terça-feira, 12 de julho de 2011

Educar nossa vida emocional

     O eu é a raiz dos venenos mentais. Nosso espírito fabrica, projeta e liga conceitos sobre as pessoas e os objetos. A fixação egocêntrica reforça as qualidades ou os defeitos que atribuímos ao outro. O resultado é uma solidificação do corte entre eu e não eu, meu e não meu. As coisas, que nós percebemos como separadas, são na realidade ligadas. Mas nosso eu as aparta. Enquanto estivermos na ignorância e não tivermos experimentado a ausênbcia de realidade do eu, nosso espírito acreditará em sua solidez. Dar-se conta da ausência de existência inerente ao eu é um antídoto eficaz contra a fixação egocêntrica, e é o objeto do ensinamento na vida do Buda.
     Sob o efeito da atração e do desejo, o espírito se funde e se liga ao objeto de sua preensão. O desejo de posse é muito poderoso, ele cristaliza o apego ao eu e ao meu. Sentimos repulsa pelo que nos prejudica e essa repulsa vai se tranformar em ódio, depois em desordem do espírito; em palavras ofensivas, em violência. Essas emoções negativas são a causa de má saúde. Estudos médicos mostram que as pessoas que mais utilizam na liguagem da vida corrente a palavra eu, mim ou meu são mais sujeitas do que outras a doenças cardíacas. Na raíz das emoções negativas encontram-se, portanto, o eu e a crença na solidez das coisas. Precisamos nos esforçar para dissipar essa crença em níveis cada vez mais sutis.
     Educar nossa vida emocional representa um trabalho de muitas dezenas de anos para remediar sentimentos negativos que se tornaram o estado normal de nosso espírito. Pois nunca procuramos saber quem nós somos de verdade. A reificação do eu e dos fenômenos cria o corte entre sujeito e objeto. Quando se dissipa a crença na realidade do eu e do mundo, descobre-se que mesmo a sabedoria é desprovida de existência própria. Evidentemente, isso corresponde a uma etapa avançada na via.

Dalai - Lama
Minha autobiografia espiritual.
Ed. Bertrand Brasil
Disponível na Biblioteca da Sangha ZenPlanalto

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Novo Blog Buddhista!!

Parabens aos irmãos da Comunidade Zen Buddhista de Londrina pelo seu blog: http://zenlondrina.blogspot.com/.
Que todos os seres se benenficiem com este belo trabalho!!





Prática aos Domingo de 8:30 à 9:40.
Participe!!




sábado, 2 de julho de 2011

Travessia da fronteira

Travessia da Fronteira
Tenzin Tsendue - poeta e combatente da liberdade
Evoca o calvário de uma mãe tibetana acompanhando seus filhos em direção à liberdade do exílio.

Insinuando-nos silenciosamente à noite e nos escondendo 
     de dia,
Foi assim que em 20 dias alcançamos
     as montanhas nevadas.
A fronteira ainda estava a vários dias de caminhada.
O solo pedregoso sovava nosso corpo sob e esforço
     e a dor.
Acima de nossa cabeça, passou em bombardeiro,
Meus filhos soltaram um grito de terror
E se refugiaram contra meu peito.
Era tamanho o esgotamento, eu me sentia
     como se estivesse desmembrada,
Mas meu espírito vigiava...


Temos que continuar ou morreremos aqui.
Uma filha aqui, um filho ali,
Um bebê nas minhas costas,
Partimos pelos campos nevados.
Rastejamos sobre o flanco de montanhas parecidas
     com monstros
Cujas mortalhas muitas vezes cobriam
     corpos de passantes que se aventuraram por ali.


No meio desses campos da morte inteiramente brancos,
Um monte de cadáveres gelados
Despertou nossa coragem vacilante.
Manchadas de sangue se espalhando sobre a neve.
Os soldados devem ter crusado seu caminho,
No nosso país caído nas mãos de dragão vermelho.


Nós rezamos "Joia que atende aos desejos",
Com a esperança no coração, a prece nos lábios,
Não temos quase nada para comer
E só o gelo para estancar nossa sede,
Rastejamos juntos, noite após noite.
Mas, uma noite, minha filha se queixou de um pé
     que queimava.
Ela caiu e se levantou sobre a perna gelada.
A pele em farrapos e talhada com profundos
     cortes que sangravem,
Ela se encolheu, tremendo de dor.
No dia seguinte, suas duas pernas estavam perdidas.


Assaltada pela morte de todos os lados,
Eu era uma mãe impotente;
"Amala, salva meus irmãos,
Eu vou descansar um pouco."
Até eu não ouvir mais seus gemidos, que
     se prederam ao longe,
Olhei para trás, através da minhas lágrimas e 
     do suplício da dor.
Minhas pernas me carregaram, mas meu espírito
     ficou com ela.


Muito tempo depois, no exílio, eu continuo a vê-la
Agitando para mim sua mãos geladas.
Mais velha dos meus filhos, mas mal
     chegada à adolescência,
Deixar nosso país foi penoso.
Toda noite eu acendo uma vela para ela
E seus irmãos se juntam a mim na prece.


Fonte: Dalai - Lama 
Minha autobiografia espiritual.
Ed. Bertrand Brasil