quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cuidado para não dar um tiro no próprio pé

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No início minha prática era para dissolver o sofrimento e logo percebi que estava buscando a extinção como uma forma de sair do mundo, uma forma de suicídio sem deixar o corpo físico. Não sabia o perigo que corria praticando assim.
Pois, se de fato, a extinção acontecesse eu certamente, não saberia como lidar com o evento. Certamente seria assustador.

Tive sorte de ter uma mente forte e aos poucos abandonar esse caminho e ver a prática com mais leveza. Tive mais sorte em encontrar um mestre que me puxou para o Caminho do Bodisattva e me trouxe à realidade de uma prática centrada, equilibrada e harmoniosa, sem riscos para mim e para quem convive comigo.

Talvez a “morte do ego” só aconteça com a extinção, mas o que é “extinção” do ponto de vista budista?
Em geral, equivocadamente, somos levados a acreditar que extinção significa morrer fisicamente e que é necessário matar o ego para tanto. Nem um nem outro tem a ver com a morte física. Talvez confundamos a iluminação com extinção.
Extinção “significa” o fim do ciclo de nascimento e morte. Ao iluminar-se completamente Buda extinguiu todo o sofrimento e viu a verdade que ele buscava. Naquele momento ele poderia ter ido embora pois já havia realizado o que buscava. Poderia deixar seu corpo e extinguir-se, mas ele preferiu ficar por compaixão a todos os seres e ensinar o que havia compreendido. Então ele adiou sua completa extinção para levar uma vida comum e humana. Viveu até os 80 anos e morreu como qualquer simples mortal poderia morrer. Mas ao deixar seu corpo físico ele não renasceria mais em outros corpos. Seria literalmente o que já era: a verdadeira natura. O universo infinito, sem começo nem fim.

Portanto aqueles que apostam que morrendo, ou praticando à exaustão, estarão livres do ego, do sofrimento, de problemas, que sumirão do mundo e estarão livres dele estão iludidos e podem ser levados a loucura ou ao suicídio. Assim, buscar esse tipo de morte é buscar mais carma para si e todos os seres. Se vc. morre nessas condições significa que o ego triunfou. Não terá adiantado nada lutar contra o ego, pois não é esse o propósito da prática. Ela não é para matar nada, muito menos o ego. Nem para lutar contra ele, nem para forçar contra sua natureza. A prática é para dissolver processos mentais e curar a mente levando-a ao encontro da verdadeira natureza.
Ela pode ser acessada a qualquer momento independente de ego, ou de iluminação. Ser independente significa poder ir e vir de/para sua verdadeira natureza quando quiser sem precisar morrer fisicamente. Esse é o sentido mais profundo da liberdade.
Jeane Dalbo
do blog BossaZen

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Costura


A costura também é uma forma de Zen que tem um efeito de
concentração. Quando um estudante não consegue meditar com calma nas
sessões de zazen chamadas sesshin, pede-se para ele costurar pedaços
de panos para um rakusu. Através disto, a concentração é
desenvolvida ao tentar evitar se machucar com a agulha, fazendo com
que a mente e o corpo se harmonizem. Com isto, a concentração na
prática do zazen melhora. Como prática espiritual, costurar vestes
Budistas requer várias formalidades.Quando me encontrava(Daí-Em
Patrícia Bennage) no monastério das mulheres em Nagóia
(Nisodo),Rer.Kobun Okamoto, um discípulo de Kodo Sawaki Roshi, era
responsável pelo nyobo-e, uma costura de estilo japonês (wasai) de
vestes clericais. Queimava-se incenso e fazíamos três inclinações
antes de costurar nossas vestes. Mantinha-se o silêncio exceto para
perguntas em relação ao trabalho. Antigamente as pessoas que
costuravam o rakusu ou kesa faziam inclinação a cada ponto costurado
ou se inclinavam dez vezes antes de costurar dez pontos. Às vezes
antes, após costurar um ponto diziam , "Busco refúgio em Buda." E no
próximo ponto, "Busco refúgio no Dharma", e então, "Busco refúgio no
Sangha".

