terça-feira, 27 de outubro de 2009

Estado Superior e Bondade Suprema (1)

Inclino-me diante do onisciente,
Livre de todos os defeitos,
Ornado de todas as virtudes,
O único amigo de todos os seres.

Ó Rei, hei de expor práticas unicamente
Virtuosas para gerar em vós o Dharma,
Porque as práticas se firmarão
Num receptáculo do Dharma excelente.

Em quem pratica primeiro o estado superior,
Surge mais tarde a bondade suprema;
Pois, alcançado o estado superior,
Gradualmente se chega à bondade suprema.

Considera-se o estado superior como felicidade;
A bondade suprema, como liberação;
Fé e sabedoria constituem, em suma,
A quintessência de seus processos.

Por meio da fé, o homem confia-se às práticas;
Por meio da sabedoria, conhece verdadeiramente;
Da ambas, sabedoria é a principal,
Sendo a fé o seu pré-requisito.

Aquele que não negligencia as práticas
Por causa de desejo, ódio, medo ou ignorância
É tido como alguém de fé — um receptáculo
Digno da bondade suprema.

...
Texto atribuído a Nagarjuna
Do livro "A Grinalda Preciosa".
Traduzido do tibetano e editado por
Jeffrey Hopkins e Lati Rinpoche
com a colaboração de Anne Klein.
Tradução em português de Duílio Colombini.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Oferenda


O céu e a terra fazem oferendas. O as, a água, plantas, animais, seres humanos; todos fazem oferendas uns aos outros. Nós só vivemos fazendo oferendas uns aos outros. Não se trata de saber se você é ou não grato. Ofereça, a todo universo, a atitude de não ser ganancioso. Nada pode ser maior que essa oferenda.

Kodo Sawaki Roshi

O Copo de Água


Nossas vidas estão sempre variando entre felicidade e infelicidade, ou algumas vezes entre felicidade relativa e infelicidade relativa. Ela está se transformando, mudando, e nós ansiamos por um alicerce, uma base de paz e estabilidade. Isso é natural, mas a maior parte de nós passa a vida procurando, procurando , procurando, pela base que nunca encontramos. Podemos achá-la?Sim - se nós compreendermos e lidarmos com o problema envolvido. Até que façamos isso, nós procuramos por uma alicerce fora de nós mesmos, nós buscamos com esperança por uma pessoa ou situação ou sistema de crença que irá nos suprir com o que nós acreditamos que nos falte. As ilusões de amor romântico, do trabalho ou parceiro perfeito, tudo acenando para nós como se fosse a Sereia de Odisseu. Se nós não entendermos, de tempos em tempos, nosso pequeno barco irá espatifar-se nas rochas ocultas. Mas o outro lado de tais desgraças é o amanhecer, o início do reconhecimento de que cada episódio dura na vida pode ser nosso verdadeiro professor, cada dificuldade é, tal como um sutra diz, "o Buda que vem para nos saudar". Nós acordamos lentamente para o conhecimento de que a base espiritual que procuramos não é uma vida para além da desgraça e da dor, mas o abraço entre a desgraça e a dor à medida que eles ocorrem. Se nós quisermos beber de uma água refrescante (da vida), nós não podemos separar as moléculas que nós achamos que serão agradáveis e saborosas para nós. Se fizéssemos (ou pudéssemos)nós não estaríamos bebendo água mas uma monstruosidade de nossa própria criação. De forma similar, se nós recusarmos a experiência direta, e algumas vezes dolorosa, deste momento, nós somos deixados cozinhando em fogo lento em nossa confusão de pensamentos de censura, crítica, julgamento ou fuga. Para conhecer a totalidade da vida, temos de beber todo o copo de água, temos que vivenciar a experiência do momento como ele é, não a versão distorcida dele que minha mente pode engendrar. Uma vez que o copo inteiro não é nada mais do que a totalidade de cada momento - inevitável, sempre presente - quando nós estamos dispostos a vivenciar a experiência de nosso medo e dor diretamente, a totalidade (a base, o alicerce) de nossa vida é revelada como o milagre que é. Simples, sim. Fácil, não. Para a maioria de nós, esta é uma prática para toda uma vida. Entretanto, a base (sempre lá) é mais e mais conhecida para nós como estando lá. A boa vida.

