terça-feira, 30 de junho de 2009

O Despertar de Dana (ou Generocidade)

Caminhando, atravessamos a aldeia cantando sutras de casa em casa - ... A monja e a dona de casa encontram-se e trocam rápidas palavras. O encontro delas traz à tona o ditoso mundo de Dana. A monja "beatifica" o mundo, e o mundo nutre, alimenta a monja. Ela vive o que a gente da aldeia aspira viver. Então, essa gente a mantém e sustenta. O encontro durante o Takuhatsu é um gracioso brinde para ambas as partes. O aldeão, ou a aldeã, alcança a sua própria aspiração espiritual; a monja alcança a razão original de abraçar a mendicância: to gan shu jo, iluminar-se junto com todos os seres. Cada vida contribui para o bem estar da outra, é uma forma especial e recíproca de beneficiar o outro. Durante o Takuhatsu, a fonte e o fruto da prática espiritual encontram-se face a face no degrau da porta e trocam... Desde que decidiu ser um instrumento do Darma, a monja é uma servente da tradição religiosa e, desta forma, do mundo inteiro. Sua vida cotidiana é diferente daquela e, para os aldeões, ela é como uma mensageira da vida mendicante, andarilha, despojada e livre.
E, novamente, ela raspa sua cabeça. Isso é um favor, um agrado imensurável! as pessoas da aldeia só podem admirar a beleza da cabeça raspada, e admiram. A monja pode realmente fazê-lo; mas só por causa dos que continuam a viver no contexto social de suas famílias e comunidades. Esta relação mútua é a base da vida religiosa no Budismo. Para cada um a prática do Takuhatsu guarda um profundo significado.

M. Zen Angelika Zuiten -
Vivendo o Darma, Vivendo o Buda - Ed. Bodigaya.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Dhammapada

"Não o andar nu nem o ter os cabelos emaranhados,
nem a imundície,
Nem o jejum, nem dormir no chão,
E o cobrir-se de cinzas, e o acocorar-se sobre os
calcanhares,
Purificam o mortal qie não está da dúvida liberto.

Aquele que, embora adornado, viver em tranquilidade,
For calmo, casto, subjugado e autocontrolado,
E tenha, para com todos os seres, deixado a vara
de lado,
Ele é deveras um brâmane, ele é um asceta, ele é
um bikshu."
...

Dhammapada*
141 - 142

Mestres e discípulos

...

TUDO OU NADA está escrito em letras maiúsculas sobre o portal da sala de exercícios freqüentada pelo discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da sabedoria que, ao se concentrar na sua essência intrínseca, se vale de qualquer meio para trazê-la à tona, para reavivá-la, Pois o significado da morte que dele se espera não é a morte propriamente dita, mas a VIDA que transcende a vida e a morte. Não se trata da destruição da existência, mas do SER que se irradia através da vida.

Karlfried Graf Dürckheim
Fonte:do site Shunya

domingo, 21 de junho de 2009

Vivendo o Darma, Vivendo o Buda (4)

Se somos não tendenciosos, abertos e sem expectativas, qualquer experiência pode nos tocar profundamente. Cada começo nos move para mais próximo da vida em si.... Vivendo a vida em completa dependência da natureza, que segue as suas próprias leis e ciclos sem nenhum sentimento privilegiado em relação aos nossos desejos e necessidades pessoais, somos constantemente desafiados e rapidamente forçados a abrir os olhos para o que realmente importa.
...
Enquanto estivermos completamente consciente de nossas incapacidades e ilusões humanas, podemos sentir e preencher nossa vocação espiritual aceitando a nossa natureza de Buda. Que presente! Finalmente estar diante da possibilidade de crescer e compreender, de maneira adequada, a nossa tendência ao auto-engano! Que alívio! Acabou a vida de bravatas, de fingir saber tudo, de ter tudo sempre sob controle, de ser sempre impecável e perfeita. De repente, as coisas entre o céu e a terra rolaram para o lugar mais apropriado...
...