Fonte: Caminho Zen – Um Guia do Modo de Vida Buddhista.
Vol.10,No2.2005.

domingo, 24 de maio de 2009

O Sol meu coração

Um bom meditador usa a meditação o tempo todo em sua vida cotidiana, sem desperdiçar uma única oportunidade, um único evento, de manifestações conjuntas e dependentes. O dia inteiro a prática é realizada em perfeita concentração. De olhos abertos ou fechados, a natureza da meditação nada mais é do que samadhi. Você pode descartar a idéia de que precisa fechar os olhos para enxergar do lado de dentro e abri-los para ver do lado de fora. Um pensamento não é mais um objeto interior do que a montanha é um objeto exterior. Os dois são objetos de conhecimento. Nenhum deles é interno ou externo. Uma grande concentração é alcançada quando você está em profunda comunhão com a realidade vivente. Nessas ocasiões a distinção entre sujeito e objeto desaparece e você penetra facilmente na realidade vivente, torna-se um com ela, porque você colocou de lado todas as ferramentas para medir o conhecimento, conhecimento este que o budismo chama de “conhecimento errôneo”.

O Sol meu coração -
Thich Nhat Hanh – São Paulo : Paulus, 1995.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Penetrando nossa verdadeira natureza

Devemos criar sempre, mas a partir de onde?
Devemos criar a partir do fundo da tradição.
Devemos achar a essência... o ku, mas se quisermos achar o verdadeiro ku, teremos de achar os fenômenos.

Não devemos ser dirigidos pela história
nem pelo social.
Não devemos ignorar a históra nem o social.

Praticar o Zazen é penetrar na solidão pessoal mais completa do ser humano.

Uma pessoa só pode ser íntima de si mesma;
Atingir uma profunda intimidade.
Assim lhe é dado penetrar seu verdadeiro ego.

Nossa vida é a viagem da solidão.
O homem forte e verdadeiro, corajoso e grande,
Não necessita da ajuda de outrem
Não a deseja.

Devemos tornar-nos nossa verdadeira natureza
Devemos penetrar essa verdadeira natureza
E percorrer firmemente o caminho.
Só existe um eu.
Não há um segundo ego debaixo do meu eu.

Se obtivermos o satori, e ele aparecer dependurado na ponta do nosso nariz, isso não ficará bem.
Se formos cheios de gentileza com os outros, e ela pender da ponta do nosso nariz, não será uma verdadeira gentileza.
Em geral, as pessoas querem dissimular suas más inclinações e expor apenas seu lado bom.
Às vezes Ku, às vezes Shiki... é melhor.
Não se deve depender do que quer que seja.
Como o lavrador que trabalha no campo, de sol a sol, sem depender de nada, nem das ilusões, nem do satori.
É o lavrador total.
Nada o perturba.
As restrições são ilusões.
Significam: restringir-nos a nós mesmos.
Por exemplo:

Não amo, detesto, amo-o,
Quero honras, quero dinheiro,
Desejo ir a algum lugar, quero viajar...

Tudo isso são desejos, ilusões. Os desejos governam nossa vida cotidiana provocando o sofrimento.

São dependências.
Buda significa a Verdadeira Liberdade.
Zazen é essa Verdadeira Liberdade.

...Certa noite um ladrão entrou numa pequena ermida e não achou nada que pudesse levar. Mas divisou Ryokan adormecido debaixo da coberta. Imediatamente, apoderou-se dela e fugiu. O frio despertou Ryokan, o qual, espirrando, compreendeu que a coberta lhe fora roubada.
A Lua brilhava, magnífica, no céu e Ryokan podia vê-la da janela; compôs então este poema, que ficou famoso:

Que maravilha!
A Lua tão bela iluminando minha janela,
Por que o ladrão não a levou?