Charlotte Joko Beck -
tradução para português de Mara Heleosina Ribeiro Pessôa.

domingo, 11 de outubro de 2009

Preceitos Budistas (3)

C. Os Dez Preceitos Cardinais

Os Dez Preceitos Cardinais são inseparáveis da Natureza Búdica e de nossos relacionamentos.

1. Eu decido não matar, e sim cuidar de toda forma de vida.
Este preceito expressa a intenção de viver de forma compassiva e inofensiva, e deriva do reconhecimento da unidade intrínseca de toda existência. Quando compreendido em seu contexto mais amplo, “não matar” também pode ser entendido como não causar dano, especialmente não causar dano ao corpo ou a psique de outro. Violência física e comportamento abusivo (o que inclui ameaças física e demonstrações extremas de raiva e malícia) são vistos como uma forma de “matar”.
Conseqüentemente todas as armas de fogo e outras armas projetadas principalmente para tirar a vida não são permitidas dentro dos locais de prática do Centro Zen, e carnes não deverão ser consumidos dentro dos locais de prática do Centro Zen, a menos que tal seja permitido pelo Abade em circunstâncias especiais. Nós também reconhecemos nosso papel, seja diretamente ou em cumplicidade com outros, no aniquilamento de outras formas de vida. Como nós somos uma Sangha, quando questões que incluem o aniquilamento de animais e plantas são levantadas, nós precisamos cuidadosamente considerar as nossas necessidades reais e nossas responsabilidades, para que seja possível trabalhar para o benefício de todos os seres.

2. Eu decido não tomar o que não é dado, e sim respeitar a propriedade alheia.
Este preceito expressa o comprometimento de viver com base em um coração generoso, ao invés de viver com base em uma mente ávida. Este comprometimento está baseado na percepção de que, tal como nós somos, nada nos falta. Em um nível pessoal, o comportamento ganancioso prejudica a pessoa que rouba tanto quanto prejudica a pessoa que é vítima do roubo. Em nível comunitário, roubar pode comprometer ou mesmo destruir o ambiente de confiança mútua para a prática Zen. Aqueles que administram os fundos da Sangha ou outros recursos tem a responsabilidade especial de zelar pelos mesmos e impedir o mal-uso deliberado ou a apropriação indébita destes recursos e fundos, uma vez que o mal uso deliberado e a apropriação indébita são, ambos, formas institucionais de roubo (Favor consultar Seções V, Conflitos de Interesse, e VI, Política Financeira, Proibição de Benefício Privado, no texto infra).
Em adição, nós reconhecemos que o mal-uso de autoridade e status é uma forma de tomar aquilo que não é dado. Dentro da complexa vida da Sangha, vários níveis hierárquicos de autoridade e anterioridade desempenham uma função em determinadas situações. É particularmente importante que indivíduos em posições de confiança não utilizem a sua autoridade como uma forma de obter privilégios especiais, ou como uma forma de controlar ou influenciar os demais de maneira inapropriada.

