,
Sem rancor
Afasta essa dor
Ensina os meninos
A compartilhar
Trabalhos de casa, crianças a educar
Mulheres e homens em parceria
Construindo uma nova maneira de ser
Viver
Harmonia
Compartilhamento
Cuidado
Ternura

...


Monja Coen

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Aprendendo a ficar

         Como espécie, nunca deveríamos subestimar nossa baixa tolerância ao desconforto. A novidade é que podemos utilizar o encorajamento para ficar com nossas vulnerabilidades. A meditação sentada, também conhecida como prática da "atenção-consciente" , é o fundamento do treinamento do bodhichitta* *. É a base natural, o solo pátrio do guerreiro-bodhisattva.

          A meditação sentada cultiva a bondade amorosa e a compaixão, as qualidades relativas do bodhichitta* *. Ela oferece uma maneira de nos aproximarmos de nossos pensamentos e emoções e de entrarmos em contato com nossos pensamentos e emoções e de entrarmos em contato com nosso corpo. É um método para cultivar a amizade incondicional para com nós mesmos e para descerrar a cortina de indiferença que nos distancia do sofrimento dos outros. É o nosso veículo para aprendermos a ser uma pessoa verdadeiramente amorosa.

          Gradualmente, através da meditação, começamos a notar que existem brechas em nosso diálogo interior. Experimentamos uma pausa, em meio à nossa contínua conversa com nós mesmos, como que acordando de um sonho. Reconhecemos a nossa capacidade de relaxar na clareza, no espaço e na consciência ilimitados que já existem em nossa mente. Experimentamos momentos de estar presente, exatamente aqui, que percebemos como simples, direto e organizado.

          Essa volta ao exato momento da nossa experiência é treinamento no bodhichitta* * incondicional. Por simplesmente estarmos aqui, relaxamos mais e mais, na dimensão aberta de nosso ser. Sentimos como se estivéssemos saindo de um mundo de fantasia e descobrindo a verdade pura e simples.


Pema Chödrön - Os lugares que nos assustam - Ed Sextante*


** Bodichitta: Chitta significa "mente" e, também, "coração" ou atitude". Bodhi significa " desperto", "iluminado" ou completamente aberto. Bodichitta "coração e mente completamente abertos".

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Caminhada Zen

Convido todos a se lançarem nesta aventura! Sairemos no próximo dia 15 do alto da Serra da Cantareira, extremo norte, limite de municípios entre São Paulo e Mairiporá e chegaremos, no dia seguinte à grande água, o lago formado pela Represa Billings, ao sul da capital. Serão aproximadamente 10 horas de caminhada, percorrendo 40 quilômetros, com uma parada no centro da cidade para meditar e dormir.


Veja abaixo o roteiro preliminar:

DIA 14 SAB FEV - 20,8 km, 5 horas de caminhada
Limite de município Mairiporã/São Paulo
Alto da Serra da Cantareira
Parque do Horto Florestal
Santana
Campo de Marte
Rio Tietê
Bom Retiro
Parque da Luz/Estação da Luz
Vale do Anhangabaú
Praça da Sé 
Liberdade
Chegada no Hotel
Prática da meditação vazia (zazen) no templo Zen-budista Busshinji
Jantar
Pernoite Hotel          

DIA 15 DOM FEV - 22,6 km, 5 horas de caminhada
Café da manhã Hotel
Aclimação
Parque da Aclimação
Cursino 
Parque do Estado
Limite de município São Paulo/Diadema
Rodovia dos Imigrantes
Jardim Ofélia
Rua do Mar Paulista
Lago da Represa Billings

Quando caminhamos, caminhamos com o corpo inteiro. Todo o corpo é a expressão da nossa relação com o universo, do dedinho do pé à nossa mente mais ampla. 

O caminho se expressa no caminhar.

Abraços,

Bruno Mitih 11 8316 1867  11 2157 4497 •  http://www.mitih.com.br

Dhammapada 146


"Que alegria pode haver, qual prazer possível,
quando tudo está sempre ardendo no fogo
do sofrimento, da impermanência e
da insubstancialidade? Recoberto pela escuridão
cego, você não pode procurar a luz!"
 
 
Dhammapada 146
 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Os lugares que nos assustam ( 2 )

O Buda disse que nunca estamos longe da iluminação, nem nos momentos em que nos sentimos mais perdidos. Mesmo as pessoas comuns, possuem a sabedoria ao seu alcance.
A sabedoria está em ter coração e mente completamente abertos aos sofrimento - nosso e dos outros. É a nossa capacidade inata de amar e de sentir compaixão.
Mesmo a pessoa mais cruel possui esse ponto sensível. Mas nos o bloqueamos com comportamentos profundamente enraizados no medo. Erguemos muros de proteção feitos de preconceito, raiva, ânsia, indiferença, inveja e orgulho - sentimentos que nos afastam da felicidade.
***
Podemos permitir que as circunstâncias da vida nos endureçam. Deixando-nos cada vez mais cheios de medos e ressentimentos, ou podemos nos tornar mais abertos em relação ao que nos assusta. Nos sempre temos escolha.
***
Na maioria das vezes tentamos nos proteger através da raiva, do ciúme, da inveja, da arrogância e do orgulho. Mas não conseguimos vencer a incerteza e o medo com essas barreiras. Temos que aprender a nos relacionar com o desconforto usando outras ferramentas, como a bondade e a compaixão.

Pema Chödrön

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Os lugares que nos assustam

Confesse suas falhas ocultas.
Chegue-se ao que considera repulsivo.
Ajude a quem acredita não poder ajudar.
Deixe ir aquilo a que está apegada.
Vá aos lugares que te assustam.
 
Conselho de seu mestre para
 a iogue tibetana Machik labdrön
 
 
Pema Chödrön - do livro Os Lugares Que Nos Assustam -  

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O segredo da noite


Conheci uma família bonita
No seu jardim "Dama da noite"
Flor rara e perfumada
Que encanta com a sua beleza.
"ela só se abre de noite... como um cometa que só vêm de tempos em tempos, ou como uma pessoa especial que só aparece quando é necessário despetar a humanidade..."(Altevir Sensei).
Bela e impermanente.
Obrigado Joce e Altair.
Dono arigato gozaimas!