Nenhum acontecimento, fosse ele qual fosse, podia perturbar-lhe a tranqüilidade interior.
O luar brilha sobre cada pedacinho de relva. É um fenônemo cósmico universal, é a natureza de Buda, é Deus, enche todo o cosmo. Assim, podemos respirar, observar o cosmo inteiro, ouvir-lhe todos os sons, sentir e saborear os perfumes e as florestas. É preciso tocar o cosmo inteiro. É o verdadeiro zazen. É Shikantaza.
Ainda que julguemos compreender tudo, ainda que estejamos absortos no estudo da filosofia mais elevada, se não a pusermos em prática, se dela só tirarmos proveito para nós, isso não é a verdadeira religião, não é a verdadeira filosofia.
Não devemos cessar de progredir. Caminhar sempre com um passo suplementar. Nesse momento, o cosmo inteiro torna-se nosso corpo. Se abandonarmos o pequeno ego, o cosmo inteiro passará a ser o ego.
O céu e a terra têm a mesma raiz, todas as existências são unidade. Caminhando com um passo suplementar, embora estejamos vivos, estamos como mortos, morremos para nós mesmos. Abandonando sempre e ainda o ego, podemos libertar-nos. Não há impasse algum.
Portanto, praticar zazen é como pescar a luz e arar a nuvem. O espírito se amplia, tudo se acalma, podemos tornar-nos íntimos de nós mesmos. Nas religiões, pedimos a Deus ou a Buda. No Zen dirigimo-nos a nós mesmos.
Vamos sempre sós. O caminho da prática é profundamente solitário. Nem um profundo amor que votemos a outro ser suprime a solidão. O marido e a mulher na mesma cama não sonham os mesmos sonhos.
O Zen existe na prática, na repetição da prática. Mesmo que tenhamos compreendido os benefícios do zazen, é difícil perseverar na prática. Se o compreendeis, possuís um tesouro inestimável pois seguis a vida cósmica.
O Caminho é um. O que sobe é idêntico ao que desce. É o mesmo Caminho. Entretanto, no ponto de partida ele é diferente. Quando escalava a montanha, o Buda Sakyamuni ia animado de uma grande esperança, mas dela desceu exausto, com o corpo alquebrado. O Caminho que sobe é o que conduz ao satori, o que desce é o Caminho da salvação, o Caminho da compaixão, mas os dois são inseparáveis; e para lá da sua dualidade são unidade.
Praticar o zazen é satori, verdade. O próprio zazen é satori, o caminho que escala a montanha. Ao mesmo tempo, porém, o zazen é o caminho que desce da montanha.
A verdadeira sabedoria é nos compreendermos a nós mesmos.
Devemos ter essa atitude, justa, intimorata, firme; uma atitude que provoque um choque, eis aí a verdadeira atitude do zazen.
Uma atitude em parte resoluta, uma postura forte, em parte delicada, elegante, como o perfume do sândalo ou do incenso.
Quando cada consciência, ao memo tempo que muda, persevera no mesmo pensamento, este se realiza inconscientemente.
Finalmente, não devemos procurar alcançar uma finalidade, pois só assim a atingimos de fato, só assim ela se realiza inconscientemente.

-- Capítulo do livro 'O Anel do Caminho - Palavras de um Mestre Zen', de Taisen Deshimaru, Editora Pensamento, São Paulo, 1995