3. Eu decido não utilizar mal a minha sexualidade, e sim ser cuidadoso e responsável.
Nós reconhecemos que a sexualidade faz parte da nossa prática tanto quanto qualquer outro aspecto das nossas vidas diárias. Reconhecer e honrar a nossa sexualidade é uma forma de criar um ambiente onde relacionamentos conscientes e compassivos podem ser cultivados.
Deve ser tomado um cuidado especial quando pessoas de status desiguais ou níveis desiguais de autoridade iniciam uma relação sexual. Em especial, existem duas formas de relacionamento que podem levar a grande dano e confusão. Cada uma destas formas é considerada uma violação deste preceito.
Em primeiro lugar, todo adulto que se envolver sexualmente com um menor está incorrendo em comportamento sexual inadequado. Evitar relacionamentos desta natureza é uma responsabilidade exclusiva do indivíduo adulto.
Em segundo lugar, é considerado um mal abuso de autoridade, responsabilidade e sexualidade o envolvimento sexual de um professor do Centro Zen com o seu ou sua estudante. Se um professor e/ou estudante sentir-se em risco de violar esta diretriz, ela ou ela deve suspender o relacionamento professor-aluno e procurar aconselhamento com o Abade do Centro Zen e/ou com o Comitê de Aconselhamento.
Antes de formar um relacionamento sexual com qualquer um que é ou recentemente tenha sido um estudante, qualquer Instrutor, o Responsável pelo Zendo, qualquer Líder Afiliado, ou qualquer outra pessoa em uma posição formal que possa acarretar claras vantagens ou influência sobre outros, deverá discutir com o abade se este potencial relacionamento é adequado e correto. O Abade, antes de formar um relacionamento desta natureza, deverá discutir com o Comitê de Aconselhamento se este é adequado e correto. É também considerado um mal uso da sexualidade o envolvimento sexual de um professor do Centro Zen com um ex-estudante antes do término do prazo de um ano, contado a partir do término do relacionamento professor-estudante .
Um cuidado especial deve ser tomado com novos membros do Centro Zen. Nós acreditamos que um novo membro demora aproximadamente seis meses para estabelecer os fundamentos da sua prática e começar a entender a complexa natureza dos relacionamentos internos da Sangha. A fim de proteger a oportunidade de prática que todo novo membro tem, nós esperamos que qualquer membro com mais de seis meses de prática aja com especial cuidado antes de formar um potencial relacionamento com qualquer pessoa durante os primeiros seis meses da sua participação, como membro, das atividades do Centro Zen.
Qualquer pessoa que vier ao Centro Zen, em qualquer condição, tem o direito de não ser assediado sexualmente. Continuar expressando interesse sexual, após ser informado de que tal interesse não é bem-vindo, também é considerado um mal uso da sexualidade (Ver Seção II, Relacionamentos Bilaterais, e Seção III, Assédio Sexual, no texto infra).

4.Eu decido não mentir, e sim falar a verdade.
O preceito “não mentir” é particularmente importante para a vida comunitária de uma Sangha. Apesar de as transgressões éticas poderem envolver qualquer um dos preceitos, muitas dessas dificuldades não surgiriam se não houvesse um elemento de falsidade envolvido. Mentir para si mesmo, para outro ou para a comunidade obscurece a natureza da realidade e cria obstáculos à prática do Budismo. Mentir pode incluir a retenção intencional de informação, meias-verdades, a criação deliberada de falsas impressões, e não corrigir abertamente as mentiras.
Uma comunicação aberta e direta é essencial em nosso trabalho e prática comunitária. Nós temos direito à informação completa e direta quando nós solicitamos avaliações sobre nosso comportamento, posição, ou desempenho no seio da comunidade. Com nossa solicitação esperamos que esta informação seja dada com um espírito de honestidade e compaixão.
Estudantes no Centro Zen deveriam sentir que eles podem praticar livremente em uma atmosfera de confiança. Os professores e líderes de prática do Centro Zen não devem revelar informação recebida em dokusan, daisan, ou em discussões onde a confidencialidade é solicitada e concedida, a não ser que sério dano possa resultar à indivíduos ou à Sangha se esta informação não for revelada. Mesmo quando não há solicitação específica de reserva, estas informações não devem ser partilhadas casualmente em nenhuma circunstância por nenhuma das pessoas envolvidas na conversação. No contexto do processo de ensinamento, entretanto, consultas entre professores sobre assuntos que não são estritamente confidenciais podem ser apropriadas, particularmente quando membros da equipe de funcionários estão envolvidos. Todos aqueles que se envolverem nestas consultas deverão fazer todo esforço para assegurar que isto é feito de forma sensível, justa e respeitosa.