Monja Zen A. Zuiten
- Ed Bodigaya

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dhammapada

"Embora um homem conquiste numa batalha mil
vezes mil homens,
O maior vitorioso em batalha seria em verdade
aquele que conquistasse a si mesmo.

A conquista de si mesmo é deveras melhor do que a de
toda esta outra gente;
Se um homem é autodomado e vive sempre
controlado,
Nem mesmo um deva, nem duende, nem Mãra
ao Brahmã unido,
Podem converter em derrota a conquista d'um tal ente."

Dhammapada
103-104-105.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Vivendo o Darma, Vivendo o Buda (3)

...Jamais saberemos se somos capazes de alcançar a outra margem de um rio muito turbulento, sem molhar nossas roupas, nosso corpo e nosso barco em suas águas. Somente as grandes tempestades fazem os grandes navegadores e, sem dúvida, são os percalços, não as amenidades do caminho, que moldam e aquilatam a cepa de um discípulo, Toda grande obra depende de grandes atos, e as vicissitudes são, na verdade, a matéria-prima de transformação que almejamos ver concretizar-se. Portanto, devemos sempre nos espelhar na profunda sabedoria do Lótus, que é capaz de transformar o lodo mais escuro numa flor alva e magnífica.
...

Monja Zen A. Zuiten
- Ed. Bodigaya

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Vivendo o Darma, Vivendo o Buda (2)

É extremamente difícil perceber o que empurra nossas vidas em uma determinada direção... As linhas iniciais de uma prece budista expressam isso com as palavras:

"Incontáveis tempos de obscura expectativa preparam este momento de atenta percepção em nossa vida."

Cada pequeno e simples momento que vivemos, na verdade, é como uma semente muito poderosa, capaz de fazer desabrochar todo o seguimento de nossa vida. O hoje depende das sementes de ontem. O amanhã, é semeado exatamente agora. Tudo o que pensamos, sentimos e fazemos é como as nossas sementes, que espalhamos aqui e ali, no jardim das nossas vidas. Quando germinam, elas pavimentam, cobrem o chão do caminho que escolhemos palmilhar (conscientemente, ou não) na existência. Se mantivermos essa clara percepção, ficaremos bem mais vivos e atentos a cada acontecimento que presenciamos, pois ele pode conter sementes maravilhosas. Basta, então, regá-las com a água pura e cristalina da nossa plena consciência. Assim, elas sorriem graciosamente para nós, porque fomos capazes de reconhecê-las e ajudá-las a florescer.
Sem isto, podemos acabar ignorando-as completamente, e desperdiçando a chance de regar as boas sementes do futuro, ou do amanhã, e isso seria profundamente lamentável.

Monja Zen A. Zuiten
- Ed. Bodigaya.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dhammapada

"Que alegria pode haver, qual prazer possível,
quando tudo está sempre ardendo no fogo
do sofrimento, da impermanência e
da insubstancialidade? Recoberto pela escuridão
cego, você não pode procurar a luz!"

Dhammapada 146

Dharmmapada

O que quer que um inimigo possa fazer a um inimigo,
ou um odiento a um odiento,
Pior ainda lhe fará um coração mal dirigido.

O que nem mãe, nem pai, nem outros parentes
podem fazer,
Da melhor maneira lhe fará um coração bem dirigido.

Dharmmapada
42; 43

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Universo

"O Universo é uma jóia redonda é nós a vida desse universo, dessa jóia. Todos nós e tudo, não viemos de fora e nem vamos ficar de fora, não existe fora nem dentro, apenas jóia. O Zen nos leva a realizar e conhecer."