domingo, 17 de maio de 2009

Propósito sem propósito

Nosso modo de vida na cultura americana é orientado para objetivos e propósitos. Se não há um propósito em algo, julgamo-lo inútil.Na vida moderna de hoje, uma ação sem propósito é considerada sem sentido.
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Além do ter propósito há um outro lado da vida: o não ter propósito.Ambos os aspectos são verdadeiros. Ter propósito adapta-se bem à nossa sociedade materialista; de modo a realizar coisas, devemos ter um propósito. Ainda assim, a via do não propósito é também uma bela via: as flores desabrocham, o pássaro canta, uma criança brinca. Um biólogo pode contestar dizendo que uma flor desabrocha a fim de atrair os insetos que espalharão o pólen. Mas a flor em si nada pode fazer senão simplesmente desabrochar - não há intenção. A vida em si não tem propósito. A água flui sem esforço. Nada pode fazer senão fluir - esse é o modo como ela é. O esforço sem esforço, o propósito sem propósito, esse é o real caminho de vida. Embora nada possa ser conseguido sem esforço, o modo buddhista é um esforço sem esforço.
Quando você ama, ama. Não há propósito. Por que buscamos um significado? É claro que em nossa vida social damos "significados" às coisas e eventos; mas, com relação à essência da vida, ela simplesmente é. Se desde o começo fazemos algo com propósito e significado, então isto se torna muito rígido. Significados e razões podem ser atribuídos mais tarde, mas fazer é o propósito em si. Se continuamente vivemos em meio a uma atividade proposital e dirigida, logo nos sentiremos pressionados e o "devemos" entra em nossa vida. Não há naturalidade. Esse é o real motivo do Buddha ter ensinado que a essência da vida simplesmente é, como é.
Deveríamos aprender o modo de vida sem propósito - o fazer sem propósito. Uma pessoa utilitarista diria: "Isto não tem sentido!" Entretanto, o não-sentido é importante na vida. Inteligência demais ou eficiência demais podem causar problemas. Assim, devemos aprender a não-inteligência, que é a superinteligência.
A verdadeira vida não tem propósito. Compreender essa verdade da vida é Buddhismo. Num certo sentido isto é um propósito; de outro lado, é sem propósito. A vida é sempre assim; é inclusiva. Se a analisamos, ela se torna duas, mas a realidade é sempre uma. Aqui e agora - tempo e espaço - esse exato ponto é totalmente inclusivo. Somente quando analisamos, temos direções diferentes. A verdadeira realidade é natural e sem propósito.
Por que não desfrutar da naturalidade da vida? O fazer em si é o fruto final. Nesse estado tudo é calmo. Esse é o estado do significado sem significado. Não tem sentido e, ainda assim, de uma outra perspectiva, possui um tremendo sentido. É a própria vida. Quando alguém simplesmente é, esquece todas as outras coisas, esquece o ego. É dito: "Aprender o Buddhismo é conhecer a si mesmo. Conhecer a si mesmo é esquecer-se de si mesmo". Apenas se é. Esse estado é naturalidade perfeita. Um estado de significado sem significado e propósito sem propósito. Isto é o que o Buddha ensinou.


Sensei Gyomay Kubose
Fonte: O Centro Dentro de Nós - Ed. Nalanda

sábado, 9 de maio de 2009

O Maior Presente à Mãe



No segundo domingo de maio celebra-se o Dia das Mães. Reservamos este dia para prestar uma homenagem à nossa mãe, embora não devamos esquecê-la em nenhum dia do ano. Não preciso descrever a grandeza da maternidade nem o imenso débito de gratidão que temos para com nossa mãe. Mesmo quando tentamos fazê-lo, nossas palavras parecem débeis e insuficientes por mais que nos esforcemos. Diz-se no Shinjikan-gyo, um dos sutras budistas: “Através do amor de um pai bondoso e uma mãe misericordiosa, todos os homens e mulheres são felizes e cheios de paz. O amor do pai é mais alto que a montanha e o amor de mãe é mais profundo que o oceano”.E também no Daijukyo-sutra se diz: “Se não tiveres um Buda para servir, servir bem aos teus pais é servir bem a Buda.

De fato, precisamos tentar perceber a vastidão da dívida que temos para com nossos pais. É demasiado freqüente não darmos valor a isso. Embora devamos tanto a nossos pais, muitas vezes vemos a dedicação que eles têm por nós como a coisa mais natural do mundo. Mais que isso, nós nos queixamos deles e até chegamos a lhes causar sofrimento. Rennyo Shonin disse certa vez: “Depois que nos habituamos, fazemos coisas com os pés quando deveríamos fazê-las respeitosamente com as mãos. Precisamos estar atentos”.