5. Eu decido manter a minha mente clara, não abusar do álcool ou outros intoxicantes, e nem levar os outros a fazê-lo.
A prática budista ocorre dentro de um contexto de consciência e plena atenção, um estado de mente que não é condicionado por tóxicos de nenhum tipo. Quando a claridade é perdida, é muito fácil violar os demais preceitos. Além disso, nós pretendemos que o Centro Zen seja um ambiente que apóie aqueles que estão tentando viver sem tóxicos. Portanto, álcool e intoxicação por drogas no Centro Zen é inapropriado e constitui causa de preocupação e possível intervenção.
Quando um membro está envolvido em uso abusivo de drogas ou se torna dependente das mesmas, é importante lembrar-lhe que a liberação de todos os apegos está no coração da prática Budista, e que se espera que ele ou ela busque ajuda dentro e/ou fora da Sangha. Uma vez que a negação dos fatos é freqüentemente um sintoma de dependência, a Sangha é encorajada a ajudar pessoas dependentes a reconhecer a necessidade de auxílio.

6. Eu decido não falar sobre as falhas de outros, mas sim ser compreensivo e solidário.
Este preceito deriva de nossos esforços para construir harmonia social e compreensão mútua. Declarações falsas e maliciosas, por sua própria natureza, são atos de alienação que originam-se de uma percepção ilusória de oposição entre “eu” e “outros”. Geralmente a injúria traz como conseqüências a dor para os outros, e a fragmentação para a Sangha. Quando surgir a intenção de injuriar, esforçar-se para compreender as raízes deste impulso já uma expressão deste preceito. E mesmo quando uma afirmação difamatória é consistente com os fatos, aqueles que se engajarem em criticismo gratuito podem ser feridos pela influência negativa que resulta do ato de falar de forma insistente nas falhas de outras pessoas.

7. Eu decido não enaltecer a mim mesmo e desfazer os demais, mas sim superar as minhas próprias limitações.
Enquanto que alegrar-se com nossas melhores qualidades e feitos é uma prática Budista consagrada pelo tempo, elogiar a si mesmo ou buscar um ganho pessoal às custas dos demais é uma atitude derivada de uma compreensão equivocada da natureza interdependente do “eu”. No Centro Zen, poderá ser necessário, em alguns casos, criticar a ação de certos indivíduos ou grupos. Quando tal é feito, nós devemos prestar atenção especial aos nossos motivos, ao conteúdo específico do que é dito, a quem é dito, e às potenciais repercussões da crítica.

8. Eu decido não sonegar ajuda espiritual ou material, mas conceder-las gratuitamente quando necessário.
Todas os cargos no Centro Zen, incluindo a função de Abade, existem para o apoio da prática e despertar de todos. Nem os recursos do Centro Zen nem qualquer posição dentro do Centro Zen são posse de alguma pessoa específica. Não é apropriado para qualquer um, especialmente um professor, usar seu relacionamento com o Centro Zen para obter vantagem pessoal às custas da Sangha ou de qualquer um de seus membros (Ver Seção V, Conflitos de Interesse, e Seção VI, Política Financeira – Proibição de Benefício Privado, no texto infra).
No espírito de desprendimento, grupos de tomada de decisão no Centro Zen devem tomar decisões conjuntas de forma cooperativa, e com um esforço sincero de levar em consideração todos os pontos de vista. É importante que as finanças do Centro Zen, a estrutura do processo de decisão, e as atas dos órgãos mais importantes de decisão sejam disponibilizadas à todos de uma forma acessível e compreensível.

9. Eu decido não me entregar à raiva, mas sim praticar a paciência.
O cultivo da má-vontade é um veneno para indivíduos e para a comunidade. Ainda mais corrosivo é o cultivo de idéias de vingança. Os membros da Sangha que estiverem em conflito ou tensão com outros membros ou com qualquer grupo de tomada de decisão do Centro Zen devem tentar resolver estes impasses diretamente em espírito de honestidade, humildade e de amor-bondade. Entretanto, se uma resolução informal não é viável, a mediação deve ser buscada como uma forma de esclarecer a dificuldade.