Monge sec.VII, China

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A medida

"Roubam seus sapatos porque você os deixa juntos. Se colocar cada sapato separadamente, um aqui e outro ali, ninguém os roubará". Esta frase foi dita por um senhor na sala de espera masculina de um encontro Zen. Era um funcionário da polícia. A credito que tenha ouvido esse conselho de um preso. No início, pensei que era uma idéia realmente estranha. Mas imediatamente, ao escutar essas palavras, me dei conta de que, tendo aprendido desde pequena a colocar os sapatos sempre juntos, estava estupidamente convencida de que não era possível guardá-los de outro modo.
"No mundo existem outras formas de pensar", refleti maravilhada.
Dizem que em algum lugar de Kyushu, há vários séculos, existia uma aldeia povoada apenas por ladrões. Se tivesse nascido nessa aldeia, naquela época, talvez pudesse ter-me tornado uma ótima ladra e talvez houvesse ensinado as melhores técnicas para roubar e não se deixar roubar, como por exemplo, deixar cada pé dos sapatos separados do outro.
Pensei na boa influência de ter nascido em uma familia religiosa e ter sido educada por manjas budistas. Também percebi que cada pessoa julga as coisas de acordo com sua própria medida. Deveria portanto ter a humildade e a compreensão de não insistir em impor meus julgamentos aos outro.

Shundo Aoyama Rôshi -
Para uma pessoa bonita - Ed. Palas Atenas.

domingo, 7 de junho de 2009

Vento Celestial

....
Qual casa não é visitada pelo brilho da lua e em
Qual morada não sopra a brisa pura? (Hekigan Roku)

A lua projeta sua luz sobre todas as casas e uma doce brisa envolve cada morada. Depende de nós se a recebemos como brisa ou como vento gelado. O problema, no entanto, não é o vento em si,mas aquele que este encontra em seu caminho. Alguém me disse que o vento fio é chamado de vento celestial.
...

Shundo Aoyama Rôshi -
Para uma pessoa bonita - Ed. Palas Atenas.

sábado, 6 de junho de 2009

Contribuição para uma mística Zen

Certo dia, no zazen da noite, não havia nenhum praticante no templo. Nem mesmo o porteiro havia aparecido. O monge fez, como de costume, os preparativos necessários. Acendeu a vela no altar de Monjusri, ofereceu incenso, tocou o sino de madeira, chamando os praticantes inexistentes a subirem, fez o toque no taiko e sentou-se.
Entre as 19 horas e as 20 horas ele poderia fazer o que bem entendesse. Não seria preciso levantar-se exatamente no horário do kinhin e soar duas vezes o sino, já que o templo estava completamente deserto. Na verdade, não seria preciso nem se levantar para o kinhin. Imerso numa serena meditação, ele poderia se dedicar a aprofundá-la a seu bel prazer durante os próximos 40 minutos. Poderia, também, coçar o nariz, ajeitar-se sobre o zafu, fazer qualquer movimento sem correr o risco de incomodar ninguém. Aliás, poderia até falar ao celular ou dar cambalhotas sobre o tatami. Poderia se sentar no lugar do mestre ou poderia tirar uma agradável soneca.
Por que nada disso aconteceu? Seria apenas devido ao senso de disciplina e respeito? Ou porque se tratava realmente de um monge responsável?
O fato é que às 19:25 ele se levantou, tocou o sino, fez o kinhin. Respeitou os intervalos adequados e todos os procedimentos como se o zendo estivesse repleto de praticantes.
E se sentou para o segundo período de zazen. Neste momento, também havia algumas opções. Fazia frio, ele sentia fome e morava longe do templo. Não seria possível acabar o zazen uns minutinhos antes? Só dependia dele.
No entanto permaneceu, como de costume, sentado até as 19:50, quando silenciosa e cuidadosamente se levantou para os procedimentos do final do zazen. Taiko e sinos foram tocados.
Ao final dos procedimentos, colocou-se de frente para o salão vazio e começou a recitar:
"Respeitosamente dirijo-me a vocês. O nascimento e a morte são assuntos importantes. Portanto, atinjam a iluminação nesta vida. Assim peço, não desperdicem tempo".
A quem ele se dirigia? Que monge maluco! Ele fazia essas coisas por senso de dever, disciplina ou hábito?
Qualquer dessas opções faria com que a prática se tornasse algo muito menor do que realmente é.
A resposta viria logo em seguida, com a recitação dos Quatro Votos do Bodhisatva.
Ainda de frente para o salão vazio, o monge recitou:
"Os seres são inumeráveis, faço o voto de salvá-los.
Os desejos são insaciáveis, faço o voto de extingui-los.
Os portais do Dharma são imensuráveis, faço o voto de atravessá-los.
O Caminho da Iluminação é infindável, faço o voto de percorrê-lo".