Deveríamos sempre fazer o melhor possível pela nossa mãe; mas, o que é “o melhor possível?” Acredito que o melhor que poderíamos fazer é nos assegurar de que nossa mãe não tenha motivos para se preocupar conosco e que suas expectativas a nosso respeito se cumpram.

“Nós recebemos nosso corpo dos nossos pais”, disse Confúcio. “Cuidar do corpo e não prejudicá-lo é o começo da piedade filial. Tornar-se independente e buscar o trabalho de sua vida, e deixar seu nome para a posteridade, é o objetivo da piedade”.

Quer nossa mãe esteja viva ou já falecida, é muito importante não lhe causarmos preocupação; contudo, nós as deixamos inquietas.

Toda mãe cria seu filho com amorosa solicitude, e com a expectativa de que aquela criança venha a tornar-se um bom menino ou menina, um excelente homem ou mulher que desempenhe um papel valioso na sociedade. Cada um de nós deveria lembrar o amor solícito e as esperanças da mãe, e realizar suas expectativas.

As mães estão sempre pensando em nós e se preocupando conosco. A história da mãe de Johnny é verídica. É um de nossos exemplos. A Sra. Yamada costumava ficar de pé no alpendre frio e escuro da casa de fazenda na Califórnia quando o filho saía com seu caminhão carregado de verduras. Ela ali ficava até os faróis do caminhão desaparecerem na rodovia distante. Era raro que ela voltasse para a cama depois que Johnny partia para o mercado.

Certo dia, como de hábito, Johnny e a mãe tomaram café às três horas da madrugada e depois ele saiu com o caminhão. E a mãe, como sempre fazia, ficou a observá-lo do alpendre.

Mas logo Johnny percebeu que esquecera um documento importante. Estacionou o caminhão na beira da estrada e voltou a pé através dos campos. Ao se aproximar da casa, notou um vulto escuro imóvel por um instante. Encheu-se de coragem, aproximou-se e perguntou:

— Quem está aí?

E o vulto respondeu:

— Johnny é você?

Johnny aproximou-se da mãe, ela pegou suas mãos e os dois ficaram em silêncio. Ela enxugou as lágrimas e disse com suavidade:

— Johnny, não é a primeira vez que eu fico de pé aqui no alpendre. Todas as madrugadas eu fico aqui por um longo tempo, depois que os faróis do caminhão desaparecem ao longe, esperando que você esteja a salvo e não seja tentado por amigos jogadores e beberrões. É claro que eu tenho toda confiança em você, mas eu me preocupo porque há muitas tentações nesta vida e é mais fácil cair do que subir. Johnny, você nunca vai me desapontar, vai?

A mãe de Johnny estava ciente de que nos últimos tempos ele andava jogando e bebendo. Depois desse incidente, Johnny tornou-se uma pessoa diferente e se afastou por completo dos colegas beberrões e jogadores.

Alguns de nós têm a sorte de suas mães estarem vivas e outros têm a infelicidade de as terem perdido. Quer nossa mãe esteja ou não, devemos honrá-la do mesmo modo.

No Dia das Mães, aquele cuja mãe é falecida deve recordar doces lembranças dela e tentar viver o tipo de vida que ela lhe ensinou; e aquele cuja mãe ainda está a seu lado deve oferecer-lhe um jantar ou presentes e fazer o melhor possível para torná-la feliz. No entanto, dentre todos os presentes, conforto, segurança e a realização de suas expectativas a nosso respeito são os maiores presentes que podemos oferecer à nossa mãe.