10. Eu decido não desrespeitar Três Tesouros (Buda, Dharma e Sangha), mas sim nutri-los e sustenta-los[1].
Como os Três Tesouros são inseparáveis uns dos outros, o despertar modela a nossa prática e a nossa vida comunitária, a prática modela a nossa vida comunitária e o nosso despertar, e a vida comunitária modela o nosso despertar e a nossa prática. O desrespeito a qualquer um dos três tesouros acarreta também danos para os outros dois.
Reconhecer as nossas transgressões, buscar reconciliação, e renovar o nosso compromisso com os preceitos é o trabalho da Natureza Búdica e a reafirmação nosso lugar na Sangha. Quando a integridade da Sangha é honrada e protegida, os Três Tesouros se manifestam.

Fonte: Centro Zen de Rochester
(Tradução de Francisco Scherer; Revisão de Giovanni Kakugen)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Preceitos Budistas (2)


B. As Três Resoluções Gerais

As Três Resoluções Gerais são inseparáveis da prática budista ensinada no Centro Zen. Eles representam a aspiração de qualquer seguidor do Caminho de Buda.

1. Eu decido evitar o mal. Evitar o mal significa abster-se de dano a si mesmo e aos demais – ou a animais, plantas ou à Terra – por meio de nossos pensamentos, palavras e ações.

2. Eu decido fazer o bem. Fazer o bem significa agir com base na compaixão e equanimidade de nossa natureza desperta. Como parte de nosso esforço para viver eticamente, nós abraçamos as práticas Mahayanas da confissão, do arrependimento, reparação e reconciliação.

3. Eu decido libertar todos os seres sencientes. Libertar todos os sencientes significa manifestar a nossa Natureza Búdica para o benefício de todos. Quando nós expressamos a nossa natureza desperta, nós damos aos demais a oportunidade descobrir a sua própria Mente Verdadeira.

Fonte: Centro Zen de Rochester
(Tradução de Francisco Scherer; Revisão de Giovanni Kakugen)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Preceitos Budistas

Os dezesseis preceitos são uma parte tão íntima da prática Zen que eles tem sido descritos como sendo a “veia” da linhagem ancestral. Os preceitos podem ser entendidos em muitos níveis: como apoio para a prática do despertar, como ambiente para esta prática, e como expressão do despertar propriamente dito. Embora os preceitos possam ser entendidos de diferentes pontos de vista – por exemplo, que nós não podemos seguir de forma perfeita os preceitos, ou que nós já somos completos da maneira como nós já somos – nós não acreditamos que a prática Zen pode existir na ausência dos mesmos.

A. Os Três Refúgios

Os três refúgios representam a fundação e a orientação de nossas vidas como seguidores do Caminho de Buda.

1. Eu tomo refúgio no Buda. Ao tomar refúgio no Buda, nós reconhecemos a Natureza Búdica de todos os seres. Embora haja diferentes níveis de autoridade administrativa e religiosa no Centro Zen, nós reconhecemos que todos nós somos, igualmente, a expressão da Natureza Búdica.
2. Eu tomo refúgio no Dharma. Ao tomar refúgio no Dharma, nós reconhecemos a sabedoria e a compaixão do modo de vida Budista. É através do Dharma que nós exprimimos e tornamos acessíveis os ensinamentos de Buda tal como nos foram transmitidos através da linhagem de nossos professores. O termo “Dharma” é freqüentemente traduzido como “Lei”, e nesta perspectiva nós podemos ver os ensinamentos de Buda como diretrizes para nosso comportamento em todas as áreas de nossas vidas.
3. Eu tomo refúgio na Sangha. Ao tomar refúgio na Sangha, nós reconhecemos o importante papel que a vida comunitária do Centro Zen desempenha na nossa prática. A fim de que a Sangha seja um refúgio, nós aspiramos criar um ambiente inclusivo, com espaço para compreensão e aceitação de nossas diferenças. Ao mesmo tempo, nós trabalhamos para implementar a percepção de que a Sangha e seus membros não são entidades separadas. Uma comunicação aberta e permanente dentro da Sangha é essencial para que seja criado este refúgio. Quaisquer preocupações ou conflitos éticos devem ser integralmente ouvidos e apropriadamente discutidos.

Fonte: Centro Zen de Rochester
(Tradução de Francisco Scherer; Revisão de Giovanni Kak
ugen)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os fantasmas do zazen Que tipo de zazen fazer?