"Místico", segundo o dicionário, diz respeito a coisas sobrenaturais, sem bases racionais.

O que, então, pode ser mais místico que os Quatro Votos do Bodhisatva? Nada menos racional que se comprometer a salvar todos os seres, sabendo que são inumeráveis! Ou como querer extinguir desejos que são declaradamente insaciáveis? Como atravessar portais que não têm forma ou tamanho? Ou como se dedicar a um caminho que não tem um destino?

Respondam: o monge estava ou não sozinho?

O que dizer do próprio Bodhisatva, essa curiosa figura que renuncia à própria iluminação para ajudar os outros seres a atravessar para a margem da iluminação?! Como podemos nos dedicar a uma prática que busca a iluminação sabendo de antemão que iremos renunciar a ela?!

Tudo isso é intelecto. E o intelecto caracteriza-se por ter limites, jamais poderá apreender o ilimitado, o imensurável, o infindável.

Respondam: o salão estava ou não vazio?

Naquele momento em que recitava esses versos, o coração do monge tornou-se repleto de profunda alegria, de gratidão pelos ensinamentos que ali praticava, de sincera identificação com todos os seres desse mundo, que nada mais buscam que uma vida justa e livre de sofrimento.
É nesse instante que a mística pode surgir. Sob a forma de uma reverência, ou da emoção de vislumbrar o kesá, ou de uma oferenda de incenso etc. Se soubermos preservá-la para fora dos portões do templo, então entenderemos por que quando uma pessoa está em zazen todos os seres também estão, entenderemos por que Shakyamuni declarou que o mundo todo tinha se iluminado juntamente com ele.

Para isso é preciso abandonar as formas do intelecto.

Cultivemos, portanto, incessantemente, a emocionante mística do zazen!

Publicado por Koun Às,
Blog Sangha Margha

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que
parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim
quase seco.

Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia
morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em
silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para
as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava
completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos,
sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como
refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Ás vezes um galo canta. Às vezes o avião
passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu
me sinto completamente feliz.

Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas, e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meirelles

terça-feira, 2 de junho de 2009

O Samurai e o Mestre Zen – A importância de ser você mesmo

Certo dia um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um Mestre Zen.
Embora fosse muito famoso, belo e habilidoso, ao olhar o Mestre, o Samurai sentiu-se repentinamente inferior.
Ele então disse ao Mestre:- "Por que estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei medo algum. Por que estou me sentindo assustado agora?"
O Mestre falou:- "Espere. Quando todos tiverem partido, responderei."Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o Samurai estava ficando mais e mais cansado de esperar.
Ao anoitecer, quando o quarto estava vazio, o Samurai perguntou novamente:- "Agora o senhor pode me responder por que me sinto inferior?"O Mestre o levou para fora. Era uma noite de lua cheia e a lua estava justamente surgindo no horizonte.
Ele disse:- "Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior: 'Por que me sinto inferior diante de você?' Esta árvore é pequena e aquela é grande - este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso."
O Samurai então argumentou:- "Isto se dá porque elas não podem se comparar."
E o Mestre replicou:- "Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é você mesmo. Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se este canto desaparecer."Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na Natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual de vida!"

Enviado por Altair Sensei (Prof de Aikidô)
http://bruxinhadocajado.blogspot.com/2008_08_01_archive.html

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A arte de escutar

A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância. Se você é capaz de manter sua mente constantemente rica através da arte de escutar, não tem o que temer. Este tipo de riqueza jamais lhe será tomado. Essa é a maior das riquezas.

Dalai Lama -
O Livro de Dias, Sextante