Gyomay Kubose
Templo Budista Apucarana Nambei Honganji
Fonte: http://www.dharmanet.com.br

Vivendo o Darma, Vivendo o Buda

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Todavia, para verdadeiramente tocar corações, depende-mos daquilo que é transmitido sempre em um plano muito além das palavras, ou seja, através do silêncio e da meditação. Somente essa forma de transmissão, inefável e pura, unindo-nos pelo que temos de mais essencial e profundo, será capaz de fazer com que a paz do Buda possa realmente florescer, frutificar e irradiar-se, como luz de uma vela que se acende na densa escuridão, a partir desde mosteiro, em todas as direções.
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Monja Zen A. Zuiten -
Ed. Bodigaya

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ouvir a voz do Vale

A água do tempo brilha no leito do Universo, sempre correndo, fluindo. Pedras, árvores, casas e cidades também fluem vagarosamente nesta correnteza, assim como os pensamentos, as civilizações, nossas vidas e a vida de todos os seres. Tudo isso pode parecer imutável, mas na verdade essa idéia não passa de uma ilusão.

Mestre Zen Shundo Aoyama Rôshi
Para Uma Pessoa Bonita, Ed. Palas Athena

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Servir-se da fonte

Quando estávamos cavando as fundações para o centro de retiro, em Gampo Abbey, atingimos um leito rochoso e uma pequena rachadura apareceu. Um minuto mais tarde, começou a fluir água. Uma hora depois, o fluxo era mais forte e a rachadura tinha se alargado.

Assim é encontrar a bondade fundamental do bodhichitta - servir-se de uma fonte de água que esteve temporariamente presa dentro de rocha sólida. Quando tocamos o cerne da tristeza; quando no sentamos com o desconforto, sem tentar remediá-lo; quando nos mantemos presentes na dor da desaprovação ou da traição e permitimos que ela nos suavize, é nesses momentos que fazemos a conexão com o bodhichitta.

Servir-se desse local trêmulo e delicado traz um efeito transformador. Estar nesse local pode parecer incerto e inseguro, mas é também um grande alívio. Somente permanecer lá, mesmo que só por um momento, traz a sensação de um genuíno ato de bondade para com nós mesmos.

Sermos suficientemente compassivos a ponto de aceitarmos nossos próprios medos exige coragem, é claro, e isso definitivamente parece contra-intuitivo. Mas é o que precisamos fazer.

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Como disse Albert Einstein, a tragédia de nos sentirmos separado do resto do mundo é que essa ilusão se transforma em uma prisão. E, mais tarde ainda, nos tornamos cada vez mais amedrontados com a possibilidade da liberdade. Quando as barreiras desmoronam, não sabemos o que fazer. Precisamos ser prevenidos sobre qual é a sensação quando as paredes começam a ruir.Precisamos que nos digam que medo e temor são companheiros do crescer e que é preciso coragem para soltar-se. Não é possível encontrar a coragem para ir aos lugares que nos assustam sem uma investigação compassiva sobre como funciona o ego. Então nos perguntamos: " O que devo fazer quando sinto que não sou capaz de lidar com o que acontece? Onde devo procurar forças e em que devo depositar minha confiança?"

O Buda ensinou que flexibilidade e abertura trazem força e que fugir da insegurança nos enfraquece e traz dor. Mas será que compreendermos que a chave está em nos familiarizarmos com a fuga? A abertura não vem de resistirmos aos nossos medos, mais sim de passarmos a conhecê-los bem.

Em vez de atacarmos aquelas muralhas e barreiras com uma marreta, prestamos atenção a elas. Com gentileza e honestidade, nos aproximamos daqueles muros.Nós os tocamos, cheiramos e passamos a conhecê-los bem. Começamos um processo de reconhecimento das nossas aversões e anseios. Familiarizamo- nos com as estratégias e crenças que utilizamos para construir as muralhas: Quais são as histórias que conto para mim mesmo? O que me afasta e o que me atrai? Começamos a ficar curiosos sobre o que está acontecendo. Sem chamar o que vemos quando conseguimos. Podemos nos observar com humor, sem ficarmos demasiadamente sérios, moralistas ou constrangidos a respeito dessa investigação. Ano após ano, treinamos para nos tornarmos abertos e receptivos ao que quer que ocorra.Devagar, muito lentamente, as rachaduras nos muros parecem se alargar e, como em um passe de mágica, o bodhichitta passa a fluir livremente.

Pema Chödrön -
Os lugares que nos assustam - Ed Sextante