Com freqüência ouvimos dizer de um ou outro: “o zazen de hoje foi bom”. O que quer dizer isso? Suponho que seja um zazen tranqüilo, sem dores nas pernas, com a mente mais concentrada. Na verdade, o que falta é uma prática mais intensiva de zazen. Não fazemos zazen para relaxar a nossa mente, nem para tornar as pernas mais flexíveis. Fazer zazen uma vez por semana é pouco, mas muito para quem faz uma vez por mês. Fazer duas vezes por semana é melhor do que fazer uma vez só. Mas duas vezes por semana pode ser pouco para quem faz três vezes ou quatro. Fazer zazen deve ser encarado como uma atividade normal como respirar, comer, tomar água, fazer as necessidades básicas exigidas pelo corpo.

Entretanto, por algum motivo, o zazen é encarado como uma atividade especial. Nem respirar, nem comer são assuntos especiais, pelo contrário. Se o zazen for realizado sem inserção em nossa rotina, então começaremos a falar “o zazen de hoje foi bom”, o “zazen de hoje foi difícil”. Esta separação em bom e mal só cria mais confusão ainda. Só existe o zazen do dia, independente de sua categoria. O zazen só deve ser realizado como parte de uma atividade comum, tal qual respirar, comer... Talvez deva se fazer o zazen sem ao menos pensar em estar fazendo zazen.<

Tem se ensinado com freqüência: “Quando você se senta sem zazen, impreterivelmente os pensamentos surgem. Quando acontecer isso, não toque no pensamento. Se o pensamento for agradável não o agarre para se lembrar depois. Se o pensamento for desagradável não o expulse. Deixe o pensamento vir, deixe o pensamento ir. Assim penetrem mais fundo no zazen e acabem com a dualidade. Tornem-se um com o universo”.

Desconheço o motivo, mas quando classifica-se o zazen de “bom” e “mal”, estamos esperando uma intenção no sentarmo-nos em zazen. Esta intenção é dispensável. Ainda que todos os zazen sejam mal, continuem sentando-se. O zazen “mal” pode ser, talvez, uma falta de concentração. Se isso for verdade, a dificuldade pode ser sanada por mais treino da mente e do corpo fazendo zazen. No caso, treinar a mente é tão importante quanto ao atleta que deve treinar o corpo. Um velocista tem de treinar muito a flexibilidade das pernas, os músculos, a velocidade e a mente. Da mesma forma, o praticante de zazen deve fazer zazen. Quanto mais se faz zazen, terá mais chances de conhecer a si próprio, de treinar a concentração, apaziguar os fantasmas da mente, controlar a respiração, disciplinar a ansiedade e diminuir a dor.

Mas não é tão fácil assim. Principalmente para aqueles que não tem o costume de sentar-se em zazen, ou senta-se pouco, esta prática requer uma disposição maior. Não se pode ensinar alguém a fazer zazen, sendo as dificuldades os momentos de melhor aprendizagem. Não obstante, arrisco-me em dar alguns conselhos. Os conselhos podem ser seguidos ou não. Eis a sugestão: no meio do zazen somos assaltados pelos pensamentos e, por alguns instantes a divagação nos arrasta numa cadeia incontrolável de emoções; a mente turva-se e torna-se impura; a pureza da mente é retomada quando me dou conta do que ocorre e imediatamente corto o ciclo do pensamento, alinho a coluna e respiro profundamente levando o ar ao abdômen e solto demoradamente pela boca. Faça isso e a mente se acalmará em instantes.

Se soubessem como o zazen é importante para a nossa qualidade de vida, de descondicionamento mental, do entendimento do dharma, da descoberta da compaixão, enfim da senda da Iluminação, não perderiam tempo com frivolidades. Ainda que em cada final de zazen repitamos “a vida e a morte são assuntos importantes, não percam tempo, iluminem neste instante”, continuamos deludidos. E a nossa delusão se tornou um apego. É uma pena, é uma pena. De qualquer forma, o momento para o entendimento não aconteceu ainda...

POSTADO POR JISHO -
http://sanghamargha.blogspot.com/